No outro dia contei que quando fui ao supermercado trouxe um little vasinho com uma hortênsia? Acho que sim. Tinha ideia de pô-la num vasinho ma escadinha da frente, perto do vaso bonito onde está a suculenta jeitosa. Mas não sabia onde arranjá-lo. Hoje, de manhã, quando dei por ela estava a florzinha toda murcha. Não as folhas mas a flor em si. Fiquei aborrecida. Peguei no vasinho e pu-lo no lava-louça, debaixo da torneira. E resolvi que tinha que arranjar o vaso. Sem saber onde desencantar vasinhos lindos, pensei que, nem que fosse de cimento ou terracota, haveria de ter onde instalar a hortênsia.
Ora é sabido que é o tipo de coisa que tira o meu marido do sério: acha que não são precisas nem mais flores nem, claro está, mais vasos. Não quer ir comprá-los, não quer que eu vá aumentando o parque de vasos a regar. Mas eu disse que, sem problema, ia sozinha. Ficou ainda mais irritado, acha que eu dizer isso é uma forma de pressão. Mas não é. Resumindo: contrariado, à hora de almoço, avisando que era 'para despachar', lá fomos à loja dos vasos.
Ao chegar lá, mal estacionou, repetiu: 'É para despachar'. Nesse comprimento de onda, ao chegar lá, olhei em volta e inclinei-me para um em forma de cálice. em cimento. Perguntei-lhe o que achava. Seco: 'Não gosto. Parece coisa de igreja'. Pedi que escolhesse ele. Disse que não, que pegasse num qualquer, que por ele qualquer um servia. Isto depois de ter rejeitado a minha primeira opção. Apontei outros. Disse que sim. Trouxe um simples, sem história.
Quando íamos para a caixa, vi no corredor, no chão, um vasinho de cerâmica esmaltada, bonito. Fui perguntar à empregada se era para venda. Nem sabia do que estava a falar. Descrevi-o. Disse que havia vasos de louça ao fundo da loja. Fui ver e, apesar de não encontrar nada das belezuras que gostava de trazer, descobri um verde, simples, discreto e bonito. Perguntei ao meu marido se gostava. Já estava farto, queria ir-se embora, pelo que a resposta foi curta: 'Não sei'. Eu disse que achava bonito. Ele: 'Faz o que quiseres.
Trouxemos.
Depois de termos chegado da faena dos vasos e quando estávamos a almoçar, já perto das duas, o meu marido piurço porque já era tarde e tinha muito que fazer, chegou a minha filha com os seus rapazes. Três dias de férias que teve a sorte de gozar com um fantástico tempo de verão. Estiveram ali um bocado, à fresca no jardim, até que se fez horas de irem para a praia. Andarem a espantar formigas e a tirar a casca a pinhões. O mais crescido já me ultrapassou. Parece mentira mas é verdade. A voz já começa a dar sinais de querer mudar e, quando se veste e despe já tem vergonha que lhe vejamos a pilosidade que começa a despontar com força. Ainda há tão pouco tempo me fez pregar um susto dos valentes ao avô. Já contei mas gosto de recordar esse dia inaugural. O meu marido foi trabalhar mas eu não. Estava na clínica. Uma pilha de nervos. Quando soubemos que tinha nascido, que estavam os dois bem e quando a vi a sair na maca sorrindo, feliz, feliz e quando vi o bebé pequenino, fofo, querido, fiquei tão avassaladoramente emocionada que logo quis dar a novidade ao meu marido mas, quando quis falar, não consegui. Queria dizer-lhe: já és avô. Mas só chorava. E nem bem isso. A voz embargada, um solução prendendo as palavras. Do outro lado, ele assustado: Que é que aconteceu? E eu, querendo falar e sem conseguir. O que foi? O que aconteceu? e eu a perceber que estava a assustá-lo mas sem conseguir falar. Até que, com muito esforço, lá consegui. Uma felicidade imensa. Um novo serzinho nas nossas vidas e a minha filha também tão feliz.
E agora, meia dúzia de dias depois, já me põe o braço pelos ombros, encosta a sua cabeça à minha, uma ternura, um menino muito querido. E já mais alto que eu.
A tarde foi tranquila e concentrei no fim da tarde as tarefas que requeriam mais atenção. Depois fui buscar terra e transplantei o meu vasinho pequenino para o vaso novo. Acho que fica ali bem. Não é a mesma coisa que o outro mas acho que não desmerece.
