Houve um pedido: três palavras. Chamou-lhe o desafio insano.
Sugeri 'rompem flores das paredes'. Depois, ao ler as palavras da Alexandra, brinquei mas, flor, tem razão: na realidade, a sugestão a sério era mesmo essa 'rompem flores das paredes'.
E hoje, ao ler para a UJM, fui logo ver.
E não foi só o espanto, não foi só o agrado. Foi que me senti retratada. Talvez com o filtro da generosidade da flor, talvez com o filtro do talento da flor que embeleza aquilo em que toca. Mas, sob a capa da beleza das palavras, senti-me eu.
Depois, enquanto andava a passear entre as árvores, os pés pisando a caruma macia, tentei lê-lo em voz alta. Não consegui. Lágrimas nos olhos, a pele arrepiada, a voz comovida.
rompem flores das paredes,
quando das minhas mãos
são já os netos que procuram
alguma coisa para romper.
bordadas em mil cores,
carros de linhas em círculos sobre a mesa,
cata-ventos coloridos girando na janela,
crianças que riem e correm
num sábado de sol.
plumérias, rosas, lírios, jacintos,
narcisos e miosótis,
frágeis peónias, gentis amores-perfeitos,
erva-doce, alfazema, um singelo malmequer,
rompem flores de todas as paredes
na nossa casa-poema,
e do meu corpo, útero criador, rompem
dores e alegrias
e flores,
de avó, mãe e filha, mulher.
(a minha casa vista do exterior, aqui, in heaven, onde se vêem dois dos brinquedos com que os meninos sempre brincam quando cá estão) |
Obrigada flor. Quase fico com vontade de continuar a ir deixando sementes no seu a faca não corta o fogo na esperança que delas rompam sempre flores tão belas como este seu poema.
2 comentários:
Assim fico sem jeito... Fico muito feliz que tenha gostado. Fi-lo a pensar em si, mediante a construção digital com fragmentos do seu blog que julguei serem parte de si.
Boa noite e obrigada pela referência.
Ora essa flor. Eu é que lhe agradeço. Será que a menina é mediúnica? Captou tão bem o que julgo ser a essência da coisa que me deixou francamente emocionada. Mas não foi apenas isso. Foi também a cadência e a musicalidade. Muito bom. E muito obrigada eu.
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