quarta-feira, março 21, 2018

Eu, sobre os melífluos comentários do putativo senador blasé Pedro Santana Lopes, só tenho a dizer é que canta bem mas não me alegra


Ouvi-o na SIC, todo gentilmente derramado sobre o balcão televisivo, destilando a sua vingançazinha de perdedor vaidoso, ar superior, sorrisinho cagonês, todo ele pose, gel no cabelinho, tripudiando em cima dos deslizes do outro.
O Rio tropeça a cada passo, atrapalha-se com a própria sombra, rasteira-se a ele mesmo, cai ao comprido e fica estendido no chão sem perceber o que lhe aconteceu. E, para o acompanhar na jornada alaranjada, vai trazendo à cena coxos, manetas, pernetas, surdos, mudos, ceguetas e sei lá que mais (e os ditos que me perdoem, já que são gente como todos os demais, mas, para ir à guerra não vejo como uma tropa destas pode ganhar batalha que se veja).
E, sobre o desfile de atrapalhados, derrama Santana Lopes o mel acidulado da sua baba de eterno derrotado. E sorri, folgado, mal disfarçado folgazão, fingindo-se compreensivo, didáctico, como se se enternecesse perante a nabice descontrolada do outro.

Não deita a língua de fora, não, faz de conta que não é de fazer negaças. Mas a gente ouve-o e percebe a gozação que lhe vai na alma. Sente-se vingado. Afinal há um ainda mais trapalhão do que ele. Sorri, percebemos bem que, mentalmente, está de língua bem de fora, e goza, instiga, faz com que o Rio se veja coberto do mesmo ridículo com que, ao tempo de Sampaio, ele se viu coberto.


Mas, a cada palavra que pronuncia, ele morde o seu ex-rival. Cada sorrisinho malandro é uma dentada bem afinfada, um golpe certeiro, uma tesourada com dentes bem afiados. Como se quisesse esconder o que pensa -- 'Coitado. Que falta de jeito...' -- ele finge que está a fingir e sorri, e, senadoramente comenta os sucedidos, parece que aconselha compreensão; mas nós, que não somos parvos, percebemos como, na realidade, ele está a saltar a pés juntos em cima do outro pobre desajeitado. Não há ali um resquício de caridade. Pudesse ele e deitaria sal sobre as feridas de Rio. Sal de verdade, não metafórico que, com metáforas, pode o Rio bem.


E enquanto isso, os Amorins, os Hugalexes, as louras do ex- governo pafiano, as almas penadas que pelo parlamento se arrastam, as cassandras, as víboras, as ratazanas e as hienas que pela cave e pelos corredores da São Caetano se afobam, vão deixando que a língua do Rio se ensarilhe, se empastele, se encaracole.


E, neste entretanto, os caciques locais e demais ex-quadros do partido seguram a cabeça entre as mãos. Estão perplexos com tanta falta de jeito por parte do líder recém eleito e fazem contas aos longos anos de travessia de deserto que os esperam. 


A fogosa Cristas, então, retorce-se na sua ambição, vendo os cada vez mais longínquos 116 por um canudo. 

O próprio Presidente Marcelo está, certamente, cada vez mais passado. Depois da nódoa lapariana, sai-lhe agora um artolas com ar de manga de alpaca, cabelinho não à f...-se mas à contabilista do século XIX e que não consegue atingir os mínimos.

Diz o sonso Flopes: há qualquer coisa de Cavaco na maneira de ser de Rui Rio. E sorri com a destreza mental revelada pela comparação. Concordo: foi um ferro curto a encerrar a faena.

E os portugueses assistem, com benevolência, ao penoso arrastar do homem das corridas do norte. E pensam: 'Assim não vais longe, ó meu...'


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As imagens mostram obras da autoria do escultor digital Oliver Marinkoski 

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