Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d’extase les jets d’eau,
Les grands jets d’eau sveltes parmi les marbres.
[Verlaine]
Je suis Clair de Lune. O efémero luar. O que ninguém pode possuir. O que não é senão um reflexo, uma ilusão. Um nome que não é nome. Tão nossa e, afinal, tão imaterial. Distante. Tão presente e tão de todos. E de ninguém.
Nesta noite tranquila olho a lua por entre longilíneas árvores. Está dourada. Olho-a melhor. Tem pontos de luz. Quase cintila. Ilusão. Pura ilusão.
Longínqua, sempre em mutação, indefinível. No outro dia em crescente, hoje já plena, esplendorosa. Olho-a. No luar que dela parece emanar encontro outros olhares, votos que se cruzam com os meus. Sonhos, devaneios.
Logo, logo vai começar a desaparecer. Esconde-se. Depois ficará oculta. No entanto, sabemo-la ali presente, no escuro.
Mas hoje está luminosa e encerra mil promessas. Um dia. Um dia. Ah um dia. Sim, um dia.
Estive na varanda. Está uma temperatura amena. Estivemos sentados na varanda, a beber um Porto e eu comi um bombom de chocolate. Às escuras, apenas a luz do luar. Silêncio. A lua é silenciosa e cheia de segredos. Secreta como a sua luz que não é luz mas que envolve em seda e ternura os amorosos olhos que a olham.
Clair de Lune. Je suis Clair de Lune.
(Faz de conta, claro)
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Fiz as fotografias da lua há pouco. À última puxei pelo contraste, pela luz e transformei-a numa abstração.
Quem interpreta Clair de Lune de Debussy (que foi inspirado pelo poema de Verlaine) é Kathia Buniatishvili.
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