sábado, janeiro 30, 2021

Então não é que vi uma chouette de verdade...?

 


Estou em crer que as televisões são o grande partido da oposição ou as grandes forças da desestabilização do país. Ou melhor: os fiéis seguidores da religião do bota-abaixo e os porteiros de serviço ao populismo. Manipulam as notícias, não sei se porque a inteligência não chega para perceber tudo e, portanto, deturpam a realidade ou se porque acham que rende mais se empolarem e infectarem a opinião pública. Seja como for, é nefasto. Quanto às redes sociais, felizmente a sua frequência é mal de que não padeço pelo que, se deformam mentalidades, estou fora.

Quanto às televisões, não vejo muito, apenas um pouco à noite mas, se não encontro melhor alternativa, passo-me com a gandulagem encartada que é convidada para lá opinar. Gente que não dá uma para a caixa. Sempre com voz muito doutorada dizem disparates atrás de disparates. Reinterpretam o que se passa, reescrevem o que estamos a viver, inventam narrativas. E depois há chusmas de outros que comentam o que os outros comentaram indo toda a gente atrás do primeiro que disparatou. Disparates virais.

Passei na Sic N e, para além do putativo-sábio mano-Costa, até a Cristas ali vi. Só vi uma intervenção da dita mas do que vi constato que continua burrinha como nos tempos em que assinou de cruz e sem pestanejar o fim de um dos grandes grupos económicos do país. Com sorriso beato e a convicção dos néscios, continuar a afirmar convictamente os maiores disparates. Depois de termos assistido durante anos às severas limitações do seu intelecto, eis que o mano-Costa ali a tem a fazer de conta que tem neurónios na cabeça. Porque o faz? Porque ainda não conseguiu perceber que ela não acrescenta nada? Ou porque acha que quanto mais burros os que lá leva mais confusão lançam... e nada melhor em televisão do que a confusão? Não sei, apenas pergunto.

Do outro lado, num outro canal, está aquele jeitoso que se acha o máximo e que, com ar pedante, só diz coisas que não sei se é pelas parvoíces que diz, se é pelo sorrisinho superior, só dá vontade a gente encher-lhe os fundilhos de pastilha elástica mastigada e pregar-lhe uma folha a4 às costas do casaco  dizer: sou um ganda parvalhão. Ao lado dele, outra que se acha o máximo e que, só pela forma como se desdobra em evidência de superioridade, me obriga a mudar de canal. É outro dos grupos que opinam em grupo há séculos e em que me não sei qual o critério: um porque é de direita, outra porque é socialista, outra porque é de esquerda-esquerda e outro porque paira por ali, sempre sorrindo? Ou um porque é parvo, outra porque tem a mania que é boa, outra porque é uma fofa e outro porque é um pachola? Não sei mas olhando para o moderador tudo é possível.

Quando dava o MasterChef Australia eu tinha o meu naco de boa televisão garantido. Agora nem percebo o que é aquilo. O MasterChef Brasil. Nos antípodas. Aqui, agora, tudo gente que não faz a mínima. Desajeitados, inexperientes, sem ponta por onde se pegue. Nem percebo qual a lógica daquilo que ali se passa. Fazem cozinhados que não lembram ao diabo, a bancada desarrumada, eles desorientados. O próprio júri é do além. Não consigo aguentar-me ali. Zappo.

Obviamente pelo Big Brother tento nem sequer passar. Se sempre foi coisa de lúmpen, agora que todo o canal levou banho de cristina é coisa pela qual não se pode nem passar perto. Desqualificou de vez. E digo isto com a segurança de quem nunca viu um único programa da deslumbrada e esguinchadora criatura. Só de a ver, de raspão, a fazer anúncio aos seus programas já fico com brotoeja. Muito, muito mau. Não é apenas ela que está em trajectória descendente: vai dar cabo da TVI.

Entretanto, nesta minha fuga para a frente, ao voltar ao passar pela Sic N já tinha acabado o Expresso da Meia-Noite e já lá estava aquele outro grupinho que não se aguenta a começar pelo zero à esquerda que Marcelo, num dia de forte pancada na cabeça, convidou para uma função que até aí tinha sido desempenhada por gente com alguma elevação. Não consigo. Salva-se, pela moderação, mas é uma salvação relativa, o Mexia mas os que o ladeiam são maus de mais: um porque é de tal forma limitado que não sabe o que diz, apenas sabe dizer baboseiras sobre pessoas cuja linguagem ele não percebe, e outro porque acha que vale tudo e lambuza toda a gente de má-língua fazendo de conta que é humor. 

Uma intoxicação. 

Felizmente ainda me sobra algum ânimo para fugir desta praga. Contudo, os dias frios e húmidos não ajudam e o confinamento ainda menos. Já está a passar o primeiro mês mas o facto de não saber quanto mais tempo disto temos pela frente tira-me alguma boa disposição. 

O meu filho já nos arranjou uma solução para os frescos e isso tira-me um peso de cima. Com sorte, nas próximas semanas talvez não precisemos de ir ao supermercado já que tenho o congelador cheio e produtos de higiene e limpeza com fartura. Era mesmo o conjunto dos legumes para a sopa e para os acompanhamentos, alguma fruta e algum pão que me estava a faltar e a fazer ir ao supermercado todas as semanas. Mas, por outro lado, ao ter-nos arranjado um fornecedor, ficamos sem o único lugar em que tínhamos contacto com o que sobrou da anterior civilização. 

