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Um dia bom, preenchido, cheio de risos e alegrias. Faço o resumo em traços muito largos: caminhada matinal com expedição fotográfica, compra de fruta nos indianos, depois atum braseado com ceviche de manga e batata doce laminada ao almoço, praia ao princípio da tarde, a criançada toda a correr, a jogar à bola, a descer as colinas a rebolar (colinas não: dunas), o bebé a estrear-se com os ares do mar, depois lanche colectivo numa esplanada e, mal a barriga aconchegada, os mais pequenos a correrem e a brincarem (o bébé ainda não, e eu lembro-me dos manos e primos que eram assim, uns texuguinhos fofos, bebés lindos, bons de ter ao colinho, nos miminhos, e que, passado pouco tempo, já andavam a armar confusão -- e, por isso, olho com antecipada saudade porque sei que, não tarda, andará a virar-me a casa do avesso com os outros quatro; mas, para já, com um mês e meio, limita-se a mamar, a dormir e a olhar o mundo com algum espanto); depois mais uma futebolada com os rapazes, desta vez num relvado; depois rápida vinda a casa para mudar de roupa e ala que se faz tarde, pizza de frango, cogumelos, maçã e banana ali para as bandas do Campo Pequeno; depois a festa dos UHF Sinfónico com quase toda a gente a cantar e a dançar e, para meu espanto, algumas pessoas comovidas, inclusivamente a chorar.
E, depois... cá estou, os comentários e os mails lidos mas as fotografias da passeata matinal e da maltinha toda até à noite ainda estão na máquina; já não tenho energia, a esta hora, para me pôr a passá-las para o computador. Para aqui colocar, vou buscar algumas que fiz, in heaven, no fim de semana passado, com a primavera a despontar.
Se aconteceu alguma coisa de relevante durante o dia, não faço ideia. Enquanto escrevo, passa na SIC Notícias um programa muito interessante sobre Slahi, um mauritano, com um ex-prisioneiro de Guantanamo. Sorri enquanto fala. Um homem que passou por experiências limites, sujeito a interrogatórios sucessivos, torturado, com frio, sem dormir, arrastado, obrigado a beber água salgada, agredido, chantageado -- até que quebrou e decidiu dizer tudo o que eles quiessem que ele dissesse. Diz que fez um mau negócio ao confessar crimes que não tinha cometido. Entretanto, tornou-se amigo de um guarda, aprendeu inglês (e não sei se mais alguma língua), escreveu vários livros. Não foi acusado, não foi condenado. Parece-me ter ouvido que lá esteve 15 anos. Tem agora 46 anos e mantém intacta a dignidade. Reaprende a viver em liberdade. Ainda tem pesadelos mas diz que a dor e o sofrimento fazem parte do processo de crescimento. Um documento tocante.
Se aconteceu alguma coisa de relevante durante o dia, não faço ideia. Enquanto escrevo, passa na SIC Notícias um programa muito interessante sobre Slahi, um mauritano, com um ex-prisioneiro de Guantanamo. Sorri enquanto fala. Um homem que passou por experiências limites, sujeito a interrogatórios sucessivos, torturado, com frio, sem dormir, arrastado, obrigado a beber água salgada, agredido, chantageado -- até que quebrou e decidiu dizer tudo o que eles quiessem que ele dissesse. Diz que fez um mau negócio ao confessar crimes que não tinha cometido. Entretanto, tornou-se amigo de um guarda, aprendeu inglês (e não sei se mais alguma língua), escreveu vários livros. Não foi acusado, não foi condenado. Parece-me ter ouvido que lá esteve 15 anos. Tem agora 46 anos e mantém intacta a dignidade. Reaprende a viver em liberdade. Ainda tem pesadelos mas diz que a dor e o sofrimento fazem parte do processo de crescimento. Um documento tocante.
Parece que só se consegue ver programação de jeito depois da uma da manhã. Aliás, páro de escrever, ponho-me a prestar atenção à televisão e o tempo passa, as duas da manhã já lá vão.
Dei uma volta pelos blogs. Há os de intervenção, os que intrepidamente se atiram à crua realidade, há os da tranquila flanação, há os que falam de livros ou de futebol, há os que falam de coisas simples, há os que enviam laços ou recadinhos de amor, há os que mostram o puro prazer da escrita -- e há os que falam de uma profunda solidão. Sempre que leio um destes últimos tenho vontade de lá ir deixar um abraço. Mas sinto que, certamente, seria preciso muito mais que um abraço virtual. Inibo-me, parece-me ingenuidade a mais, a minha, pensar que alguém que fala das suas tristezas e vazios poderia sentir-se melhor ao ler 'um abraço'. Não é fácil a gente lidar com os outros, especialmente quando não se está perto para poder ajudar de verdade. Mas o que me custa ver esses silenciosos lamentos e constatar que ninguém lá deixou um comentário, uma palavra de afecto.
