sexta-feira, abril 23, 2021

Clarice

 


Não sei quando li Clarice Lispector pela primeira vez nem como foi que soube dela. Se calhar, descobri-a acidentalmente numa livraria. Mas já foi há muito tempo.

Foi um choque.

Era uma escrita visceral. Alguém escrevia como a gente pensa e sente mas não diz. Lia aquelas palavras  sem conseguir compreender como era possível uma escrita assim. Era tudo muito íntimo, muito drástico, muito cru e, ao mesmo tempo, muito vital. E muito espiritual.

Não sei o que diz dela quem sabe o que diz quando se fala de um escritor como Clarice. Não sei, pois, sei se estou a ser correcta no que digo. Posso estar a ser parcial, imprecisa, a ver apenas uma ínfima parte do que há para ver, posso estar a exprimir-me mal. Mas, sinceramente, não sei como melhor dizer o que acho da escrita desta escritora que situo acima do comum dos mortais. Dá ideia que levita, que a banalidade do mundo não a interessa, que ignora a superficialidade, que paira num outro mundo, tão ausente depois de morta do que era quando viva.

Para se gostar dela tem que se ter o coração e a mente disponíveis. Tem que se ter vivido. Tem que se ter conhecido qualquer coisa do mundo. Tem que se ter tempo para a acolher.

Gostava de a ter conhecido. Gostava de ter podido estar na sua presença, conversar com ela. Gostava tanto.

Por isso, gosto de ler e ouvir sobre ela. A palavra a quem a conheceu: alguns que encontrei. Espero que gostem. E, para quem ainda não leu nada dela, espero que fiquem com vontade de ler.











E, uma vez mais, este vídeo que acho delicioso



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Respectivamente:

  • Entrevista rara de Clarice Lispector | Museu da imagem e do som em 1976
  • Alunos de Letras da USP 1970 entrevistam Clarice Lispector
  • Clarice Lispector | Poesia e prosa com Maria Bethânia e Caetano Veloso 
  • O grande amor de Clarice Lispector | Lúcio Cardoso
  • Conselhos de Clarice Lispector para escritora Lygia Fagundes
  • Chico Buarque relata noite de jantar com Clarice Lispector
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Uma happy thanks-god-it's-friday

5 comentários:

Diogo Almeida disse...

A Lispector assusta-me por boas e más razões; mas começo a associá-la às más. Então? Ela conhecia perfeitamente as entranhas do Mal, e, se o posso dizer, amava essa inquietude maligna. Amava espíritos tortuosos, espinhosos. Na escrita dela, creio que isso bate no leitor de uma forma, pois sim, visceral, quase num sentimento alienígena.

(e só concordará comigo quem conhece essas veredas)

A rapariga também tem coisas solares, calma!!!

Diogo Almeida disse...

Devo acrescentar que o único espírito humano que me assustou tanto como Clarice foi/é Nietzsche. Mas a Clarice é superior, porque coloca essa liberdade selvagem ao sabor de história literária, é preciso empenho do outro lado - são encontros; enquanto o Shôr Nietzsche é mais dado a profetizar, lançar confusão, ralhar e mandar bocas/panfletos foleiros.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Rica UJM,
Muito interessante a sua partilha.

Hoje fui a Lisboa, cheguei há pouco, apanhei boas chuvadas pelo caminho na volta, mais aqui para a minha zona espreitou um belo sol por entre as nuvens e formaram-se dois arco-íris.

Um belo fim-de-semana.

redonda disse...

A escritora Lygia Fagundes Telles é da minhas escritoras preferidas sobretudo pelo seu livro As Meninas, mas também por Ciranda de Pedra e pelos contos.

Anónimo disse...

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