terça-feira, abril 03, 2018

Arte especial para quem a sabe apreciar



Quando nasceu o mano do mais crescido, eu fiquei a tomar conta deste e, enquanto não era hora razoável para irmos ter com a sua mãe e com o seu maninho recém nascido, arranjava programas.

Um dos dias, fomos almoçar à Gulbenkian e, de passagem, levei-o a ver uma exposição que lá estava, creio que no piso de baixo da Fundação.

Era daquelas instalações alternativas nas quais uma pessoa leiga e bronca que nem eu não vê nem cu nem pé nem bico. Não me lembro de nada em concreto a não ser de uma zona escura, um banco corrido e uma tela gigante na qual se projectavam imagens. E as imagens eram alguém a partir ovo atrás de ovo. Mas a partir como na culinária: um toque para quebrar casquinha, abrir em dois e despejar o conteúdo para uma tigela. Um grande plano só com isto. Pois bem: o miúdo delirou com a instalação. Queria lá ele saber de ir para o pé do bebé, queria era perceber o que era aquilo. Eu puxava-o e ele nada, queria saber o que ia acontecer. E eu dizia: não vai acontecer nada, é só isto. Mas ele não acreditava e não queria arredar pé. Ainda não tinha três anos. Mal chegou ao hospital, contou logo o sucedido: tinha estado a ver um filme a partir ovos. A minha filha, pasmada: 'What..?!'. E o que é certo é que durante anos o menino teve vontade de ir ver exposições a ver se voltava a ver aquele filme tão cativante. Perguntava: 'Onde é que está o ovo?'

Outra vez, nesse mesmo espaço, fomos todos ver uma outra bela exposição. Eram uns vasos gigantes com uma espécie de árvores surreais e, a fazer de conta de cobertura da terra dos vasos, umas bolas brancas. Para as crianças aquilo não era nem deixava de ser arte. Era, isso sim, um lugar bom para brincarem às escondidas atrás daqueles big vasos. Logo percebemos que devíamos era basar dali antes que acontecesse alguma. E aconteceu. O bebé que entretanto tinha crescido e que era (e é) uma força da natureza corria e fazia fintas à frente do irmão e dos primos. À tantas um sarrabulho: tinha dado um safanão numa das árvores e, no acto, uma data de bolinhas brancas transbordou do vaso e rebolavam pelo chão. Em transe, eu e a minha filha atirámo-nos a apanhar as mini-pecinhas de arte que ali estavam espalhadas pelo chão. Por sorte, nenhum guarda se deu ao trabalho de vir ver o que se passava senão ainda nos teríamos visto metidas em apuros. Assim, num ápice e no maior low profile, repusémos a ordem naquela arte.

E isto já para não voltar a contar daquela vez em que os miúdos, ao darem de caras com um monte de rebuçados num canto de uma sala, no Guggenheim, se atiraram a ele -- para nosso pânico ao vermos que era uma obra de arte. Felizmente era uma obra arte comestível e, portanto, não fomos punidos. Mas implorámos que não voltassem a mexer em nada porque eram obras de arte. 

Logo de seguida ao verem uma esfregona num balde perguntaram se também era arte e nós, totós, não soubémos responder. Mas não era, era simplesmente uma esfregona num balde para limpar o chão que ali estava sujo.


Portanto, a propósito destas peculiares formas de arte, eu não sei que diga. Que há quem goste isso é inegável: presumo que seja coisa para crianças de dois anos e para gente adulta que padeça de inocência aguda. Ou coisa do género. Mas gostos não se discutem. Muito menos eu que não tenho vocação para crítica de arte nem sou entendida nem nisto nem em coisa nenhuma.


Para quem goste e possa, há o Festival de Arte Contemporânea Do Disturb no Palais de Tokyo de 6 a 8 de Abril. Para abrir o apetite, um cheirinho do que foi em 2016.




E, façam-me o favor: nada de fazerem como as senhoras do vídeo abaixo que não apenas não sabem educar os filhos como, tal como os meus, também desataram a comer as obras de arte

Monty Python - Galeria de Arte 


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E queiram continuar a descer que a matéria, ali abaixo, é transcendente.

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