quinta-feira, novembro 01, 2018

Noite fria com livros


Acordei agora. Estou com frio apesar de ter um casaquinho de malha. Tenho que ir ali buscar a mantinha fina de veludo. Arrefeci.


Pronto, já estou melhor. Calcei também umas meias quentinhas, daquelas que têm umas bolinhas andiderrapantes nas solas. Passo o tempo quente a andar descalça cá em casa mas agora, de repente, com esta baixa de temperatura, fiquei com os pés frios.

Adiante.

Mais outro dia. Estou a querer escrever e a tentar combater a pedra de sono que tenho em cima. Um castigo, este sono.
                                                                                                                                                                  Depois de uma manhã tramada, à hora de almoço levei quase três horas para fazer um percurso que costuma ser feito para aí em vinte minutos. Cheguei perto das cinco ao escritório. A exasperação em que estava nem consigo descrever. Tanta coisa para fazer e ali enfiada num carro parado. Valeu-me ter um saquinho com doze miolos de amêndoa. Costumo andar com isto na carteira. Segundo a nutricionista deve ser usado como snack. Quando saio tarde e estou esfaimada, costumo entreter a fome com isso. Mas hoje foi mesmo a meio da tarde. A impaciência e saturação estavam a desidratar-me e a deixar-me capaz de desatar à dentada. Portanto, as amêndoas vieram a calhar. À noite levei mais de uma hora num percurso que, sem trânsito, é de cerca de meia hora. Mesmo assim, nada mau. Em contrapartida o meu marido levou três horas. Chegou quase às dez, cheio de fome, impaciente.

Depois do dia de ontem, veio, pois, hoje outro ainda pior. Não há explicação. Vem a chuva e começam os acidentes que congestionam a cidade. Como se já não bastasse a dureza que é, ainda o caos das ruas de Lisboa nestes primeiros dias de chuva.

Enfim. É o que é. Tem coisas boas, não é só este xarope de fígado de bacalhau. E já estamos num dia feriado o que é ainda melhor.

Mas, então, dizia eu que cheguei tarde mas ele chegou ainda mais. E, assim sendo, enquanto ele não chegou fui-me a eles. A coisa continua bagunçada. O chão continua pejado, o cimo das estantes baixas, o sofá pequeno, a cadeirinha, a mesa, tudo continua revirado. 


Mas a estante dos portugueses já está. Aliás, ontem já pensava que estava. Mas hoje, tendo aparecido mais uns quantos e já mal lá cabendo, fiz aquilo que queria evitar. Peguei num conjunto de autores com vasta obra e levei-os para a estante grande do hall, onde estão os brasileiros e outros de língua portuguesa. Tirei de lá as biografias dos reis, as biografias de portugueses 'especiais', biografias de imperadores romanos e de um francês e mais uns quantos, libertando a estante para ficção de língua portuguesa. E, assim sendo, numa das prateleiras coloquei essas pilhas de portugueses. Ficou, pois, com brasileiros, angolanos, moçambicanos e agora também os portugueses mortos que, enquanto vivos, foram altamente produtivos. Já tinha feito isso com os poetas que não couberam na estante da poesia portuguesa: foram parar a outra localização.


Ou seja, o que se conclui é que, apesar de tudo isto, as estantes continuam curtas.

Mas, enfim, agora, com esta 'limpeza', a nova, a dos portugueses, está à larga, disponível para ir acomodando os próximos. Só espero que amanhã não apareça mais uma teca deles que vá desestabilizar este equilíbrio.


Mas uma coisa vos digo: tendo que arrumar tanto livro bom e ainda não lido, parte-se-me o coração. Enquanto os arrumava só pensava: nem tão cedo volto a comprar livros, tenho que tentar ler grande parte destes livros. Estes vão passar a ser a minha prioridade.

Custa-me tê-los nas mãos, revê-los, e agora andar a encafuá-los em estantes para se calhar nunca chegar a lê-los.






Amanhã (isto é, hoje, porque já passa da uma da manhã) vou-me à ficção estrangeira e, se a faina render, talvez às crónicas, ensaios, diários, etc.

E hoje fico-me por aqui. Mais uma vez não consigo responder a comentários e mails: estou francamente ensonada. Vou ver se consigo dormir até mais tarde para ver se reequilibro os meus chacras (seja lá o que isso for).

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Adélia Prado é a primeira da estante dos brasileiros. Gosto tanto dela. Andavam sempre por aqui. Agora estão os três livrinhos já atrofiados na estante.

Para me compensar, Adélia lendo um poema


Um bom feriado, minha gente.

3 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Imagino o caos, se com tempo seco é o que é. Aliás no último dia de verão que foi 5.a-feira passada, ao final da tarde, enquanto calcorreava alegremente as Avenidas Novas, lá se acumulavam as bichezas de trânsito e a orquestra desafinada de claxons dava os seus acordes.
Na cidade pequena sempre nos podemos da ao luxo dos lugares "no go by car".

Gostei de ver o WIP in loco, está a ver que apesar da estafa já descobriu ter uma série de ainda-não-lidos para ler.

Um bom dia de Todos os Santos para uma Santa laica conhecida como UJM.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

A ver se com os passes baratos, bicicletas e trotinetas, o trânsito em Lisboa se reduz. E dos estacionamentos nem se fala. A sorte que tenho é que, quando vou ter reuniões, geralmente me arranjam lugar no parque do edifício. Senão, procuro parques cobertos porque nas ruas é impossível.

Enfim: é o lado complicado da vida na bela cidade que é Lisboa.

Quanto aos livros... é aquela pulsão maluca por ter mais livros, como se em cada um estivesse a felicidade da qual não posso abdicar. Mas, com a falta de tempo, como conseguir buscar e desfrutar a felicidade que os livros guardam. Não sei se me estou a explicar.

Enfim.

Uma bela sexta-feira para si, Francisco.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Sim, é muito importante o embaratecimento dos passes, assim como os meios alternativos.
O estacionamento, upa upa, nem com candeia um lugarzinho.

Entendo perfeitamente a magia que um livro contém é muito, muito chamativa, mas o tempo para disfrutar dela também é necessário. E a UJM com a vida preenchida que tem é difícil poder abarcar toda a magia literária que desejaria.

Obrigado e uma bela sexta-feira também.