segunda-feira, dezembro 04, 2017

Uma lua of my own





Sabes, de verdade eu não sei voar. Voo em palavras, voo em sonhos mas, se abrir as minhas asas, não consigo mais do que misturar-me com as gaivotas e andar por sobre os mares, respirando a maresia e aspirando a luz que ali é muito pura e se dilui nas águas mais profundas. Isso eu consigo. Também consigo elevar-me até ao cume das montanhas azuis, lá onde os homens não se aventuram, lá onde os olhos quase tocam a mão de um certo deus muito silencioso.

Mas, sabes, voar até à lua eu não sei como. Fecho os olhos, penso que é só querer, que é apenas olhá-la e deixar que as minhas invisíveis asas se desdobrem até ao infinito para que o meu corpo se torne leve, sem laços nem limites... mas não consigo. Não consigo voar.

As coisas não são assim, sabes, não são como as queremos. O meu corpo não consegue esquecer a gravidade que o prende à terra. O meu corpo não desaprende as leis do mundo dos homens. Peço-lhe que me ouça, que se deixe levar na aragem que algumas palavras sopram mas ele não me sabe como fazê-lo.

Não consigo voar até à lua. Queria tanto. Mas não consigo. Sabes, não consigo.

Por isso... por isso, sabes, vou inventar uma lua que seja minha, uma que eu consiga tocar com as minhas mãos, uma lua que eu possa encher de cores, de loucuras, de loucuras felizes e coloridas, uma lua que contenha todos os meus sonhos, uma lua inventada, transbordando de luz, de segredos, de inocentes indecências, uma lua que eu consiga guardar no meu coração.

E depois ofereço-ta.

Toma-a nas tuas mãos. 

É tua. 

Só tua.




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Brincadeiras feitas agorinha mesmo sobre um fotografia feita também agora mesmo:
a lua cheia brilha no céu, derramando um rasto de luz no rio -- e eu fui à janela e apanhei-a.

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