sexta-feira, novembro 23, 2018

Já perdi a cabeça com a Black Friday
(por acaso foi na quarta-feira, mas isso é pormenor)


Nesta coisa muito dos tempos correntes de que tudo antes de o ser já o era, a toda a hora o tempo se arrepia e, como se sabe e tanto aqui tenha falado nisso, no verão já se vende roupa de outono, em outubro já é natal e agora à quarta-feira já é black friday e, não contentes com tudo isso, a dita sexta-feira já se prolonga até domingo. 

Com dias de antecedência já estou a receber vários sms e mails  a anunciar loucuras nas lingeries, perfumes, electrodomésticos. Não ligo. Uma questão de princípio. 
Sou consumista (ou melhor: era consumista) mas tenho algum decoro. Macacadas de ir de véspera ou de madrugada, andar a correr por entre os corredores, disputar porcarias a gente desesperada, isso não. Não quando era consumista, muito menos agora que me converti à decência e à racionalidade.
Mas. 
         
         (Nos grandes momentos há sempre um  mas, certo?)

Ontem calhou irmos à catedral do consumo à hora de almoço. Quando chegou ao pé de mim, o meu marido anunciou: 'Passei por uma loja que vende colchões e que está com aquela coisa da black friday'. Esqueci-me logo daquele meu saudável propósito de já não ser consumista e disse: 'Será que têm a medida do nosso? Vamos lá ver?' É que é uma medida pouco usual nos dias de hoje e, quando o ano passado resolvemos trocá-lo, não encontrámos. Não sei se há uma idade limite para colchões. Se calhar há. O nosso já tem uns anos e achámos que o devíamos trocar. 

Fomos ver. Uma loja cheia de colchões de várias marcas e modelos. Tinham, não lá mas em catálogo numa das marcas, e podiam mandar vir. E mais, e imaginem a sorte, tinham da marca e do modelo que justamente estava com os descontos da black friday. A metade do preço. Os colchões são brinquedo caro, uma coisa que é descrita pelas vendedoras como se de um objecto de alta tecnologia se tratasse. E, se calhar, é. Sei lá. O que sei e isso de fonte segura é que há de espuma, de molas, disto, daquilo e do outro e de molas encapsuladas e com e sem camadinha de latex e com e sem camadinha de rede e de trinta por uma linha. Para evitar cepticismos, fomos aconselhados a experimentar. Eu aceitei e deitei-me em várias camas. O meu marido, que não é dado a intimidades em público (pelo menos que eu saiba), apenas se deitou e por uma fracção de segundo naquela que escolhi. E encomendámos. 

Entregam, levam o actual, tudo sem acréscimo de preço. E tudo por metade do preço.

Diria eu antes desta experiência: eu a fazer compras na black friday? Claro que não, estão a gozar ou quê? E colchões metidos ao barulho na black friday? Claro que não, está tudo maluco ou quê? Mas há uma primeira vez para tudo.

E, com isto, não posso agora é esperar por ter um sono novo, delicioso, num colchão de sonho. 

Portanto, entusiasta que fiquei, não se admirem se, até esta big sexta-feira preta acabar (coisa que, como disse, acontecerá lá para o fim do dia de domingo), eu aqui aparecer toda empolgada com um balde com esfregona ou três batatas doces a metade do preço. Ou a própria factura da luz, quem sabe.


2 comentários:

Anónimo disse...

Ai e se a UJM conhecesse a WOOK... saía da Black Friday esfoladinha até ao tutano!
JV

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Já se viu que a Black Friday é como a Toyota - veio para ficar e ficou mesmo. Até aqui nas Caldas parece que o trânsito está infernal também por conta da 6f Preta.

Por falar em colchões, quando na loja onde a minha mãe trabalhou se passaram a vender colchões Pikolin, o que eu curtia dos catálogos, horas e horas a brincar às vendas de colchões, ou então à produção e distribuição com a foto da fábrica principal da Pikolin como plano da brincadeira. A Pikolin veio mesmo quebrar a monotonia dos veneráveis Beloflex ou dos Sumauma.
Também me lembro da piada de se chamar aos colchões duros ou aos de palha (os "judeus") de "sumopau".

Boas compras!

Um bom f.d.s.