sexta-feira, janeiro 06, 2017

O futuro está a chegar.
[E cuidado com ele...]




Não é novidade para quem por aqui me vai acompanhando: eu própria já me movi em terrenos relativamente próximos da inteligência artificial e, oh céus, eu própria me surpreendi com a correcção e capacidade de decisão daquilo que eu própria tinha idealizado e que, perante situações reais, processava mais informação, em menos tempo e melhor que eu.

Há mundos que, por quem deles se abeira, devem ser vistos com respeito, forte sentido de ética e com instinto de sobrevivência.

Podemos desenhar modelos e conceber mecanismos que sejam melhores que nós em determinadas funções. Fazê-lo, para quem o sabe, é canja. Mas não devemos também deixar de ter presente que mesmo que invisíveis, há linhas que devem ser vistas como linhas vermelhas. As tentações, nestes domínios, são perigosas armadilhas. 

No outro dia já aqui falei de bonecos de aspecto humano e que, ao contrário das vulgares bonecas sexuais (antes simplesmente insufladas), inertes e desanimadas, são animadas, falam, respondem com inteligência e que até já estão a ser preparadas para demonstrar emoções e para serem sexualmente interactivas. 

Pode parecer que tem piada.


Imagino: aqui ao meu lado, um tarzan, todo giraço, e eu: 'lindo, diz-me um soneto de Shakespeare' e ele, prestável, voz timbrada, simpático,
All the world’s a stage,
And all the men and women merely players;
They have their exits and their entrances,
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages. (...)


E depois eu, 'fofo, agora dá-me um beijinho' e ele, cortês, a debruçar-se sobre mim e a perguntar-me com ar malicioso 'onde, madame...?'.

Muita graça. E, no entanto, graça nenhuma.

Deve ser uma coisa como, quando os bebés estão habituados a mamar do peito da mãe, em que têm que fazer força para puxar o leite, em que encontram sabores diferentes -- e depois um dia experimentam beber leite artificial pelo biberon e nunca mais querem outra coisa. Assim eu com o tarzan. Às tantas, tão simpático, tão disponível, tão prestável a toda a hora, tão fofo, tão diseur, quiçá cantador de baladas, quiçá até arranjava um que tocasse piano, ou, quiçá até que dançasse o tango --- e eu, esperta, pensava 'mas pera lá aí, com este tarzan que nunca protesta com nada e que tem o feitio de um santo, para que é que eu quero este aqui ao lado, que qualquer dia vai para velho, que se chateia quando tiro mais de mil fotografias e que acha sempre que faço comida a mais quando cá vem alguém e não pára de me chamar para me perguntar se eu estou à espera que ele fique a comer restos durante uma semana...? Ná. Fico mas é com o tarzan.'

O drama é que o meu marido poderia arranjar também um sucedâneo de mim, uma Kate Moss tal e qual, uma espécie de eu mas em bom, e, um dia, chegava eu a casa e tinha a beldade estendida no meu lugar do sofá, a falar sobre futebol com ele e ele todo entusiasmado por ter finalmente uma parceira capaz de o acompanhar em conversa tão relevante. Ou, quem diz a falar de futebol, diz a fazer a dança do varão. E ele todo babado, sem tirar os olhos dela.


Isto já para não falar que, quando fossemos trabalhar, ficavam a Kate e o Tarzan sozinhos em casa e, às tantas, ainda se apaixonavam um pelo outro e, quando chegássemos a casa, tínhamos as malas à porta e a fechadura trocada porque os marmanjões se tinham aboletado com a nossa querida casinha e tinham resolvido que estavam melhor sem nós. Forrobodó todo o santo dia e no need for humans.




Ficção...?

Pois. Mas talvez não muito distante.

E no trabalho. Há muitos anos que as linhas de produção estão automatizadas, que são autómatos que regulam e optimizam o seu funcionamento. Há muito que, a nível administrativo, os sistemas informáticos automatizam processos de facturação, de gestão de stocks, de organização de transportes, etc. Onde antes trabalhavam largas centenas de pessoas, pode agora o mesmo trabalho (ou melhor: mais trabalho) ser feito por escassas dezenas. Claro que há desemprego. Como não?

E é irreversível, isto.

Obviamente a população trabalhadora vai-se desviando para outras actividades: para o turismo, para a cultura, para o entretenimento. Mas a tendência é esta: grande parte dos trabalhos tende a ser desempenhada, com vantagem a nível de eficiência e de custos, por máquinas ou por programas informáticos.

E vem isto a propósito de quê, meus Caros?



Programa tem "tecnologia cognitiva que lhe permite pensar como um humano" e deverá aumentar a produtividade da empresa

Uma empresa japonesa de seguros vai substituir 34 dos seus funcionários por um software de Inteligência Artificial. A Fukoku Mutual Life Insurance acredita que ao instalar o Watson Explorer da IBM poderá aumentar em 30% a produtividade e poupar 140 mil ienes por ano, cerca de um milhão e 100 mil euros. (...)

O Watson Explorer vai ser instalado este mês por 200 mil ienes, cerca de um milhão e 600 mil euros, segundo o Telegraph, e a empresa acredita que em dois anos conseguirá reaver o investimento. Os trabalhadores vão ser despedidos em março. (...)


Mas não temos que ir tão longe. Senão, vejamos.

Meet Amelia, your first digital employee.



ou o Watson:


Learn how IBM Watson works and has similar thought processes to a human





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O tema tem tanto de fascinante quanto de assustador. 

E uma coisa é certa. Não é ficção, não senhores. É a realidade e vamos lá ver se, burros como somos, burros, burros, burros, não nos estamos a habilitar a ser os dinaussauros dos tempos modernos.


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Informação aos leitores: 

O post abaixo trata de um caso patológico. Não digo que o senhor, coitado, seja um psicopata. Mas bom da cabeça, cá para mim, é que ele também não é. Refiro-me a Campos e Cunha.


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2 comentários:

bea disse...

Pois...reconheço neste Watson muitas qualidades e eficácias que quem os criou não terá sempre, nem tão rapidamente. Os seja, estamos a criar máquinas que nos substituem porque a sua qualidade ultrapassa a nossa (começo a pensar que inteligências perigosas). Máquinas que, em muito sector imitam bem, só não são é humanas. E nunca serão, suponho. Quando saibam reagir a imprevistos (a qualquer e não a alguns grupos) e agir movidos também por emoções, vamos estar lixadíssimos. Neste momento já nos retiram empregos, mas a evolução industrial já antes fez igual. Quanto ao sexo...prevejo que apareçam novas doenças e que os psiquiatras e afins ganhem doentes com queixas de natureza diversa. Ou então, deixaremos de ser humanos e ficamos meio-máquinas e tudo se arranja.Na verdade um marmanjo a quem eu ordene isto e aquilo não me agrada nem para experimentar e devolver.

Corvo Negro disse...

Cara UJM, li a noticia no Expresso e é um pouco mais assustadora. Termina assim: "... Um estudo do Fórum Económico Mundial previu que a adoção de robôs e de sistemas de IA resultará nos próximos cinco anos na eliminação de 5,1 milhões de postos de trabalho em 15 países que concentram 65% da força de trabalho de todo o mundo."
E ninguém fala em reconversão de competências. Simplesmente eliminação de postos de trabalho. Segue o link - CN

http://expresso.sapo.pt/internacional/2017-01-05-Seguradora-japonesa-substitui-funcionarios-por-inteligencia-artificial