domingo, abril 02, 2017

Amuse-bouche antes de um post que hei-de escrever sobre Paula Rego e Maria Antónia Palla


[Post em grande parte escrito na noite de sábado]

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Estou nisto. Com vontade de escrever sobre a Paula Rego e sobre a Maria Antónia Palla e, tal a pancada, só a adormecer. Para ver se me mantenho acordada vou escrevendo sobre fait divers, coisas que me divertem.

Conto como foi o meu dia? 

Conto. Mas vamos ao som de JT Coldfire a interpretar She's Crazy.


Depois de anos sem ir ao cabeleireiro, foi-me recomendada esta jovem muito serena e habilidosa, que me fez ter vontade de reincidir depois de há uns dois meses ter lá ido dar um valente corte.

Este sábado de manhã lá fui. Ela achou que o cabelo estava de bom tamanho, não estava com vontade de o cortar. Talvez apenas tirar algum volume, não...? -- tentou ela convencer-me. Mas não. Disse-lhe: Corte. Tire volume mas também altura. Um falso curto. Assim fez ela. Na outra vez pedi que, depois de cortar, me deixasse com ar despenteado. Expliquei que não consigo ver-me com ar de 'senhora, penteadinha'. Hoje, mostrando que tem boa memória, depois de umas tesouradas valentes, confirmou: 'Despenteada? Só secador?'. Mas desta vez foi mesmo para mudar. Cabelo pela nuca, curto e 'liso, penteado'. Ela ficou admirada mas assim fez.

O meu marido foi lá buscar-me. Quando me viu, riu-se: 'Estás diferente.' Não me chega. 'Mas bem?' Que sim, bem. Mas eu conheço-o. Sabe que se vacilar não vou calar-me com perguntas, mas porquê? etc e tal. Mas acrescentou 'Podias até ter cortado mais'. Gostava de me ver com cabelo cortado muito curto. Ficava com ar de francesa, diziam-me. Mas agora mete-me um bocado de medo dar uma rapada como antes dava. Nessa altura nem me ocorria temer que não me ficasse bem. Agora ocorre-me. 

De tarde tivemos uma dupla festa de anos. Todos na casa da bisa, festa rija. Quando me viram, todos: 'Tão penteada...'. O meu filho disse: 'É a primeira vez que vejo a mãe penteada'. Até a minha mãe que passa a vida a queixar-se que não me penteio, estranhou: 'Não sei... parece que gosto mais de te ver com o cabelo todo solto...'. Solto ele está agora, está é esticado, liso, penteadinho.

Vejo-me ao espelho e só me apetece lavar já a cabeça para voltar a ser quem sou. Mas, enfim, também há que curtir estar com uma mudança de visual tão radical.

De qualquer forma já resolvi: agora vou deixar crescer mais para depois fazer um penteado com tranças.

Mas, portanto, festa de anos, a criançada a jogar à bola, a brincar, a virar a casa da bisa do avesso. 

Depois, enquanto alguns rapazes da família com gostos estranhos (Benfica ou Porto) foram ver futebol na televisão, os sportinguistas separarm-se e foram, juntos, jantar à praia.

Concluindo: só cheguei a casa lá para as dez e meia da noite. Ou seja, tinha saído de manhã e só regressei cerca de doze horas depois. Cansada.

De manhã, ao ir a pé para a cabeleireira, por causa daquelas duas mulheres, a Paula e a Maria Antónia, tinha aberto uma excepção no jejum de Expresso. Portanto, durante o tempo em que estive na cabeleireira, estive a ler os artigos sobre elas, a ler as crónicas do Mexia (sobre poesia, razoável), do Tolentino Mendonça (sobre os jovens que não pegam num livro, sempre agarrados ao telemóvel -- muito cheia de lugares comuns), da Clara Ferreira Alves (sobre tretas, um puro exercício de populismo escrevinhador), as críticas literárias (que, algumas, tenho que reler). A questão é que, ao lado, uma jovem estava a fazer unhas de gel e a conversa delas, a jovem e a artista das nails (brilhantes? dourados ou prateados? desenhos? cornucópias multicores sobre fundo rosa? borboletas sobre fundo verde? desenhos geométricos?) distraía-me. 


Enfim. Logo lá na altura em que li sobre as referidas duas mulheres livres resolvi que tinha que escrever sobre elas -- são duas mulheres de se lhes tirar o chapéu. Ao vir para casa, à noite, no carro, vinha também a pensar isso. Depois, entre adormecimentos e posts que tentavam despertar-me, tinha ainda isso em mente. E, agora, estou com isto e, em vez de escrever, estou como o ga-ga-ga-go, a escrever para explicar porque é que não escrevo.

Mas é que, para falar delas, tinha que estar acordada e não estou. Acho que nem consigo rematar isto, na volta fica para domingo de manhã.

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E teve mesmo que ficar para domingo de manhã: ilustrar, escolher banda sonora. De corrida, claro está, que durante o dia os afazeres não são compagináveis com fescuras blogísticas. Portanto, é isto. A ver se mais logo faço o gosto ao dedo.

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Para perguntas e respostas à maneira sobre a gravidez é só descer até ao post seguinte.


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1 comentário:

bea disse...

Escreva sobre elas, pois. Também me parece que valham a pena.