quarta-feira, janeiro 31, 2018

Apanha-me





Não sei o que fizeste para merecer isto mas pronto, faço-te a vontade. E depois não venhas dizer que sou má. Não sou... Não sou nada... Sou boazinha... Tens é que fazer por merecer. E nunca fazes... Pronto, está bem. Às vezes fazes. Mas menos do que devias. Confessa. Menos do que devias. 

Mas vá lá, hoje estou naqueles dias em que o meu coração tudo agradece, até o facto de bater. Por isso, aproveita. Não consigo oferecer resistência. Mas olha, não abuses. É que, se abusares, quando eu voltar a estar má, vou vingar-me. E olha lá... Sabes bem que quando quero ser má... Ui... Cuidado comigo... Mazona, mazona, mazona.

Não rias. Estou a falar a sério. Maldades mesmo. Físicas, psicológicas. Fazer sofrer, por exemplo. Fazer parecer que sim e, afinal, não. Ou ainda não. Ou... só se... Não te rias. Estou a falar a sério.

Olha, se queres, estás à espera de quê? Não me tens aqui, à tua disposição...? Vá, ousa.

De frente, de lado, de costas, por baixo, por cima. Como queiras. Aqui me tens. 

Vá. Dispara... Aqui me tens. Disponível. Não acreditas...? Acredita... Estou por tua conta. Soft, softzinha.

E como me queres? Imóvel? De olhos fechados? A olhar para ti? Séria? Sorridente? Diz. Faço todas as tuas vontades. Não rias... Todas. Não me ouves? Todas.

Olha, escolhe. Diz. Só tens que dizer. Queres que me volte, que me mexa, que simule? Ou queres só a verdade? A verdade que tanto oculto... queres?

Diz. Só tens que dizer. Como preferes?

Olha. Já sei. Espera. Queres-me com cabelinho curto? Espera.

Vês? Ainda está molhado. Cheira bem, cheira a violeta. Cheira. Cheira-me. Gostas?

Vês como eu estou hoje...? Faço tudo por ti, já te disse.

Olha para mim. Olha-me nos olhos. Descobre o que estou a pensar. Descobre o que quero. Vem. Estás a ver-me? Apanha-me. Apanha-me se fores capaz.

Se calhar não és. Não há muito quem. Só os muito bons. Não sei se tens competência para isso. Tens...? Não sei...

Se tens, prova. Prova lá. Vá... Prova...

E olha... não dizes nada...? Eu a pôr-me bonita para ti e tu nada...? Fico triste, ouviste? Por exemplo, gostas da blusa? Ou cobre-me demais? Se calhar estou muito tapada. Não gosto de me ver tão tapada. O que achas?

Não dizes nada. Fico zangada. Olha, só para te chatear, vou tirar a blusa. E não te queixes. A culpa é tua.

O que achas? Preferes assim...? Ah gostas... ? Mas, olha, não deixo que me vejas de frente. Isso querias tu... Não senhor, agoras estás de castigo. Só queres ver-me a alma? Ah... E queres que eu acredite...?

Chato. O que é isso...? Mas querem lá ver...? Nem penses.

Mantém as distâncias, vá... vá lá...


Filma-me. Fotografa-me. Apanha-me.

Mas, faz favor, sê profissional... 

(Chega-te para lá. Não espreites.... Isso não vale... Ouviste? Ai!)

[Ris. Ris, meu malandro. Mas olha lá, oh meu patife, cuidado com o assédio, vê lá se queres que te denuncie, ouviste?]

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Texto inspirado na canção Filme moi de Alice et Moi.
Susan Sarandon dá corpo à coisa.

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