Por exemplo, penso tanto numa blogger de quem eu tanto gostava e com quem troquei tantos mails. A vida dela, tão diferente da minha. E, no entanto, como eu me sentia próxima dela. A mãe com Alzheimer. A falta de dinheiro para fazer face a tantas despesas. Ninguém mais na família, apenas ela e a mãe. Penso que quero saber dela, poderia escrever-lhe mas parece que sinto que, ao ler o que ela me diria, iria sentir-me tão impotente, tão impotente. Como se ajuda uma pessoa que apenas conhecemos da internet e que está longe de nós e que não tem com quem dividir medos, tristezas, preocupações, inseguranças, trabalhos, despesas? Tão difícil a vida de uma pessoa assim, tão difícil...
Quando falo da minha vida fácil, cheia de passeatas, almoçaradas cá em casa numa mesa que vai esticando e que é cada vez mais curta, algazarras, cantorias e risotas, penso sempre que tomara que seja para quem está só aquilo que uma vez me disseram e tanto me tocou -- que lendo o que escrevo é como se eu fosse a família que não têm. Tomara que o contraste não faça com que, quem está só, se sinta ainda mais triste. Tomara que não, tomara que as minhas palavras levem alguma alegria, façam alguma boa companhia.
Muitas vezes é pensando em alguns que escolho alguns temas, algumas imagens, algumas músicas, para que, se ainda me lêem, saibam que me lembro deles.
Muitas vezes é pensando em alguns que escolho alguns temas, algumas imagens, algumas músicas, para que, se ainda me lêem, saibam que me lembro deles.
Sei que mudo muito de assunto, que falo de interesses que são muito diversos, sei que, se calhar, por escrever às tantas da noite, sem pensar e sem rever, os textos devem aparecer com pouco apuro, sei que este espaço deve ser um bocado inqualificável. Mas gostava que soubessem que, esteja eu a ficcionar, a parodiar, a invectivar ou a escrever como agora, à toa, estou sempre a ser muito genuína. Nunca escrevo para 'me armar', para impressionar, para enganar, para agradar. Se calhar umas vezes agrado, outras irrito. Nada a fazer: estarão certos se disserem que isto 'tem dias'.
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Agora está a dar o Eixo do Mal, em repetição. Quem vive de debitar opiniões a torto e a direito durante anos a fio, acaba por se tornar leviano, dizendo o que calha, uma coisa e o seu contrário. Não aprendo nada com o que estes para aqui estão a dizer.
Fico-me, pois, por aqui.
Deixo-vos com este meu anjinho a quem caíram as asinhas. Não faço ideia como foi ou quem foi nem isso interessa: apareceram caídas. Mas gosto de ver assim e, por isso, ainda não as colei. Parece que assim fica mais bonito, mais humano.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom dia de domingo.
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9 comentários:
Mais um rebento. :) Lindo!
Beijinhos
Olinda
Belíssimas fotos de um passeio, em o que se lê como um belo dia. Bom Domingo!
Não é sensato exibir uma vida fácil e grandes alegrias. Há nisso algum despudor. E é ingenuidade acreditar que alguém pode encontrar o que não tem na leitura do que outra pessoa tem. Mas é apenas uma opinião, claro. Se lhe dá prazer manter este registo, mantenha-o.
A UJM é uma muito boa companhia. ;)
E o seu blogue é inqualificável, sim, creio que lhe disse isso, embora por outras palavras, aquando daquele vídeo. ;)
Boa semana.
Olá Olinda,
Sou uma penta-avozinha! Consegue imaginar? Até a mim isto me espanta. Melhor que a super-avozinha: eu rodeada de pimentinhas e o meu marido a dizer que eu consigo ser ainda pior que eles!
Obrigada, Olinda.
Olá Ana Vasconcelos,
São fotografias do campo que rodeia a minha casa e a que eu, justamente, chamo 'heaven' porque há uns anos, quando para lá fomos, era apenas mato rasteiro e pedras e agora, depois de um trabalho quase insano, é um bosque verdejante e florido. E muitas pedras, ainda. E claro que isto é a minha veia optimista a falar porque, se fosse o meu marido, ele dir-lhe-ia que aquilo está 'um matagal'.
Seja como for, para mim é uma maravilha, a natureza em toda a sua pujança.
Obrigada, Ana, e uma semana feliz para si!
Olá Leitor/a Sensato/a e Púdico/a,
Achei o seu comentário tão interessante que tomei a liberdade de lhe dar visibilidade de página principal até porque me permitiu juntar alguns comentários de minha lavra.
Desejo que a semana que aí vem lhe traga motivos para sorrir. E as semanas que se lhe seguirem também.
Felicidades.
Olá Gina-boa-onda!
Olha quem fala. Inqualificável o meu...?! E o da menina...? Há lá coisa mais desconcertante, surpreendente e bem disposta do que o seu blog, Srª Dona Grafómana? Jamais.
Que assim continue e que tenha sempre junto a si quem a saiba captar tão irreverente e jovem.
Obrigada, Gina. E dias felizes para si.
A sua resposta fez-me rir. Obrigada. ;)
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