Ontem estive a fazer encomendas online para o aquariozinho mais querido e lindo. Mas não é a mesma coisa. Gosto de ver, de mexer. Além disso, parece que desapareceu de mim toda a vontade de fazer compras com excepção das básicas, do supermercado. Deixei de ser consumista. Está a fazer um ano que não entro em loja de roupa ou sapatos, em perfumarias. Comprei algumas peças, poucas, na decathlon e foi porque a roupa quente para estar em casa está in heaven. E comprei uns quantos livros para mim pelo Natal. Tirando isso, nada. E sem saudades. Pelo contrário, é por vezes com alegria que entro no closet para escolher a roupa que visto para as reuniões. Tenho que chegue e fico contente de todas as vezes que o constato. Ontem tinha vestido uma blusinha cor de rosa mas é uma blusinha fininha, decotada, pelo que, quando estava a pensar o que haveria de vestir por cima para não arrefece e para se conjugar bem, lembrei-me de um casaquinho da benetton com umas cores um pouco impulsivas: na parte da frente, losangos cor de rosa e cor de laranja. Pouco o vestia já, parecia-me já coisa um pouco datada, anos e anos que já o tenho. Fui lá abaixo, à cave, ao roupeiro onde estão os agasalhos, e trouxe-o. Gostei mesmo do conjunto. Agora fico contente com coisas assim. 

No outro dia fiquei contente com outra coisa. Íamos a fazer a nossa caminhada e, ao passarmos junto a uma casa, reparámos num pequeno vulto escuro no canto de um muro. Demos uns passos atrás para ver o que era. Para meu espanto, era uma coruja. Linda, irreal. Devia ter levado a máquina para registar a beleza daquele instante. 

Digo coruja mas não sei se era coruja ou mocho, nem sei se há diferenças entre ambos ou se é a mesma coisa. 

Muito direita, uma cabeça imponente, muito digna. É a primeira vez que vejo ao vivo uma ave destas. In heaven às vezes, de noite, ouve-se o piar que penso que seja de uma destas aves. Mas ver, nunca vi. E é uma alegria olhar para aquela bela ave e pensar que coabitamos o mesmo espaço que animais tão extraordinários.

Também nunca mais vi a raposa e disso tenho alguma pena. Agora trabalho muito, horas ininterruptas. Mas, um dia que tenha tempo, penso que facilmente andarei pelos campos, em silêncio, tentando descobrir animais. Posso até sentar-me num canto, talvez lá ao fundo ao pé da horta, a ver se vejo passar algum esquilinho, um veado, um destemido galaroz. 

Bem. E hoje, talvez por andar a pesquisar as diferenças entre coruja e mocho, ao parquear-me no Youtube, o meu amigo tinha me propor um vídeo muito bonito.

Sur les traces de la chouette, un animal si discret

Dans le massif du Jura, des Aiguilles de Baulmes en passant par l’Auberson, au plus profond des forêts de sapins et de hêtres se cachent les oiseaux mythiques que sont la chouette Hulotte, Tengmalm ou encore Effrai. 

Seuls quelques initiés ont le bonheur de les apercevoir dans leur milieu naturel et c’est bien le privilège qu’on obtenu Pierre-Alain et Denise. Ce couple de passionné sillonne la région depuis plus de 40 ans afin de mieux comprendre ces mystérieux volatiles, et ceci avec une flamme intacte comme au premier jour.  

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As fotografias que fiz cá em casa vêm ouvir Yo-Yo Ma e Wu Tong interpretando "Rain Falling From Roof"

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Desejo-vos um bom sábado
Saúde

4 comentários:

Luis disse...

Não posso estar mais de acordo os três canais juntos não fazem um ,gente de má indole dizem mal de tudo e todos ,agora a que se diz jornalista até anda a indagar toda a gente que levou vacinas se há alguem que não se enquadra nos grupos de vacinação ,fechar a televisão publica é urgente todos no desemprego ainda é pouco ,para intoxicarem a opinão pública já basta as privadas com as inverdades e a pouca ética jornalistica.

Estevão disse...

Falta referir este especialista em Auschwitz:

https://twitter.com/i/status/1354581667298553858

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Recuso-me a dar 10 segundos de espaço a tanto invejoso e manipulador que por aí pulula nos noticiários e espaços de "comentadorismo", gente que se alimenta da situação para satisfazer os seus afetos mais primários e as agendas de baixa política.

Valha-nos as coisas belas da vida que vamos podendo contemplar, mesmo com as necessárias restrições.

Corujas e mochos nunca os mirei ao vivo, mas de vez em quando ouço também por aqui.

Um bom fim-de-semana.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Nem a propósito, hoje no final da missa do Parque das Nações, D. Américo Aguiar, disse estas palavras inspiradas:

"Façamos alguma higiene dos meios de comunicação social, alguma higiene mental. Para nos distraírmos um bocadinho deste permanente procurar do erro, do escândalo, procurar o sangue, procurar a vacina perdida, procurar o erro, procurar o pecado [do outro]. Isso certamente que é preciso dizer: "Cala-te e sai desse homem!". Para colocarmos o nosso empenho, a nossa força, todo o nosso enlevo, todo o nosso cuidado naquilo que é o essencial: salvar as vidas e salvar a todos!"

Um abraço!