Numa Lisboa que se renova, em que muralhas, edifícios seculares, prédios recentes, igrejas, pátios e escadinhas, azulejos, graffitis, alfacinhas de gema, alentejanos, franceses, ingleses, espanhóis, brasileiros, japoneses, e sei lá que mais, tudo se mistura, há um elemento que se eleva com uma elegância quase etérea: a grua.
Por vezes está ali, no meio de nós, e pode até acontecer que, lá bem no alto, algum outro nos olhe de e veja, com superioridade, insignificantes seres que formigam pelas ruas. E nós, que cirandamos pelas ruas, nem nos lembramos de tentar descobrir se, lá junto ao céu, em solidão, está alguém a manejar aquele longo e sobre-humano braço.
Mas, outras vezes, nós, por cima do casario, mal a vemos. A grua está, então, disfarçada, um ângulo subtil desenhando um voo sobre o horizonte ou escondida por entre as cores -- e não se vê uma única pessoa, dissolveram-se na cidade, e acredito que ela tem vontade de se dissolver também.
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[* Ver 'A Grua' de Henrique Manuel Bento Fialho sobre vídeo de Sara Pinto, in Antologia do Esquecimento]
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E queiram, por favor, continuar a descer que abaixo há mais um postal de Lisboa, desta vez com alguns actos desesperados de Dindinha.
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