segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Uma vez mais, as boas vindas a este mundo





O pai destes meninos, por razões que não podia antever, teve que ir para fora, em Janeiro e até princípio de Fevereiro, uma mais duas semanas. Uma na Europa, fim de semana cá, mais duas semanas nos States. 

Dado que em Fevereiro seria, não era prudente que a mãe dos meninos ficasse sozinha com eles em casa.

Depois, percebeu-se que, se calhar, a encomendinha chegaria um pouco mais cedo que a data prevista. Não fosse dar-se o caso, o pai veio um dia mais cedo. Cheio de jet leg, chegou esta sexta. Durante o dia de sábado recuperaram as saudades.

Este domingo, bem cedo, meninos na casa dos avós maternos e ei-los, aos dois, de mala aviada para o hospital.


Durante o dia, fomos trocando mensagens, eu e ele. Tudo bem. Passado uma ou duas horas: Na mesma. Mais tarde: Tudo bem, na mesma. E eu: As contracões estão menos espaçadas? Ele: Mais ou menos. E eu: Mas quanto de intervalo? Ele, certamente já farto da ansiedade da mãe: Não sei, não trouxe cronómetro. Mais tarde: E dilatação? Tem? Quanto? E ele, Acho que sim, uns centímetros, poucos. Depois eu a sugerir ir buscar os meninos e ir para um jardim perto para, just in case, estar por perto. Que não, tudo atrasado. Um pouco antes das sete, para ir buscar os meninos para dormirem cá em casa. Tudo atrasado. Mensagens entre a família, tudo na mesma. Pergunto onde estão as coisas em casa dele, mochilas, essas coisas. Ele diz-me que a menina sabe dizer tudo o que é preciso, onde está tudo. Tem seis anos mas não há coisa que lhe escape.

Então lá iniciámos a manobra: lá fomos buscar os meninos, conversámos, deve ser lá para a madrugada, dizia a mãe da parturiente. O pai, sabendo que estava para durar, tinha ido ao futebol com um outro filho. Depois lá fomos a casa deles buscar as coisas (como contei no post abaixo). Ela a guiar-me. Amanhã é dia de ginástica, tenho que levar a roupa, podem ser aquelas leggings, podem ser aquelas meias aderentes. E o mano tem judo, tem que levar o fato. E agora a mãe mudou a roupa, as meias e as cuecas do mano estão nesta, as minhas aqui. Tudo organizado por ela. E a luz de presença, e o pandinha para o mano e o flamingo para mim. Lá viémos. Banhos, despachar para jantar e ir dormir. Vá. Vá... Vá lá...

Estou a chegar com ele ao quarto, ainda embrulhado na toalha do banho, um telefonema. O meu filho. Pensei que queria saber se tínhamos dado com tudo, se tínhamos fechado a casa.

Não.


'Já nasceu!'.

Uma alegria. Uma alegria imensa. E eu 'mas então, dizias que estava atrasado...'. 'Estava. Mas de repente já cá estava fora, nem cinco minutos'. E eu, numa alegria 'E está tudo bem, filho?'. 'Tudo, tudo bem'. 'Ai, que bom, que alegria tão grande. Conta, conta, como é'. E ele 'Igual aos outros, são todos iguais, cor de rosa' e eu 'tira uma fotografia'. 'Já tiro, foi mesmo agora, ainda está a ser preparado'. E os meninos aos saltos em cima da cama, 'já nasceu o mano!'. Telefonei logo à minha mãe, à minha filha, à outra avó. O meu marido, emocionado, veio dar-me um beijo. Parabéns. Mais um. Desejo felicidades ao bebé, aos pais do bebé, aos manos, à família toda. Meus ricos meninos, que alegria. E, estava eu nisto, nova mensagem. Dele, do meu filho, agora uma fotografia. Um bebé pequenino, de gorrinho, já de olho aberto, a mamar, a mamã tranquila, sorridente, feliz,

Todos em cima do telemóvel, o telemóvel em bolandas, de mão em mão, todos a aumentar a imagem, todos a quererem ver melhor. Encaminho as fotos para a família. Começam a chegar mensagens de volta. 'Parece-se com quem?'. 'Tem o nariz igual ao do mano'. Não sei ver isso. Mais telefonemas. Queremos dizer da nossa surpresa e alegria de viva voz. Queremos desejar felicidades a todos, queremos dar parabéns uns aos outros.


