O vídeo que eu tinha para partilhar é o que aqui tenho mais abaixo. Simon Sinek é um destes novos 'gurus' cuja profissão é ser orador motivacional, consultor de marketing e autor de livros sobre os temas de que fala. Há cada vez mais pessoas que têm este tipo de ocupações. Falam bem, sabem captar o ar do tempo, criam empatia com quem os ouve -- e são muito bem pagos.
Estive a ver o vídeo e claro que Simon Sinek tem razão. E sabe expor as suas ideias: é claro, tem graça, fala de temas nos quais toda a gente se revê. Por isso o contratam, por isso o aplaudem.
Aquilo de que ele fala é um facto com o qual sou confrontada diariamente. Eu e, certamente, toda a gente. Meio mundo agarrado ao Face a ao Insta, numa dependência absurda, toda a gente a ver as chachadas que toda a gente publica, replica, papagueia. Uma cultura que se funda no imediatismo, na estupidificação, na ausência de pesquisa, de reflexão. Uma palerma qualquer diz uma parvoíce, o Face pega nisso e pespega-a no mural dos 'amigos', alguém acha graça e dá ênfase e, num ápice, a parvoíce propaga-se como fogo em pasto seco. E depois é ver as andorinhas descerebradas desta vida a papaguear a parvoíce como se fosse ciência da boa, debates, jornais, toda a gente a cavalinho na palhaçada que um tonto qualquer se lembrou de postar.
Neste caldo de pseudo-informação e galopante ignorância em que se vive ansiando pelos likes, vai crescendo a juventude.
Chegam ao mundo do trabalho cheios de convencimento, querendo tudo sem acrescentarem nada. E sempre agarrados ao smartphone.
Há excepções, claro que as há. Mal de nós todos se as não houvesse. Mas nunca como agora tenho constatado a chegada ao mundo de trabalho de adultos que não passam de adolescentes retardados, que aparecem com lemas de vida que são de uma futilidade aberrante e em quem não se detecta paixão, saber: apenas vacuidades tranvestidas de fúteis lemas de vida.
E faço notar que esta tendência me parece galopante, ou seja, a cada nova leva, mais isto se nota. E assim é vê-los, com trinta e tal anos e ainda conversa de adolescentes. Trabalham horas a fio (se for caso disso), entregam-se mesmo que seja a projectos que, espremidos, não valem um caracol, vão de férias para o estrangeiro, ao fim de semana frequentam os restaurantes da moda -- e raramente pegam num livro e, se pegam, é num livro badalado nas redes sociais e que invariavelmente é pura treta ou num livro para, infantilmente, se porem a pintar e do qual depois falam como se fosse uma sofisticada terapêutica. Não sentem necessidade de se reproduzir. Os filhos, quando chegam, chegam cada vez mais tarde porque antes disso querem eles curtir, passear, ter experiências, 'ser felizes'.
E é neste contexto que aparecem, depois, os oradores inspiracionais ou os autores de livros motivacionaisda que, no fundo, parasitam o status quo.
E a mim, que vivo num outro mundo, que, na volta, sou mesmo uma rústica ou, até, um bicho do mato, cansa-me esta sociedade que vive cada vez mais sem raízes, sem asas, sem pernas para andar, sem braços para fazer coisa que se veja -- apenas planando por cima das redes sociais.
Ainda por cima, tenho isto de saber quão perversas podem ser as redes sociais. Ainda por cima, tenho isto de achar que as pessoas estão a tender para uns objectos animados a quem desregulados impérios manipulam alegremente.
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E, andando eu -- cansada, pouco motivada -- a cirandar pelos blogs da minha galeria lateral, dou com um texto dos valentes, daqueles que, de uma penada, nos dão uma lição a sério.
Alice Alfazema escreveu Conversas da escola - Como se lava uma sanita? e eu penso que todo o post tem que ser lido.
Mas, antes, deixem que vos conte.
