Gente odienta que dorme sobre os próprios joelhos e existem como cães, encolhendo-se na chuva, quase se cumprimentando como os cães!
E que mulheres! Azuis, verdes, amarelas, com cabelos encaixados como perucas -- Deus lhes perdoe, Em que mundo vivemos, que mundo nós fazemos! Há alguma coisa de deteriorado dentro desse mundo para que tais narizes, rugas, peles, dedos, surjam à luz do dia. Oxalá eu saiba sempre pensar com asas para que a minha auréola continue. Oxalá eu saiba ter sempre olhar de lince, mesmo quando descaia no espírito do macaco. O olhar de lince é coisa importante, mais do que a razão.
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Penso constantemente em que devo ganhar uma fortuna para não ter que me preocupar com a proximidade de ninguém. O maior luxo do mundo é estar só; ricos são os que não têm amigos solícitos e boas intenções à sua volta.
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Não faço outra coisa senão escrever, e faço-o com a gana de destruir e escavacar todos os obstáculos. Não há ninguém vivo neste mundo. É um rebanho podre de macacos a rapar as próprias chagas com um caco, como aquele Job, que tanto se lhe dava como se lhe deu. Não percebo o que fazem cá na terra, nem eles percebem.
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Raramente consigo essa solidão absoluta, esse desprendimento de pensamento e de razões práticas e que constitui a mais grata das felicidades. Às vezes apetecia-me envelhecer depressa, para depressa adquirir uma serenidade, e indiferença pelo actual, que não tenho ainda.
Transcrição de algumas [Cartas à Mãe] de Agustina in 'Sapatos de Corda' de Mónica Baldaque
Fotografias aqui de casa ao som de Casta Diva na interpretação de Montserrat Caballé
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