Já abaixo, a propósito do livreiro que deixou um recado a dizer que ia pescar bruxas, eu dizia que a gente, à medida que a idade avança, se vai habituando a tudo.
[Bem, a tudo, tudo, não.
Por exemplo, vi há pouco aquele troglodita que dá pelo nome de Bruno de Carvalho a pseudo-cantar, com um cachecol ao alto, uma canção indescritível e, noutro momento, a inventar que o tio-avô Almirante Pinheiro de Azevedo tinha dito bardamerda para os que não são sportinguistas e confesso que, para momentos destes, a minha pobre alma ainda não está preparada. Também não estou preparada para que mais de oitenta por cento dos sportinguistas tenham votado nele. Pensava eu que era um clube maioritariamente frequentado por gente racional e com os cinco alqueires bem medidos. Afinal, constatei com consternação que algumas pessoas que tinha por boas da cabeça o apoiaram. Por isso, pensando bem, acho que ainda tenho que viver mais mil anos para conseguir encaixar tamanhas imparidades sociais no meu limitado intelecto.
(E não façam uma leitura literal do que escrevo pois, em especial quando estou transtornada, uso palavras de forma algo disfuncional.)]
Mas, portanto -- peripécias envolvendo o conselho de arbitragem à parte (que não sei que peripécias sejam mas que acontecem a torto e a direito, que bem vejo as televisões sempre debruçadas sobre tão relevante problemática) e Madeira Rodrigues versus Bruno de Carvalho também à parte -- dizia eu que uma pessoa, tanto vive e tanto vê, que já está quase por tudo. Indo Rua da Misericórdia, acima a caminho do Príncipe Real, dou com o curioso casal que abaixo vos mostro.
Ela ajeitando a liga, sapatos de salto alto encarnados, seios desnudos e ele olhando, mãos nos bolsos, alguma displicência.
Não sei a que propósito estava ali aquele par de jarras, metido naquela montra, nem sei porque é que a mulher está tão focada naquela tarefa e o homem tão desinteressado. Ou será que a expressão do homem não revela desinteresse mas, sim, impaciência? Ou uma mal disfarçada curiosidade?
E depois, já lá mais para baixo, já descendo o Chiado, uma outra mulher em roupa interior. Mas, esta mulher, bem comportada, com uma lingerie boa para meninas pudicas e casadoiras ou para senhoras bem comportadas. Recomendo a algumas das minhas leitoras, especialmente àquelas a quem a idade mental já pesa. Seja como for, saiba-se que há ainda pior. Por exemplo...
(ai o que eu agora dizer, de quem eu ia agora falar... -- felizmente, a minha censura interna puxou-me os freios a tempo).
Já na Rua do Alecrim, uma bela mulher à porta de uma loja. Alva carnadura, encalorada, vestes ligeiras, seios miúdos. toda ela graciosidade, meia desnuda.
Antes, tinha passado pela Hèrmes e ali estava não uma mulher de corpo inteiro mas uma mulher de costas, um lenço turbanteando a sua bela cabeça, e apenas e pouco mais que a cabeça, a nuca, o início das costas. E está, certamente, desnuda porque uma mulher elegante veste-se com a sua graciosidade e qualquer amparo para os seios é desnecessário e qualquer vestido ou capa é futilidade sem propósito.
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E não deixem de descer até ao post seguinte, caso queiram ver o recado do pescador de bruxas.
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