segunda-feira, maio 01, 2017

Se tu viesses ver-me




Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

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Estaria, em sua casa, ardendo de amor e saudades. Talvez fosse à janela, talvez tentasse ver se, ao longe, se acercava o seu amor. Talvez afastasse as cortinas para que melhor a luz entrasse. Talvez as corresse para que a solidão e a tristeza melhor a envolvessem.

Não moraria, então, já nesta casa que hoje está abandonada, janelas abertas, sem dono, na qual viveu enquanto menina e moça, assinando, então, os seus textos como Flor d’Alma da Conceição.


Aqui vivu Florbela Espanca nascida em 1894 em Vila Viçosa, batizada como Flor Bela Lobo e que optou por se autonomear Florbela d'Alma da Conceição Espanca. 

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8 comentários:

Ana disse...

Pirilampo
Cara UJM,
Também acho que bordeja com nível. Muito nível, sim senhora.
Estou um pouco atrasado, mas mar do sul depende do ponto de vista. Para mim, é lá para o Pacífico Sul.
Quanto a este último post, se pudesse bem que iria vê-la, assim como à Florbela.Aprenderia tanto convosco. Meu Deus, como aprenderia...(a escrever, a ter essa riqueza cultural e de vida, etc...)
Mais do que as duas e mais alguns autores, só está quem me domesticou, me cativou (e domesticar um pirilampo, deixando-o em liberdade, parece fácil, mas não é).
Obrigada Sra. D. UJM pelos seus posts e o seu "savoir-faire". Já não passo sem eles.

Pirilampo

Fernando Ribeiro disse...

A casa em que Florbela Espanca se suicidou não se encontra em melhor estado. Alguns pormenores da biografia de Florbela em http://coisasqueseescrevem.blogspot.pt/2012/08/florbela-espanca-e-matosinhos.html.

bea disse...

Entristece-me a alma que se deixe assim ao abandono o que é memória nossa. O que devia ser orgulho e vira indiferença. A herança mais válida e que nos foi legada em mão.
E as minhas palavras soam a queixa desnecessária, falam do passado, não cumprem com o progresso nem se referem à utilidade imediata das coisas e das pessoas. Desinteressam.
E assim vamos deixando pelo caminho, em imperdoável esquecimento, património e portugueses de valor, gente que nos ajudou a ser.
Estranha Vida Moderna!

Um Jeito Manso disse...

Olá Pirilampo,

Detecto nas suas palavras a ironia, coisa que não conseguiu detectar nas minhas. Contudo, para os que têm essa dificuldade, tive o cuidado de dizer que, para mim, abaixo do Alentejo é sul e que os mates, a partir daí, são mares a sul e que, se abaixo do Algarve, então é sul, sul, sul.

Mas, enfim, deixe lá.

Agora uma coisa: já que diz que teria muito a aprender comigo, aqui vai já a primeira lição-

1. Ou bem que o Pirilampo é homem e, então, tome nota: os homens dizem 'obrigado' e não 'obrigada'

2. Ou bem que o Pirilampo é Pirilampa e, nesse caso, não está 'atrasado' mas 'atrasada'.

Mas olhe, deixe lá, há coisas piores. E venha sempre que gosto de sabê-lo/a por aí.

Uma noite tranquila para si, P.

Um Jeito Manso disse...

Olá Fernando,

Já vi. É uma pena. Custa ver a casa de pessoas cuja obra admiramos assim, ao deus-dará.

E não é só uma 'pena' cultural. Há hoje e cada vez haverá mais um turismo cultural, que, ao visitar uma terra quer conhecer o que há 'para ver', especialmente o que tenha qualquer coisa a ver com cultura.

Vila Viçosa, penso eu, e reportando-me à casa que vi e fotografei, teria a ganhar se a casa fosse reabilitada e o ambiente recriado, ficando em condições para ser visitada, em que se ouvissem poemas, por exemplo.

O que hoje acontece é que castelos ou outros equipamentos histórico/culturais fecham cedíssimo e pouco mais há para visitar.

Claro que em grandes cidades como Lisboa ou Porto a oferta é muita e há sempre muitas coisas para visitar mas, no interior, em pequenas cidades, a oferta cultural poderia basear-se no que em em volta de figuras da terra ligadas à cultura.

E obrigada por, como sempre, aqui deixar apontamentos de aprendizagem ou reflexão.

Um abraço, Fernando.

Um Jeito Manso disse...

Olá bea,

É mesmo. Ao contrário dos espanhóis, por exemplo, ou os alemães ou, mesmo, os franceses (e ne sei porque é que estou a lembrar-se agora mais destes), que acarinham os seus artistas e sabem valorizar o seu legado, os portugueses são assim. Mobilizam-se todos por impulsos parecendo serem altamente empenhados em causas mas, na verdade, militam, em geral, na mais profunda indiferença.

Vultos grandes da nossa cultura que, partindo, anos depois, são votados ao esquecimento e abandono, é coisa que custa ver.

Era bom que as autarquias pensassem nisto e percebessem que a cultura atrai turismo e o turismo cria emprego e riqueza (e isto já é o meu lado prosaico a falar).

Ana disse...

Nestas noites de insónia, já não me apetecendo fazer mais nada, pus-me a reler aqui no blogue os posts, comentários e as suas respostas, até estes mais atrasados.
Só queria dizer-lhe que foi muito dura com o "Pirilampo" (nem sei como é que ele não reclamou:não deve ter visto.) só por causa de uma letrinha que ele trocou no "obrigada". Repare no comentário que a UJM fez em cima, onde "comeu" e trocou algumas letras também (o que, diga-se de passagem, é normal).
Depois não acho nada que ele estivesse a ser irónico, antes pelo contrário, dá ideia que tem grande admiração por si.
Este reparo é mesmo de quem precisa de passar tempo, pois não tenho nada a ver com isso.
Boa noite.

Um Jeito Manso disse...

Olá SrªD- Ana, bom dia!

Acha mesmo que deu a ideia de que me estava a armar em durona com o pobrecito Pirilampo?

Não era nada essa a ideia, pobre coitado dele, tão simpático mesmo. Apenas quis corresponder às expectativas por ele manifestadas. Dizia que tinha tanto a aprender e eu quis que ele aprendesse logo qualquer coisita. Mas era brincadeirinha claro. Eu que, se calha reler qualquer coisa que escrevo, detecto falta de letras ou letras a mais, falta de vírgulas ou vírgulas a mais e tanto digo coisas a sério como coisas na brincadeira sendo, talvez, difícil a quem lê perceber quais são quais, não posso dar lições a ninguém.

Mas, para o caso de ter soado a rabecada a sério, aqui fica a ressalva: ironia e brincadeira e nada mais.

E gosto de a saber cirandando por aqui mas, ainda assim, desejo que a próxima noite não seja de insónia.

Noites descansadas e dias bons, Ana.