Acontece por vezes eu estar a passar por situações complicadas. Ainda não há muito. Eu toda angústias, medos, ansiedades. No entanto, claro que tinha que continuar a viver. Um dia vinha do supermercado e pensei que, por fora, devia estar normal. Pelo menos, via-me normal. Cruzava-se com pessoas que também me pareciam normais e pensava que nunca sabemos o que vai no íntimo das pessoas. Nem elas sabiam o que ia dentro de mim nem eu delas. Pensei: 'usamos máscaras'. Depois pensei outra coisa: 'somos fortes'.
E agora que escrevo isto lembro-me de uma coisa que não tem nada a ver mas que me ocorreu. Quando tive a menopausa não tive sintomas e, ainda hoje, não os sinto. Não faço daqueles tratamentos hormonais de substituição. Penso que deve ter a ver com o meu funcionamento hormonal mas, se calhar, não tem nada a ver. Se soube já não me lembro. Também quando estive grávida nunca tive enjoos, desejos, inchaços, mal estar, dores nas costas. Nada. Do princípio ao fim, sem outro sintoma que não o da barriga que crescia desabaladamente. Mas, na altura atrás referida, tinha uma colega que estava também a atravessar a menopausa e que sofria horrores. Afrontamentos de ficar doida, tamanha a onda de calor que subia por ela acima -- e desculpem-me o pleonasmo mas era assim que ela dizia, abanando-se: 'De morrer. Não se aguenta. Uma insolação que sobe por mim acima.' E abria a boca, quase à beira do colapso. Dizia que só lhe apetecia tirar a roupa toda, despejar garrafas de água pela cabeça abaixo. E dizia que pasmava (e, por dentro, enfurecia-se) por ver que, quando estava em reunião, as pessoas em volta dela pareciam não dar por isso. Pensava: 'Mas será que esta gente não percebe o estado em que estou...?!'. Em vez de se calarem e, em sinal de solidariedade, deixarem que a aflição lhe passasse, continuavam a falar como se nada fosse.
Se calhar de fora não se via o calor que ela sentia.
Bem.
Isto tudo para dizer que a todos nós, em certos momentos, a coisa não corre especialmente de função. Mas a vida continua e ainda bem que o mundo continua a girar normalmente e que há, aqui e ali, apontamentos de cor, de graça, de esperança.
Ao passear no Ginjal pensei que nada para melhorar a disposição do que andar por aqui, sentir a frescura do rio, deixar que a alma descanse perante a visão de uma paisagem tão magnífica e apreciar os sinais que outros vão deixando nas paredes, pintando-as, enfeitando-as, deixando testemunhos da diversidade que havida o tempo e o espaço.
Minha alma canta apenas em sinfonia.
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