terça-feira, março 13, 2018

Filosofia e Pornografia





As ideias dos filósofos e enciclopedistas, críticos dos pilares das instituições do Ancien Régime, a Igreja e a Monarquia, o Altar e o Trono, encontravam a sua divulgação através da literatura popular que, com o atractivo da proibição, circulava entre gente da classe alta e da burguesia de província, gente geralmente protegida de consequências repressivas pelo estatuto social.

Estas "obras filosóficas" tinham a característica de juntar uma linguagem e uma temática claramente eróticas, ou até pornográficas, e uma filosofia implícita de sátira e de crítica dos costumes tradicionais e da hipocrisia das classes dominantes, sobretudo dos religiosos que, reprimindo em nome da religião e da moral a liberdade sexual dos outros, a praticavam usando e abusando da sua condição.

Assim, estas narrativas assumiam uma natureza utópica nova, descrevendo um mundo ideal, em que os prazeres do sexo e outros excessos sibaríticos eram acessíveis e imediatamente realizáveis; um mundo sem transcendência e sem expectativas de trancendência, onde não havia limites religiosos ou éticos ao desejo nem à imaginação do desejo.


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Ilustração de George Brassens - La Religieuse

Volin Partita no.2 - Gigue - Arthur Grumiaux ( Bach )

Excerto de Bárbaros e Iluminados de Jaime Nogueira Pinto