segunda-feira, janeiro 11, 2021

Maria, a sedutora

 

O dia foi o do costume, a rasar a linha de água. Nem sim, nem sopas, nem bom nem mau. Faz-se o que há para fazer e, enquanto isso, o tempo vai passando. Pode ser que um dia me habitue a viver assim, sem falta de tempo, sem nada que fazer. Se estivesse calor ia para a rua, punha-me ao sol. Assim, com o frio que está, nem a rua me chama. 

Já pensei ir buscar um tapete de arraiolos que tenho incompleto e voltar a tornar-me bordadeira. A questão é que já não tenho onde pôr mais tapetes e fazer por fazer não me interessa. Aliás, ter até talvez tivesse mas seria uma situação forçada e aborrece-me usar o tempo com coisas de utilidade duvidosa. Podia usar o tempo livre de uma qualquer outra forma útil mas ainda não aprendi a usar tempo livre. A casa está limpa, não vou limpá-la de novo. Há folhas secas no terraço mas não vale a pena varrê-las pois o vento está a todo o momento a trazer folhas novas. Não é preciso regar. Cozinhei: costeletas, ao almoço, com arroz. Ao jantar, pizza. Tinha uma pizza margherita congelada. Juntei-lhe um pouco de fiambre, mozzarela em quantidade generosa, bocadinhos de bacon, tomate cherry, orégãos, sementes variadas, azeite, um fio de mel. Levei ao forno. Estava boa. Acompanhámos com salada. A seguir comi um diospiro que, gulosa, incorrigível gulosa, acompanhei com gouda.

Tenho três livros aqui comigo. Vou lendo. Contudo a indolência, quando toma conta de mim, tira-me a vontade até de ler. Devia hibernar a sério. Se bem que hibernar também não é garantia de nada. Li que 14 freiras em clausura, cada uma em sua cela, sem contactos com o exterior, estão todas com covid. Penso que a chave que desvenda o mistério está umas frases mais à frente, quando se diz que os dois párocos capelães vão mudar-se para casas isoladas. Tal como o jornalista que escreveu a notícia, também eu não comento. 

O que digo é que não vejo a hora de estar calor, de não haver perigos. Ainda não interiorizei a necessidade de andar sempre a desinfectar as mãos, ainda não me habituei a estar bem de máscara. Hoje de manhã fomos à outra casa ver se está tudo bem, trazer correio. Aproveitei para ir à lojinha lá perto comprar batatas, cebolas, feijão verde, mais diospiros. Andei sempre de máscara. Quando liguei à minha mãe, ela preocupou-se: 'Então, agora também estás rouca?'. Não. Ou melhor, sim. Andar de máscara seca-me a boca, o nariz, a garganta. E com a garganta desidratada fico rouca. Quando cheguei a casa bebi água, fiquei normal. Porcaria de máscara. Mas isto não me acontecia... agora até a porcaria da máscara me desidrata.

Bem. 

Tirando notícias que me deixam intrigada e a ter que disfarçar o sorriso como a acima referida das freiras ou aquela de ter aparecido um esqueleto atrás do porco imundo quando estava a discursar no Cineteatro de Serpa,  a única coisa que me desperta interessa são os vídeos que o algoritmo do YouTube me sugere. Agora foi uma entrevista com Maria Bethânia. Não há muito estive a vê-la no Coliseu. Espectáculo extraordinário. Esta entrevista aqui abaixo é longa mas vale cada minuto. Revelações inesperadas. 

Quem diria?  Bethânia, uma namoradeira? Bethânia, uma sedutora? E... de alto calibre...? Mas não é só isso, claro. São as histórias com os manos, com os amigos, com o Chico, claro. Buarque, como ela o trata. Para ele, ela é Maria. Mas a forma como ela o diz. Sobrenatural.


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Abaixo poderão encontrar Chico a falar do jantar com Clarice

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

2 comentários:

João Lisboa disse...

O mistério está desvendadíssimo: https://lishbuna.blogspot.com/2021/01/o-distanciamento-fisico-e-tal.html

Um Jeito Manso disse...

Olá João,

E será que nem ao menos vamos ter umas novas cartas alcoforadas...? Só mesmo o corona...?

:)