E fui regar os outros vasos.
Também tive uma visita ao fim da tarde. Uma conversa animada, cheia de revelações e risos, com um lanche apalavrado.
Tirando isto, o que tenho a dizer é que o sentido de humor britânico do ministro da Saúde me parece delicioso. Tendo o The Sun publicado fotografias dele, no seu gabinete de trabalho, aos beijos na boca e com a mão no rabo de Gina Coladangelo, sua assessora, ambos casados e com filhos mas cada um com seus respectivos cônjuges, eis que Matt Hancock veio publicamente assumir e lamentar que tenha quebrado o distanciamento social. Igualmente divertido a reacção de Boris Johnson: accepts Matt Hancock’s apology for breaching social distancing rules and ‘considers matter closed’.
E eu, para além de achar que, depois da barracada e do susto que é ter a sua fotografia no tablóide, Matt Hancock revelou um sentido de humor fantástico, só me ocorreu a sorte que ainda temos por a imprensa em Portugal ainda não ter chegado ao despudor de apontar objectivas de longo alcance para dentro dos gabinetes de muito boa gente. É que, há uma regra sagrada: o que se passa da porta para dentro supostamente fica da porta para dentro. Mas não no Reino Unido. Uma pouca vergonha.
Mas imagine-se a chicana que por cá não seria -- as puritanas as rasgarem as vestes e os diáconos a lamberem-se pelos cantos -- se o Correio da Manhã apanhasse um ministro, sei lá, talvez o da Defesa (acho que o Cravinho tem uma certa pinta), aos beijinhos e abraços com uma sargenta, fosse num quartel, fosse no seu gabinete. Mas isso seria o expectável. Pinta, pinta, teria o ministro se, perante a cegada e o drama doméstico incontornável, fizesse o mesmo: pedisse desculpa por ter quebrado a regra do distanciamento social.
Enfim.
E, por agora, é isto. Já é sábado. Fim de semana. Bem bom. A ver se o tempinho de verão se aguenta para ver se eu faço de conta que estou de férias.
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Os quadrinhos mostram a criatividade de Ali Beckman que diz coisas recorrendo ao nome dos insectos (fly, bee).
Arpi Alto interpreta Moon River.
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Um dia feliz e luminoso
4 comentários:
Bom dia!
Maravilhosas as piadas com fly dentro.
Também acho graça às reações do seu marido nas compras de vasos e afins. Onde é que já vi e ouvi isso????
E a hortênsia ganhou novas forças?
Eu não estranharia que fosse o seu bon compagnon de route a reparar.
Um fim de semana também luminoso.
Gosto muito de hortênsias, mas tenho ideia (talvez errada) que não se dão no clima algarvio. Um dia ainda arrisco a comprar um vaso delas. :)
Ah e adorei descobrir os insetos da Ali Beckman.
Bom fim de semana UJM.
Olá Maria Dolores,
Sim, a minha florzinha remoçou. A água fez-lhe muito bem. Já está no seu vasinho novo. Ou hoje ou amanhã mostro. A ver se acerto na quantidade de água. Gostava que ficasse compostinha.
O meu marido não está convencido com as flores que pus ali. Ele é minimalista. Escadas=escadas vazias. Eu não. As escadas são largas. Acho que ficam bem com uns vasinhos na ponta, discretos e equilibrados. Por isso, estou a torcer por que a hortênsia floresça e fique linda senão vou ter que aturar protestos e resmungos.
Espero que tenha um domingo feliz, sem protestos ou resmunguices...!
Olá Luísa,
A minha mãe tem um canteiro numa zona do jardim que não apanha muito sol e elas estão lindas, floridas, frondosas. Eu tenho um vaso grande na zona da horta, um vaso que cá estava. Está também numa zona em que a sombra prevalece. Ficou seco e eu estava desolada, pensava que tinha deixado perdê-la. Pois agora ressuscitou, está florida, muito bonita. Ainda não me informei sobre a melhor forma de as tratar mas a minha mãe disse-me que tinha um adubo próprio para elas e que me vai dar.
Experimente, Luísa. São tão bonitas. Aliás, as flores são todas tão lindas. Tudo na natureza é uma maravilha. Aliás, ninguém o fotografa tão bem quanto a Luísa.
Um bom domingo!
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