Gente, morreu o Rubem e eu, que gosto de malandro e que não me asfixio com palavrão e, por isso, gostava muito dele, fiquei com pena grande. Aquilo era mau-mau de faca leve a saltar no punho, aquilo era polícia choldra de dar asco, aquilo era tareão de criar bicho, aquilo era puta marmaja fazendo e desfazendo, aquilo era coroa safado comendo bichinha. Um mundo de maus exemplos. Mas, céus, que prosa mais sarada, que verbo mais escorreito, que manuseio mais elegante da língua portuguesa. José. Homem mais insolente, mais vagabundo. Sentimento mais delicado.
De tarde, estava a falar com a minha filha, todo o dia temos sempre muita conversa para pôr em dia, e ela, sempre cheia de notificação, recebeu a notícia. Pensei que era covid. Mas ela a leu sobre o sucedido e não era covid, era desacerto de coração, coisa de homem com coração muito vivido.
Rubem era homem urbano. Os seus livros estão na cidade. Se tivesse aqui algum, ia buscar bocadinho para lembrar a sua prosa insurrecta. Mas não tenho, aqui é campo.
Fica aqui apenas isto, estas palavras que lembram a alegria com que sempre segurava livro novo, o desfrute que era ler aquelas frases tão cheias de ambiente malandro e de amor à língua que era dele e que é também minha.
E mais este vídeo
2 comentários:
Nóssa, UJM, ámáva o cara. Beijo, fiqui ná flóresta -sussugádchita.
Olá Lucília,
Acertou, amava mesmo. Quem saiba manejar bem a escrita da língua portuguesa merece o meu amor.
Boa quarentena, dias felizes.
Saúde.
E abraço!
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