domingo, março 08, 2020

Eros em visita




Estendeu na terra atapetada de erva a toalha de pano que comprou aos vendedores ambulantes em Lagos e deitou-se ao sol. Quando ele chegou perto dela, deu uma gargalhada e exclamou: 'Mas o que é isto? Passaste-te?'. Ela soergueu-se sobre um cotovelo, colocou a mão em concha sobre os olhos e perguntou: 'Porquê?'. Enquanto falava, segurava as folhas de couve. Riu também. Depois explicou: 'O sol está forte. Não tinha protector solar. Fui ver o que poderia usar e lembrei-me disto'.

Deitou-se de novo e ajeitou as duas folhas. Ele riu. Cada folha cobria um seio mas a meio de cada folha havia um orifício através do qual saía o mamilo. 'Um curioso modelo. Qual a ideia?', ironizou ele. Ela, maliciosa, explicou: 'Para te facilitar a vida.' Ele ajoelhou-se e, tendo a vida facilitada, fez o que tinha a fazer.


Num outro dia, quando chegou a casa, ela estava na sala a ler. A sala quase às escuras. Um foco de luz incidia no livro. Admirou-se: 'Vieste mais cedo.' Ela esclareceu: 'Estava doida para ler este livro'. Estava coberta por uma mantinha muito fina, branca, que parecia renda. Ele reparou nos seus ombros despidos: 'Estás nua?'. Ela respondeu: 'Não. Apenas despi o vestido para não o amarrotar. Liguei o ar condicionado para não ter frio'. Ele sorriu. Ela disse: 'Mas completei com um adereço.'. Ele olhou-a e percebeu que o sorriso dela era daquela malícia que tão bem conhecia: 'Ah sim? Ora deixa cá ver...'.

Destapou-a.

'Ah... ' Ela percebeu que ele tinha gostado do que tinha visto mas, sabendo-o distraído, não ficou com a certeza que ele tinha visto tudo. 'Viste a minha flor?'. Ele não percebeu, admitiu que fosse uma metáfora: 'A tua flor? '. Em voz baixa, ela esclareceu: 'Um malmequer. Para ver se tens sorte.  Desflora-me. Devagarinho. Mal-me-que, bem-me-quer. Anda, vem ver qual o veredicto. Aproxima-te.'


No dia oito, quando estavam a almoçar, ela descalçou o sapato e com a ponta do pé acariciou-lhe a perna por debaixo das calças. Ele começou por se admirar mas depois sorriu. Ela voltou a calçar o sapato e pediu que ele lhe desse o cheese naan à boca. Ele disse: 'Deixa-te de coisas'. Ela insistiu: É Dia da Mulher. Sê simpático'. Ele sorriu: 'O que é que ganho com isso?. Ela olhou-o nos olhos. 'Nem queiras saber'. Ele quis saber: 'Diz lá'. Ela disse: 'Estou a pensar numa coisa. Mas é surpresa.'.

Pegou no pé do copo, balouçou o vinho enquanto aspirava o seu odor, depois bebeu um pouco, devagar, sentindo o sabor. Disse: 'Frutado, umas notas de romã, umas notas de madeira. Bom.'

Depois, voltou a olhá-lo nos olhos: 'Vá, agora o cheese naan, bebé'. Ele separou um pequeno triângulo e deu-lho à boca. Ela saboreou o queijo derretido, quente, e percebia-se que estava agradecida. Então ele perguntou: 'E agora...?'. Ela sorriu mas muito ao de leve: 'Agora ganhaste o direito à sobremesa, baby...'


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A primeira e a última fotografias são de Helmut Newton, a segunda é de Marino Parisotto e a última de Richard Avedon. Segundo Nina Simone Wild is the wind.

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2 comentários:

lidia disse...

DIA DA MULHER.

POEMA PARA UMA MULHER.

mulher de chama ardente, exalou da mão do criador, quando seus olhos contemplavam a solidão do homem no jardim do EDEN.

foi assim
o senhor desenhou
o ser gracioso, meigo e fruto da sua imaginação, perfeita.
produziu um novo milagre.
fez-se carne.
fez-se bela
fez-se amor fez-verdade como ela quer.

o homem escolheu a flor DALIA.
BEIJOU-A COM TERNURA, CHAMANDO-LHE SIMPLESMENTE MULHER.

Tiago Gonçalves disse...

"Para te facilitar a vida": nada como um toque humorístico para seduzir ....
"Desflora-me": quantos significados simultâneos numa só expressão..