quinta-feira, novembro 23, 2017

Tomara.
(Embora, pensando melhor...)




Já aqui falei algumas vezes da grande impressão que me faz essa maldita doença. Também já contei da mãe de um colega meu e do que ele passou com ela. E já falei do desgosto que o senhor que fazia pequenas obras in heaven tinha por assistir, impotente, à degradação crescente da mulher, que deixou de conhecer os filhos, que andava atrás dele como uma criança carente, que se foi alheando de tudo, que deixou de se alimentar, que ficou reduzida a um inútil vegetal. E já falei do terrível desconforto que sentia quando, ao ir visitar a minha mãe à residência onde estava a recuperar de uma cirurgia, via pessoas aparentemente normais a fazerem as mais desconcertantes coisas. Alzheimer.


Sabe-se que a erosão começa bem antes de se manifestar e isso ainda assusta mais. Pensa uma pessoa que isso é com os outros e, sem o saber, já a alma se está a esfumar. O cérebro vai-se escondendo, a matéria negra suga-o. E a impressão que tenho é que, mesmo que se queira, mesmo que apareça a cura, já não será possível reconstruir um cérebro que esteja em tal processo de obscurecimento. 

No outro dia, quando a minha mãe, toda chorosa, se lastimava com o declínio físico do meu pai, como se fosse o pior que pode acontecer a uma pessoa -- e dizia, 'coitado... tão orgulhoso que era e agora tão dependente...se ele tivesse plena consciência do estado em que está...' -- eu disse-lhe que nem vale a pena estarmos com este tipo de conversa porque, para quem está a assistir, qual a forma mais aceitável de morte para aqueles que amamos? Não há. Portanto, é uma conversa que nem vale a pena. A minha mãe concordou.

Eu sei como é que eu gostava de morrer. Provavelmente é a mesma que toda a gente queria: sem aviso prévio, sem sofrimento, sem se dar por ela, sem dar trabalho a quem quer que seja. Mas, de facto, não é coisa que se programe ou que se escolha.
E se todas as doenças sem cura são assustadoras, esta é diabólica. A pessoa começa por assistir à sua despessoalização e acaba como um peso morto para os outros.


Detesto falar de doenças ou de temas mórbidos mas interessa-me conhecer o que se vai sabendo a propósito de algumas doenças. Em especial, fascina-me tudo o que tenha a ver com o cérebro, essa maravilhosa fábrica de abstrações.

Claro que, para o Alzheimer, há mil curas anunciadas e nenhuma verdadeira mas, entre falsas expectativas, inocentes esperanças e muitos baby steps, o caminho vai sendo percorrido e, não tenho dúvida, um dia saberemos prevenir, despistar antecipadamente, tratar esta como muitas outras doenças. O problema é o meanwhile

Embora, para dizer a verdade, também não sei bem o que será o mundo quando o planeta, exaurido, ressequido, estiver a transbordar de velhos saudavelmente imortais.

Entretanto, vou espreitando o que, nestes domínios, se vai fazendo ou sabendo. Partilho convosco dois vídeos que vi hoje.

A miracle cure? Horizon: Curing Alzheimer's




Closer to a Cure: Combating Alzheimer's With New Compute Technology



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E um dia feliz a todos quantos por aqui passam.

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