Quando eu andava no liceu, havia lá uma Contínua (como, na altura, eram chamadas) a quem chamávamos Menina Alice. Era forte, usava uma bata cinzenta justa com um cinto estreito na cintura e estava sentada numa secretária no corredor -- e eu gostava imenso dela. Para mim era como se fosse uma tia, uma amiga. O que ela me aconselhava e repreendia... Dizia: 'És uma quebra-corações'. Outras vezes dizia: 'Com tanto pretendentes, foste escolher o pior de todos. Tem juízo.'. Eu achava graça, gostava de conhecer a opinião dela. E ela queria saber as notas que eu tinha e eu achava graça ela interessar-se como se fosse pessoa da família. E era uma fera quando o pessoal se portava mal, quando havia rebaldaria nos corredores ou fusuê nas salas antes de chegar o professor. Impunha um respeito que ninguém questionava. Tinha-se a sensação que, se fosse preciso, ela pegaria os relapsos pelas orelhas ou pelas golas, aplicando-lhes um justo correctivo.
Mas, antes, deixem que vos conte.
Quando eu andava no liceu, havia lá uma Contínua (como, na altura, eram chamadas) a quem chamávamos Menina Alice. Era forte, usava uma bata cinzenta justa com um cinto estreito na cintura e estava sentada numa secretária no corredor -- e eu gostava imenso dela. Para mim era como se fosse uma tia, uma amiga. O que ela me aconselhava e repreendia... Dizia: 'És uma quebra-corações'. Outras vezes dizia: 'Com tanto pretendentes, foste escolher o pior de todos. Tem juízo.'. Eu achava graça, gostava de conhecer a opinião dela. E ela queria saber as notas que eu tinha e eu achava graça ela interessar-se como se fosse pessoa da família. E era uma fera quando o pessoal se portava mal, quando havia rebaldaria nos corredores ou fusuê nas salas antes de chegar o professor. Impunha um respeito que ninguém questionava. Tinha-se a sensação que, se fosse preciso, ela pegaria os relapsos pelas orelhas ou pelas golas, aplicando-lhes um justo correctivo.
Também quando os meus filhos andavam na escola, era sempre às auxiliares que eu me dirigia em primeiro lugar: gente abnegada, atenta, dedicada.
Mas, pedindo que sigam o link para lerem o texto da Alice Alfazema na íntegra, transcrevo um excerto:
(...) Não me lembro da primeira vez que tive de lavar as sanitas, algumas até desentupi-las, varrer, lavar, esfregar, carregar baldes de lixo...e voltar ao mesmo, quem tem crianças em casa sabe como é, agora multipliquem isso por mais de oito centenas. Enquanto lavava as sanitas era ainda capaz de ter de retirar as luvas, atender o telefone, ir dar um recado, ou ver outra situação qualquer e depois voltar a calçar as luvas e lavar o resto das sanitas, entretanto as pessoas iam entrando e saindo da casa de banho como se nada fosse.
Num outro momento da minha estadia na escola pedi opinião a uma professora sobre o facto de eu querer entrar na faculdade, ao qual obtive a seguinte resposta: inscreva-se, inscreva-se, que eles agora estão a aceitar toda a gente. E não havia mais nada a dizer. Calei-me. Agora que já terminei a licenciatura estou no bar a abrir carcaças e a por manteiga no pão, não tenho nada a acrescentar pois tenho uma faca com uma serrilha muito boa e a manteiga é dos Açores. (...)
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Mas voltemos, então, a uma outra face da medalha, uma medalha cujo valor facial está longe de estar protegido.
É que há motivações e motivações.
É que há motivações e motivações.
Simon Sinek on Millennials in the Workplace
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Lá em cima era Grace Davies, uma jovem tocada pela graça de saber compor e cantar.
As fotografias foram obtidas no National Geographic.
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E queiram aceitar o meu convite e descer até onde se fala de mulheres que se preparam para o Outono.
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