Calhou, quando estava no carro, ouvir a Madame Cristas a perorar contra o Governo, com baboseiras tão típicas nela. Estava a plantar uma árvore em Leiria e gabava-se de saber fazê-lo já que, segundo ela, nos últimos tempos não tem feito outra coisa: faz-se uma cova, põe-se a árvore e calca-se com o pé, dizia a senhora dona doutora-silvicultora.
Mas, se fosse só isso, a gente sorriria face à inócua indigência. O pior foi quando se atirou para fora de pé. E, com a Madame Cristas, não é preciso muito: mal dá um passo, a água ainda apenas pelo tornozelo, e já está fora de pé.
Dizia ela, com aquele seu ar doutoral, soletrando cada palavra como se estivesse a falar para mentecaptos, que o Governo não fala verdade e que, na realidade, fez um aumento da carga fiscal como não o fazia há mais de vinte anos (acho que disse 22). E quem a ouvisse falar diria que o Governo sacrificou mais os portugueses, obrigando cada um a pagar muito mais do que de há vinte anos para cá, quiçá mais do que quando a sua Marilu-amiga geria as finanças públicas.
E eu, ouvindo-a, senti-me tentada a escrever-lhe um recadinho.
É que a senhora não apenas mentiu (não sei se deliberada, se involuntariamente) como tratou os portugueses como se fossem tão matematicamente iletrados como ela -- e isso maça-me um bocado.
E então, Srª Dona Cristas, vamos lá. Faça um esforço e veja se me acompanha que vou tentar que perceba como é que a aritmética funciona.
- Imagine que estão 100 pessoas num recinto e que devem contribuir com um donativo. Imagine ainda que 15 deles não têm dinheiro. Vamos supor que os 85 que podem contribuem com 10 euros cada. Ou seja, conseguir-se-ia reunir 850 euros.
- Suponhamos que, tempos depois, se juntam de novo mas que, desta vez, apenas 5 não têm dinheiro. Portanto, 95 irão contribuir. Mas resolvem que desta vez o donativo será menor: apenas 9 euros cada. Mas, milagre, milagre D. Cristas, conseguirão reunir 855 euros.
Ou seja, apesar de o montante global ter subido, o contributo individual até foi menor. E percebeu porquê... ou não consegue atingir...?
Eu explico: é que o factor multiplicativo predominante, digamos assim, foi superior, em vez de 85 passou para 95.
Assim aconteceu em Portugal. Com menos desemprego e com mais consumo, com uma base mais alargada, isto é, com mais gente a pagar impostos, apesar de cada um pagar menos, o 'bolo' global consegue ser maior.
E é por esta ser a receita certa -- e oposta à receita estúpida e comprovadamente errada que os PaFs aplicaram durante o desgraçado governo lapariano de que V. fez parte -- é que os resultados atingidos pelo Governo de António Costa (e apoiado pelo PCP e pelo BE) são notáveis e um exemplo a estudar por todos os burros que ainda não perceberam que a austeridade pela austeridade é fatal para o desenvolvimento de um País.