Quando tinha catorze anos tive que decidir para que lado queria eu balançar a minha vida. Apesar de gostar tanto da língua portuguesa e de tudo o que com ela se relaciona, achei que devia pender para o lado das ciências exactas.
Depois, aos dezasseis, tive que decidir que profissão queria ter para resolver em que curso me deveria enfiar.
Sem saber o suficiente de cursos -- na verdade, bastante ignorante a esse respeito -- sem conhecer nem uma ínfima parte das profissões possíveis e, para dizer a verdade, também pouco preocupada com isso, acabei por fazer uma escolha que ainda hoje acho surpreendente e que não sei se foi a acertada.
O primeiro ano do curso foi horrível, o segundo só não foi tenebroso porque andava com o coração apaixonado, dividido e em permanente sobressalto, o terceiro quase nem dei por ele porque, a nível amoroso, me tinha decidido e, portanto já em regime de exclusividade, vivia nas nuvens, o quarto já foi uma peninha pois, casada, a trabalhar, e, tendo enveredado por um ramo do curso bastante estimulante, tudo parecia ter-se encaixado de forma harmoniosa e o quinto já foi feito com alguma descontração pois já começava a antever o que poderia vir a ser a minha profissional, a matéria sobre a qual resolvi fazer o trabalho de fim de curso era ultra-nova, ultra-interessante e, a nível pessoal vivia a mil entre as aulas que tinha, as aulas que dava, a vida de casa e os permanentes programas com amigos.
Se nos primeiros anos, em especial no medonho primeiro, cheguei a temer não conseguir suportar aquele pesadelo, a partir daí a coisa seguiu o seu rumo natural, sem dúvidas existenciais.
Contudo, volta e meia, ao ter conhecimento de algumas vidas, penso que há profissões maravilhosas e que, tivesse eu pensado nelas, poderia ter uma vida bem mais feliz.
A profissão da pessoa a que se refere o vídeo abaixo é daquelas que eu exerceria em permanente estado de encantamento. A vida ao ar livre, o contacto com a natureza, tudo tão bom. Que diferença para a minha, sempre entre gabinetes, tantas vezes a aturar gente complicada, a ter que enfrentar situações stressantes e sempre desperdiçando tempos infinitos no trânsito.
O marido de uma das duas melhores amigas de adolescência fez engenharia. O pai era dono de uma empresa. Quando ele acabou o curso, foi para a empresa e, naturalmente, seria o natural sucessor do pai. A minha amiga é médica e ele tinha, pois, também uma profissão segura. De hobby tinham ambos gostar muito de cinema, iam sempre aos festivais, acompanhavam tudo o que se fazia com qualidade; além disso, ele gostava de fotografar. Quando lá íamos, eu via com admiração as suas belas fotografias, geralmente a preto e branco. Eis senão quando, sem que nós o pudéssemos supor, largou o emprego, deu um desgosto aos pais e passou a dedicar-se exclusivamente à fotografia. Quando soube isso, fiquei perplexa. Nem percebia que profissão era essa. Por essa altura, passou a fazer expedições pelo Portugal profundo, por montes e vales, aldeias de montanha e de beira de água. Dias fora de casa. Semanas fora de casa. A minha amiga encarava o assunto com alguma expectativa (e, contando, que, se a coisa desse para o torto, haveria sempre a rectaguarda da empresa do sogro). De facto, ele começou a vender o seu trabalho ao Turismo, aos Municípios. Hoje tem vários livros publicados, já participou em numerosas exposições, tem fotografias nas mais prestigiadas bases de dados, é conceituado -- e continua com o mesmo semblante sereno e feliz. Estive agora mesmo a ver o seu site e a ver a sua fotografia. E vejo o percurso que fez desde os tempos em que se aventurou por um caminho tão arriscado.
O vídeo que aqui partilho trata de um biólogo que se tornou fotógrafo e que é muito feliz na sua profissão. Transcrevo:
Jeff Kerby is a National Geographic explorer, photographer, biologist, and conservationist. Kerby is part of a decade-long gelada research project founded and run by Peter Fashing and Nga Nguyen, anthropologists at California State University, Fullerton. In this video, he shares some of his favorite moments from studying gelada monkeys.
São de Jeff Kerby as fotografias que aqui mostro, nas quais se pode ver uma macaca a dar à luz. Maravilhoso.
Surrounded By Monkeys: What This Photographer Loves About His Job | National Geographic
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