domingo, julho 09, 2017

Escrever. Ter um blog.
[Uma espécie de balanço de 7 anos de blogosfera, enfeitado com mais uma reportagem fotográfica à beira-praia num dia em que quase parecia querer chover]





Ao contrário do que possa pensar quem anda na blogosfera para atenuar alguma solidão ou sofrimento, nem todas as pessoas que por aqui andam terão essas mesmas razões. Eu, pelo menos, não o faço por sentir que me falte alguma coisa ou para tentar curar alguma ferida. Longe disso. Escrevo aqui ou partilho fotografias, minhas ou alheias, ou partilho pinturas ou músicas porque gosto de o fazer. Apenas por isso.

Gosto de escrever. Uma vez, há muito tempo, escrevi uma história. A ideia é que fosse um livro. Noites até de madrugada a escrever. A ideia que tenho é que era obra com duzentas e tal páginas. Depois passei-o para disquettes. Depois mudei de computador e nem mais me lembrei do livro. As disquettes não sei onde param e, mesmo que as descubra um dia, não saberei onde enfiá-las para poderem ser lidas. Além disso, se bem me lembro, estava escrito numa coisa que se chamava DisplayWrite que já não deve existir em lado nenhum.


Faz-me um bocado de impressão a forma despegada da minha maneira de ser. Escrevo, passo à frente, praticamente esqueço o que escrevi. Desinteresso-me. Bom foi escrever. De resto, bye bye.

Anos mais tarde, comecei outra história. Pensei que o tema daria um bom romance. Lembro-me que, numa altura de vírus, coisa assim, tive a ideia peregrina de pôr uma password para o abrir. Depois calhou ter que estar uns tempos sem lhe tocar. Quando a ele quis regressar, tinha-me esquecido da password. Depois esqueci-me do assunto e, provavelmente, o computador que usava também já deve ter ido à vida.

Paciência. 

Agora, ao menos, tudo o que escrevo vai logo para o ar, já não se perde.


Quando era adolescente tinha um diário. Gostava imenso de escrever as minhas histórias, as zangas com os meus pais, as minhas aventuras amorosas, as minhas paixões escaldantes. Tudo ali relatado, sem falsos pudores, sem papas na língua.

Pois bem. Mal saí de casa dos meus pais, desinteressei-me dele (já não tinha tempo para descrever o que vivia porque o que vivia transcendia o meu tempo). Ficou lá. Ficaram também lá as centenas de cartas que, até aí, tinha recebido de amigas, amigos, namorados, pretendentes. Cartas íntimas que, na altura em que as recebia, pensava que jamais outra pessoa que não eu as deveria ler. Tudo em gavetas, disponíveis para serem lidas. Durante as limpezas que a minha mãe gosta de fazer a armários e roupeiros deve ter visto tudo. Nunca me interessei. Por vezes, pensava que o correcto teria sido meter tudo em caixas e sacos e trazer comigo. Mas nunca me apeteceu mexer um dedo nesse sentido. Era vida passada, já nada eu tinha a ver com esses tempos.


A minha filha também gosta muito de escrever. Uma vez escreveu um livro e enviou-o para um concurso. Depois escreveu outro e andou, junto de uma ou outra editora, a ver se o publicava. Numa prosa escorreita, são textos em que há sempre um forte envolvimento emocional da sua parte. E escreve versos com uma facilidade incrível. Histórias para criança em verso. Letras de canções. Tudo muito bem.

O meu filho não tem essa tentação da escrita -- que eu saiba -- mas escreve muito bem. Já aqui publiquei uns dois ou três textos dele e penso que, quem os leu, concordará com a minha opinião. A escrita sai-lhe fluida, elegante e sempre com muito sumo.

Mas a verdade é que gostar de escrever não precisa de explicação nem precisa de motivação outra que não a da própria escrita.


Acredito que algumas pessoas sintam a necessidade de confidenciar os seus estados de alma perante o mundo desconhecido, quase como se gritassem as suas amarguras no cimo de uma montanha solitária. Ou que outras se sintam tão abandonadas e tristes que a blogosfera seja o ombro que lhes falta. Ou que algumas outras tenham vontade de ajustar contas com amores perdidos ou falsos amigos e o façam nos blogs, na esperança que eles os leiam e que a exposição pública do mal feito seja a merecida vingança. Ou que alguém, carente de um abraço ou de uma paixão clandestina, use a blogosfera para estender pontes para interditos algures. Acredito.

