quarta-feira, janeiro 24, 2018

Como um simples saco de caroços de cerejas pode contribuir para a nossa (quase....) felicidade


Bom. Agora que já arrumei o Marcelo (que aqui me apareceu de braço dado com o pinókio) e mais os photoshopes criativos, já posso dedicar-me à minha saúde. Preparem-se que vem aí um post que faz juz à já minha provecta idade. Vou falar de mim, de uma minha maleita. Para o quadro ficar mais perfeito deveria estar com um abatanado pingado entre mãos e a devorar uma meia torrada mas se nunca o fiz até hoje, não é agora que vou estrear-me.


Já vos contei. No fim do verão começou a doer-me um ombro. Não tendo conseguido ter férias dignas desse nome, no pouco tempo livre que tinha podava árvores como se não houvesse amanhã (porque, com o calor bravo que estava e sem se poderem usar máquinas de corte, na necessidade de desbastar árvores e mato, o trabalho era feito à mão). Não liguei à dor. Nadei, varri, arrastei ramos de árvores até ao monte. Tudo. Isto para não falar em andar com o bebé ao colo que isso, santa paciência, ninguém me tira.

Disse-me a fisiatra quando eu, já o outono se estava a extinguir e a dor sem passar, fui consultá-la e lhe disse que achava que tinha alguma fraqueza de músculo ou mal de articulações: 'Acha?! Se eu fosse esquiar e esquiasse de manhã à noite sem antes me ter preparado para tal esforço físico, de certeza que arranjava, no mínimo, alguma rotura de tendão ou entorse. Qual mal, qual fraqueza...? Exagerou foi na dose.'

Pronto. Seja. A verdade é que a ressonância revelou de tudo um pouco: rotura parcial de um tendão e bursite e mais uma data de coisas. 

Explicou-me ela ainda que, andando eu há meses com aquela rotura no tendão e com inflamação, a bursite se tinha formado e mais não sei o quê. E que a dor tem que ser respeitada e tal e coiso. E que, por andar em contenção, para não me doer tanto, já estava a ficar com a articulação congelada (ou os músculos?)  e mais não sei o quê. Portanto, a ver se a coisa vai lá com fisioterapia. Senão, consulta do ombro e talvez artroscopia. É o vais. Portanto fisioterapia: calor húmido, laser, ondas curtas, ionizações, mobilizações.

Quem me vê, toda na dissimulação (que coitadinha é que não), não desconfia de nada pois só levantar o braço, rodá-lo para trás (apertar o soutien atrás é uma dor...), levantar o braço para tirar o ticket no parque público e coisas assim é que é mau. De resto, ando na maior, tudo na normalidade, é como se nada se passasse. 

De noite, na cama, também é mau. Há meses que durmo sobre o outro lado. É que nem de barriga para cima.

E está a custar a curar. Sempre que ela me mobiliza demais, parece que venho de lá pior. Quer que eu faça movimentos pendulares durante o dia. Como? Levanto-me a meio das reuniões, dobro-me e ponho-me a balouçar o braço? Haveria de ser lindo.

Mas não me queixo. Quando lá chego, tarde, de noite, depois do stress do trânsito e da dificuldade em arranjar lugar para estacionar, deito-me no gabinete, põem-me uma toalha com almofada de calor húmido e é tiro e queda. A dormir, num instantinho.

Depois acordo com um 'Tá-se bem, hein...?' e, estremunhada, confesso que já estava até a sonhar. 

O calor húmido não é só no ombro. A fisioterapeuta cismou que me achava com a ombradura tensa. Justificava-me: 'Como não? Dói-me... Na volta, mesmo sem querer, encolho-me'. Chamou a auxiliar e pediu calor também para as cervicais. Melhor ainda. Por mim, podia até cobrir-me de calor húmido da cabeça aos pés.

No outro dia, perguntei: 'Em casa como é que posso fazer isto?'. Diz-me ela: 'Na Natura vendem uns sacos curvos, mesmo para pôr à volta do pescoço, com caroços de cerejas. Humedece, põe no micro-ondas durante 1 a 2 minutos. Depois põe. Vai ver que gosta'. Gostei logo, só mesmo de ouvir.

E loguinho lá caída. 'Sacos de sementes, tem?', perguntei. Tinha. Mostrou-me um saquinho lindo, de veludo em lilás clarinho. Cheiroso, macio. Peguei, já rendida. Mas, ao pegar, senti a miudeza dos interiores. 'Isto são caroços de cereja...?', perguntei, desconfiada. 'Pediu-me de sementes', explicou ela. Rectifiquei o pedido. Tinha, claro.

Já cá o tenho. À volta do pescoço, uma quentura boa. O pior é o cheiro. Não gosto. Tomara que não se entranhe. Parece que cheira a colchão de palha. O das sementes de alfazema devia ser bem melhor. Assim sou bem capaz de ficar com o pescoço a cheirar a galinha. A galinha velha, querem lá ver.


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