segunda-feira, agosto 24, 2020

Um dia feliz
(apesar de estar como estou)




Tenho que ver se descubro o nome das árvores, arbustos e flores que aqui tenho. Os antigos proprietários, na altura, disseram-me mas eram dias cheios de informação, não consegui registar quase nada. E de alguns eles não se lembravam, depois um dizia uma coisa, o outro dizia que achava que não. Por isso, apaguei da ideia. Tenho que descobrir. Sei que uma veio da Madeira, é rara, é bonita, ele teve pena de a desbastar porque encontrava beleza naquelas longas franjas penduradas. Essa é uma daquelas que, à primeira vista, se diria que precisa de ser desbastada mas também gosto e, de resto, ainda estou naquela fase em que me dá pena mexer no que quer que seja. A ver se amanhã consigo mexer-me o suficiente para dar um passeio pelo jardim para fotografar algumas flores ou arbustos ou a tal árvore. 

Hoje estiveram cá todos: casa cheia. No fim o mais novo queria saber onde dormia. Quando a mãe lhe disse que não dormia cá, ficou todo triste. A menina tinha deixado cá a mochila. Quando lhe ia dizer onde estava, antecipou-se: eu sei, já a vi, está no meu quarto. Fico contente, sentem-se bem por cá.

A minha mãe também cá está. Gostou do quarto e antecipou que ia dormir lindamente porque o colchão lhe pareceu bem bom. E é. 

Hoje quando fomos buscá-la, ao sair de casa, ouvi pela segunda vez o que o antigo proprietário nos tinha dito. O vizinho do lado não fala com ninguém. Apenas se sabe da sua existência porque, de vez em quando entra ou sai e, sobretudo, porque toca piano. Estamos no jardim e a ouvi-lo ao piano, disse ele. E é verdade, comprovei-o.

Na primeira vez, eu estava em casa sozinha, no sótão, a arrumar livros, as janelas abertas. E, nisto, ouço o piano. Fiquei tão emocionada. Tão estupidamente emocionada -- porque não há razões objectivas para alguém se emocionar  a ouvir um vizinho a tocar piano. Mas emocionei-me. Parecia que estava dentro de um sonho. No outro dia, continuava eu na minha labuta, ouvi um som: fui ver. Tudo coisas novas para mim. Não tinha, antes, vizinhos cuja actividade eu pudesse observar, mesmo que de longe. Era o portão da garagem a abrir, depois um carro a sair. Passado um bocado, ouvi que o portão se voltava a abrir. Deve ter-se esquecido de alguma coisa, voltou a casa para logo sair. Pessoa talvez pela minha idade, cabelo grisalho, chapéu de palha de abas largas. É, então, ele o pianista.

Ouvi também um grasnar. Mas não é grasnar a palavra certa. Mas também não posso dizer pipilar ou cantar. Pus-me à janela, enquanto aproveitava para descansar, e fui apurando a visão para perceber de onde vinha o som: era um pássaro preto, grandinho. Fui informar-me: era um corvo. E, no outro dia, enquanto falava ao telefone lá fora, levantou-se um par de rolas. Gostei muito. Será que este é um local que também atrai os bichos? Ainda não sei. Sei é que, quando este domingo estava a mostrar a horta à minha mãe, vi um animal a fugir mas já só lhe vi o rabo felpudo. Podia ser o rabo de uma raposa. Ou será que era algum cão que andava por ali vadiando? Mas os cães terão rabos assim tão felpudos? Não disse nada à minha mãe não fosse assustar-se. Havia de ter graça que num lugar destes houvesse raposas. 

Hoje fico-me por aqui. Como disse, foi dia grande.

A casa já está praticamente toda arranjada. Sinto-me orgulhosa por termos conseguido a proeza de nos mudarmos, de termos tido a coragem, a energia e determinação que uma operação destas exige.

Mais um leão em festejos e os festejos foram cá. Casa cheia de animação, brincadeiras de crianças, a maluqueira que são as fotografias de grupo, cantorias, risotas. A alegria de estarmos juntos. Tudo ao ar livre, covid oblige. Mesas grandes para estarmos distanciados. Sorrisos nos rostos de toda a gente. Mesa farta, gente com apetite. A minha mãe, então, veio carregada. Por mais que lhe digam que não se exceda, excede-se sempre: tartes, crepes, creme de chocolate, petiscos, um belo bolo.  Mas toda a gente adorou os seus acepipes e ela fica toda contente com isso. A aniversariante também veio carregada. Eu apenas contribuí com um arroz de carnes e com as bebidas. 

Só que, com os esforços físicos que tenho feito, dei cabo da musculatura toda. Tenho alma de estivador mas, pelos vistos, músculos de princezinha. Por isso, com vossa licença, vou ver se consigo levantar-me daqui e chegar ao quarto. Antevejo que seja uma peripécia pegada.

Inté.


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Pinturas de Guilherme Parente ao som de Moon Song da banda sonora de Her

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E dias felizes. Saúde, sorte, alegria, motivação.

3 comentários:

Corvo Negro disse...

UJM, parabéns pela nova casa.
Quanto a obter o nome das plantas, é fácil. Instale num Smartphone Android a App PlantNet. Boa continuação e bom usufruto da nova "cabana".
PS. Também percebi que "mudou", para melhor, o rumo da sua vida profissional. Parabéns também por isso e que a boa estrela a guie.
Abraço.

MARIPA disse...


Parabéns,minha flor,por realizado o seu sonho. Desejo-lhe muitos dias como o de ontem [mas sem dores]. Acompanhei-a sempre nos seus dias cheios de trabalho... Exagerou, mas conseguiu.

Agora, para poder usufruir desse paraíso, tem que descansar. Cuide-se bem, porque os males que sente, por vezes, não querem ir embora sem ajuda. Sei-o por experiência própria [também pensei que era uma mulher de armas e cometi excessos que estou a pagar].

Um abraço enorme e tudo de bom para si e todos os seus. Tem uma família linda!

Anónimo disse...

Olá jeitinho,
Quero dar-lhe os Parabéns pelo seu novo lar.
Se a sua nova casa for na margem sul perto de uma famosa Mata é provável que tenha visto mesmo uma raposa.
Espero que tenha muita saúde e alegria para desfrutar do seu novo ninho sempre na companhia dos que lhe são mais queridos.
Continuo a acompanhar as suas aventuras, embora não comente há muito tempo.
Beijinhos Ana