Tinha havido todos aqueles tigres, claro,
e um leopardo, e uma girafa de seis pernas,
e um jovem veado que saltava para a minha janela
antes de ser morto, e certa vez um cavalo azul,
e algures uma impressão de cães maciços.
Por que é que sonho com tamanhas bestas de sangue quente
cobertas de peles suadas e cheias de paixões
quando podia haver lagartos secos e rãs frias,
ou criaturas lentas, modestas, como uma pausa
de todos aqueles animais pintados do tamanho de pessoas?
Ouriços-cacheiros ou talvez tartarugas,
mas eu penso que o pangolim ficava melhor:
um animal vegetal, que vai
disfarçado de alcachofra ou ponta de espargo
num casaco verde de folhas bem ajustadas,
com a sua cauda de pá, lisa, e o seu nariz de pincel:
o papa-formigas escamoso. Sim, ele ficava bem
melhor num sonho do que numa jaula
na Casa dos Pequenos Mamíferos; por isso convido-o
a ser sonhado, se ele estiver interessado.
['O pangolim' de Fleur Adcock, trad. Graça Braga, in 'Animal Animal, um bestiário poético' organizado por Jorge Sousa Braga]
E, então, veio o pangolim e pôs em risco o Império do Meio
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