terça-feira, outubro 30, 2018

WIP




Só para dizer que, por estes dias, a minha cabeça e a minha escassa disponibilidade estão entregues a virar a casa de pantanas. O reviralho já começou. Não fica pedra sobre pedra. E, do que me é dado perceber, as novas estantes  não vão chegar. Neste momento os portugueses de ficção estão na nova e, salvo os que ainda derem à costa, o trabalhinho ali quase pode ser dado por concluído. Mas sei que ainda há uns quantos por aparecer. Já os procurei mas em vão. Só aparecerão à segunda, terceira ou quarta monda.

Pior a poesia portuguesa. Pensei que ficaria a nadar e afinal não coube. Nascem. Quase baqueei sem saber como resolver. Depois de andar às voltas, resolvi que alguns dos espaçosos e já mortos, ou seja, cuja obra não deve aumentar, vão para outro lado, mais concretamente, para uma prateleira da estante dos portugueses que é larga e hospitaleira. Concretamente, Pessoa, Sophia, Herberto, Vasco Graça Moura.


As colectâneas, antologias e colectivas terão que ir ainda para outro lugar. Talvez para perto dos poetas estrangeiros. Ainda não sei onde será mas tenho uma vaga ideia que terei que aprofundar face ao equilíbrio de tudo o que ainda falta decidir.
[E, enquanto isto, chove que deus a dá. Oh sonzinho mais bom. Chove com força e está frio e eu penso que quando chegar à cama vai estar quentinha e eu vou gostar de estar enroscadinha e tapadinha. Quando está calor não suporto roupa nem perna peluda a aquecer ainda mais a minha existência mas, quando vem este mau tempinho, viro outra, gatinha que gosta de ronronar no calorzinho bom].
Mas então, dizia eu, que a barafunda está instalada. Já retirei da estante pequena do hall dos quartos os portugueses que já eram e que escreveram que se fartaram. Tinham sido postos ali para não estorvarem os mais parcos. A saber: Aquilino, Eça, Ferreira de Castro, Miguéis, Virgílio Ferreira, Namora, Camilo. Obras completas ou quase que açambarcavam muito espaço. Pois bem. Agora que há uma estante grandona só para eles já foram para junto dos seus. Assim, ganho espaço para os brasileiros que, na outra estante desse hall, já estavam a ficar acanhados, sem espaço para acomodar os novos que vêm tomamdo o meu coração. Vai ser a tarefa de amanhã.


E o que se segue é ciclópico pois passa por revoltear tudo o que está nesta sala. Antes de vir escrever aqui, pequei a eito em tudo o que tinha sobrado da faena de hoje e que estava no chão e pus em cima dos sofás. Isto para ser possível aspirar o chão e transitar porque, parecendo que não, falta-me alguma leveza para levitar. Mas não quis antecipar o caos onde gosto de me desnortear, quando o chão desaparece sob pilhas e mais pilhas e eu ainda sem saber bem como rateá-las.

Por exemplo. Tenho que arranjar um espaço para diários, outro para correspondências. E fico depois na dúvida se separo as cartas ou os diários da restante obra. Por exemplo: correspondência entre Cesariny e outro qualquer deve estar ao pé da obra do Cesariny? Acho que não pois como resolver quando são os dois escritores: Jorge de Sena e Sophia, por exemplo? 

Um Leitor disse-me que se catalogasse tudo e registasse a localização, ficava o assunto resolvido. Não ficava, não. Porque a mística está nesta dúvida, neste processo de decidir, nesta dúvida que persiste, neste prazer de mexer nos livros sem saber como melhor os manter perto de mim, perto da minha memória, perto da minha vontade de os poder ver bem.


E há as crónicas. E os ensaios. E os que não são bem coisa alguma. Um desafio.

Nisto já dei com três repetidos. Isso é que me aborrece mesmo. E ainda por cima são daqueles que penso que nem o meu filho nem a minha filha apreciarão que eles ainda são muito conservadores, ainda não atingiram o estado de hiperbolização mental da mãe.

A ver se amanhã me dá para fotografar este WIP (leia-se: work in progress) para que melhor possam perceber a trapalhada gostosa em que me estou a meter.

No meio disto, e porque uma confusão nunca vem sozinha, caíu o varão do roupeiro pequeno com toda a cabideria que lá estava pendurada. Nem quero pensar. Tem que se tirar tudo e só espero que aquilo não esteja partido, ou o varão ou os suportes. Os deuses brincam comigo, põem-me à prova. Mas eu, quando assim é, digo que fiquem a brincar sozinhos. Portanto, do roupeiro ocupo-me amanhã.

Ah, sim, é verdade: e já estive a fazer o euromilhões porque bom, bom mesmo, era se eu pudesse ter uma casinha com estantes como a destas fotografias que aqui vos mostro. Isso, sim, era uma boa. Aí até podia ser tudo de carreirinha, tudo à larguinha.


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1 comentário:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Aguardo os resultados de tão complexo labor.

Bom trabalho.

Um abraço.