É o quinto pimentinha. Agora são quatro pimentinhas rapazes e uma menina. De cada vez que chega uma nova criança às nossas vidas é esta alegria. Parece que é a primeira vez. E é. Com cada nova pessoinha, é a primeira vez.

E a este menino lindo eu desejo o que desejei aos seus dois maninhos e aos seus dois priminhos: que tenha uma vida longa e feliz, que tenha sorte, que tenha saúde, que encontre sempre motivação para fazer mais e melhor, que saboreie o reconhecimento, que lute por um mundo melhor, que saiba ser generoso, que seja compreensivo para com as faltas alheias, que olhe pelos que precisam, que seja sempre uma boa pessoa, que vá atrás dos seus sonhos, que se sinta realizado pelas pequenas coisas que vá alcançando, que não desanime quando as coisas não lhe forem fáceis, que saiba ser feliz.

Os tempos estão incertos e o futuro não sabemos bem o que vai ser. Mas sempre foi assim. Quando engravidei do pai deste bebé, o meu pai disse, com preocupação, 'agora que as coisas estão tão más...?'. Não gostei de ouvir isso ()e ele também nem mais se lembrou desses medos, pois foi sempre um avô devoto dos netos. Eu estava tão contente. E os tempos maus melhoraram e é sempre esta cadência. Não há tempos bons ou tempos maus, há é uma sucessão de acontecimentos que umas vezes nos alegram e outras nos desconsolam.

O que desejo é que os homens, nós todos, um dia destes, o quanto antes, de preferência, consigam ter inteligência para que o mundo se torne um lugar bom para acolher novas vidas e para tratar bem as vidas de quem que cá está.


E aos pais deste menino desejo aquilo que já tantas vezes lhes desejei tal como desejei aos pais dos meus outros doces pimentinhas: que tenham também uma vida longa e feliz, que consigam sempre protegê-lo (até onde isso faça sentido, claro) e transmitir-lhe os bons valores desta vida e, sobretudo, que saibam ensiná-lo a respeitar a vida -- porque ela é um dom precioso.

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Enquanto escrevo, estou a trocar mensagens com a mãe do bebé. Diz-me que chegaram os dois, ela e o bebé, agora ao quarto, pergunta-me por estes meninos que aqui dormem, digo-lhe que dormem descansados. Diz-me que o bebé é lindo e envia-me fotografias. É lindo mesmo. E tem umas mãozinhas que são uma ternura. Digo-lhe que agora descanse, que daqui a nada já ele deve estar a querer comer mais. Diz-me que já mama a sério, o malandro. Derreto-me a ver as fotografias. Tomara que chegue a hora de estar com ele ao colo, tocar naqueles dedos tão bonitos, olhá-lo de perto, bebé mais querido.

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E é isto, meus Caros Leitores. Daqui a nada chega o meu filho que vem tomar o pequeno almoço com os filhos. Depois, à hora de almoço, vai buscar os meninos à escola e vai levá-los a ver o maninho. Eu e o meu marido e a minha filha lá estaremos. Presumo que os dois primos pimentinhas não vão pois seria uma logística complicada com as escolas. Os outros avós também lá devem estar. Não sei se os irmãos dela e as cunhadas também irão, talvez não, talvez esperem que vão para casa. Uma das cunhadas não deve ir de certeza. Foi mãe há poucos dias. O sexto neto da outra avó.

A vida é assim, um constante devir. E eu sinto-me tão agradecida por sentir tantas alegrias. De cada vez que um filho nosso tem o seu próprio filho é, para nós, uma alegria maior. Falo por experiência própria. Numa das fotografias, está o meu filho a rir, a cara encostada à caminha, junto ao bebé. Há tanta felicidade nela que eu me comovo só de os ver, ele e o seu terceiro filho.

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As pinturas que aqui deixei são de Picasso, Mary Cassatt e Berthe Morisot

Lá em cima coloquei  'O meu menino é d'oiro', a cantiga que o ex-'mais novo' esteve a cantar antes de se ir deitar.

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Percebem, agora, porque abaixo partilhei convosco a Ode à Alegria

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