Por vezes leio blogs e, confesso, fico perplexa ou intrigada. Parece que estão a ser feitas feias acusações em público, outras vezes percebo ali recados, textos meio encriptados talvez com um destinatário concreto que os desencriptará. Mas não acho isso mal. Nem mal, nem bem. Posso deixar de lê-los, só isso, por achar que estou ali a mais, o destinatário é apenas um e seguramente não sou eu. Os blogs são, de facto, um espaço de liberdade. Aqui cada um faz o que quer, quando quer, como quer. Os leitores são livres de os seguirem ou não. Como espaço de liberdade que é, a blogosfera é um vasto espaço em que devem caminhar lado a lado, quem os escreve e quem os lê, apenas enquanto houver prazer nisso.


A mim a blogosfera traz-me o que vos contei: é um lugar onde não corro o risco de perder tudo o que escrevo -- porque escrever, escreveria de qualquer maneira -- e é um lugar que tem trazido até mim outros bloggers, muitos leitores, pessoas com quem, venho depois a perceber, existem afinidades, tem-me trazido a partilha de leituras, a descoberta de pontos de vista múltiplos -- ou seja, tem-me trazido muitos bons momentos. Aprendo, divirto-me, delicio-me. Se eu venho para aqui já bem disposta, ainda melhor saio a cada dia que por aqui passo. Embora também já me tenha acontecido ler textos tão tristes que me sinto tentada a enviar a minha solidariedade, o meu abraço que não é feito de braços que confortem mas apenas de palavras. E já enviei.

Não ando pela blogosfera porque sinta que me falte alguma coisa mas, na verdade, estar por aqui traz-me muitas e, por isso, sinto-me bem e agradecida por, um dia, fez esta semana sete anos (e, no dia, nem me lembrei de o assinalar; apenas agora, ao escrever isto me lembrei) ter criado este blog apenas para ver como era.


Nesse dia inicial, escrevi uma mensagem que deve ter começado por se chamar: 'Para o meu amor' -- pois é isso que aparece no link -- mas que depois troquei por 'Primeiro Dia' -- e que rezava assim:
Sem plano, sem guião, sem preconceito, sem objectivo. Uma experiência apenas. Talvez comentários sobre o que for presenciando ou sobre o que penso. Umas vezes relatos reais, outras ficção. Vamos ver.
E, de facto, assim tem sido. Uma experiência apenas. Ao começar, não sabia nada do mundo dos blogs, não conhecia ninguém na blogosfera nem sabia como dar-me a conhecer. Um, dois, três leitores por dia. Depois já dez, depois vinte. Mês após mês, os leitores vinham chegando e eu sempre surpreendida, sem perceber como me tinham descoberto. Ao fim de um ano, ainda quase nada, mas sempre crescendo. Agora, todos os dias, sempre mais de mil pessoas passam por aqui. Por vezes mais, quase duas mil, por vezes até mais. Posts publicados já são para cima de 4.400. Comentários quase 15.000 e por aí ficará já que agora, para evitar aborrecer os leitores quando não lhes respondo, os suspendi. Dos mais de 2 milhões de visitas, algumas foram para posts que tiveram um número de leituras que me espantou (uma sobre Os homens do Expresso e Ricardo Salgado e o BES foi vista quase 24.000 vezes; outra, Alô, alô Juíz Carlos Alexandre!, quase 14.000: números que sempre me deixaram atónita).

Por vezes, penso que isto me absorve demais, que devia parar. Outras vezes, tenho vontade de me dedicar a outras coisas (porque ficar sem fazer nada é que nem pensar). Mas a verdade é que o gosto por escrever se tem sobreposto, sempre. Não sei por quanto tempo mais por aqui andarei mas, enquanto andar, andarei de gosto. Espero que também vão gostando de me acompanhar. Sentir-vos aí desse lado, na verdade, é a melhor parte disto tudo.


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Um abraço a todos e, nele, o meu sentido agradecimento.

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E um belo dia de domingo a todos quantos por aqui passam.

Be happy
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