segunda-feira, janeiro 30, 2017

I am the captain of my soul




Talvez por ter a rotina alterada, talvez por ainda estar sob efeito do último relaxante muscular que tomei (para aí há uns dois ou três dias), talvez porque a noite de ontem, sábado, foi obra, todos cá em casa, um chinfrim que só visto, os miúdos numa animação tal que me deram conta da cabeça (isto de estar mau tempo e não desopilarem na rua para, em casa, estarem minimamente sossegados, ontem deu num pico de energia simultânea que me ia fundindo os neurónios), a verdade é que chego a esta hora e estou a modos que off.

Há bocado estive a ler em voz alta o horóscopo chinês não apenas para o meu animal como para o dos restantes. Mas, a cada frase, já me estava a dar vontade de bocejar.

Agora já se foram todos deitar e apenas eu me deixei ficar. Estou a ver o programa da Anabela Mota Ribeiro e o Curso de Cultura Geral com a Ana Luísa Amaral e gosto de a ouvir, tem uma dicção perfeita e um tom de voz encorpado que me agrada. Também me agrada o que ela diz. Agora fala o antropólogo Miguel Vale de Almeida mas não está a dizer nada que me encante. Também ali está uma senhora com um cabeleira farta mas ainda não percebi quem é porque estou a escrever e a ouvir mais do que a ver.



Hoje de tarde, depois de chegar de um passeio na praia, que estava gelada, a fotografar redes de pesca, o mar, um trabalho do Bordalo II, e quem por ali andava, fui ao supermercado e, depois de arrumar as coisas, deitei-me em cima da cama e adormeci profundamente. Até me lembro de ter sonhado. Que sono tão bom eu dormi. Curto mas bom.

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Ah... é a Adriana Molder. Diz que não se sente culpada de flanar, de andar sem destino. Que é obsessiva quando trabalha mas que, depois, gosta de degustar o ócio. Diz que é assim aos 40 tal como era aos 12, quando estava de férias. Tem um ar um pouco ansioso.
Parece-me que o programa tem a ver com as influências do mundo exterior, parece-me que viveram no exterior durante algum tempo.
Nunca vivi no estrangeiro. Apenas em serviço ou em férias, coisas de curta duração. O maior período fora de seguida foi um mês. E nunca estive sozinha. Estar sozinha no estrangeiro, isso, desconheço. Acho que não gostaria, Também nunca vivi sozinha cá. Nem sequer fui alguma vez ao cinema sozinha. Ou à praia. Não gosto de estar sozinha. Só à noite na sala -- mas a isso não se pode chamar estar sozinha.

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Dizia eu, lá atrás, que, de tarde, tinha adormecido. Depois, quando acordei, fiz sopa, fiz o jantar desta segunda-feira, passado um bocado fiz o jantar de domingo, depois tomei banho, depois vi uma apresentação para uma reunião que tenho de manhã, depois respondi a alguns mails de trabalho (e calma, não trabalho em casa ao fim de semana por prazer ou devoção mas porque esta segunda vai ser complicada, tinha mesmo que adiantar algumas coisas), depois estive a enviar fotografias que tinha feito de manhã no parque, depois estive a preparar a roupa de amanhã porque de manhã não terei tempo para isso, depois chegaram eles, os novos habitantes cá de casa, e os mais pequenos estiveram a brincar, depois jantámos, depois brincaram mais um bocadinho, depois cama, depois a mãe esteve aqui na sala e esteve a ouvir-me ler o seu horóscopo chinês, como se fazem umas bolinhas de maçã e aveia (apple energy bites) e os efeitos benéficos de usar o açúcar misturado com o shampoo como esfoliante natural. E etc.

E agora que estou aqui e que tinha pensado escrever sobre um assunto da actualidade, estou nesta preguiça, sem energia para o que quer que seja.


Não respondo a comentários, não respondo a mails, uma vergonha. Mas é tal a indolência que me tolhe as mãos (e o raciocínio) que, como podem ver, não passa disto. Desculpem-me.

Nem a corrida em osso no Valls, nem a vitória de Benoit Hamon, nem as inqualificáveis anormalidades do palhaço Donald, nem a vitória do Moreirense (tema que chegou a dar uma certa disputa entre os dois meninos, ele a dizer que o apoiava e ela a dizer que gostava de todas as equipas menos do Moreirense), nada -- não consigo alinhar meia dúzia de palavras sobre o que quer que seja.


Tenho aqui ao meu lado um livro sobre Guilherme Parente, pintor de que muito gosto, e gostava tanto de transcrever parte de uma sua entrevista ou, então, um pouco do livro de Imre Kertész do qual, antes de adormecer, ainda consegui ler um pouco (e ontem também; vá lá). Mas nem isso. Senhores. Nem isso. 

E li há pouco alguns blogues, destes que aqui tenho na minha galeria. Algumas coisas boas. Pensei: vou fazer um cadavre exquis com frases de uns e outros. Estava a pensar se lhe dava a forma de poema ou de prosa. Pois, pois. E energia para isso? É que nem energia para desempatar entre a poesia e a prosa.


Por isso, vocês desculpem-me: hoje fico-me por aqui (apesar de agora estar a ver o Jordi Savall e só isso justificar que, em condições normais, eu fizesse até uma directa).
Antes de me ir deitar, ainda vou ver ver se os meninos estão tapados. Geralmente não estão, especialmente ele.
No entanto, para tentar que não protestem e não me exijam de volta o dinheiro do bilhete, deixo-vos com um dos poemas preferidos de Mandela e do qual eu também muito gosto. Tomara que também gostem e que achem que justifica o tempo que vos fiz perder até aqui chegarem.


Invictus de William Ernest Henley lido por Morgan Freeman


Out of the night that covers me, 
      Black as the pit from pole to pole, 
I thank whatever gods may be 
      For my unconquerable soul. 

In the fell clutch of circumstance 
      I have not winced nor cried aloud. 
Under the bludgeonings of chance 
      My head is bloody, but unbowed. 

Beyond this place of wrath and tears 
      Looms but the Horror of the shade, 
And yet the menace of the years 
      Finds and shall find me unafraid. 

It matters not how strait the gate, 
      How charged with punishments the scroll, 
I am the master of my fate,
      I am the captain of my soul. 


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Entretanto, a Anabela Mota Ribeiro, já publicou as listas dos participantes do programa deste domingo, 29 de Janeiro do ano da graça de 2017. Como apanhei o programa já no final, não vi esta parte. Leio agora.


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E, se ainda tiverem saco para tal, aceitem o meu convite e desçam, por favor, até à campanha da H&M: Bring it on

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2 comentários:

P. disse...

É curioso, e ainda bem que assim é, como as pessoas são, por vezes, tão diferentes (como a UJM é e eu). É isto que dá sal às relações, ou contactos. Podem até ter interesses em comum, mas noutras coisas, ou situações, têm atitudes opostas. No que refere sobre estar só, temos posições totalmente diferentes. Eu gosto - e bastante de estar só. Por vezes. Gosto de passear sozinho na praia, o que faço de quando em quando. E sabe-me muito bem! Já tenho ido ao cinema sozinho, se o filme que gosto não coincide com o de minha mulher. Almoço, quando almoço (visto o almoço ter uma relevância menor para mim, já o jantar é o momento alto!) muitas vezes só e gosto, tenho imenso prazer nisso, embora por vezes o faça com amigos, ou colegas. Saio ocasionalmente com amigos à noite, só eu, e o mesmo faz minha mulher se quer estar com amigas dela, quando não me apetece nada voltar a Lisboa, depois de regressar de lá ao fim da tarde e ninguém tem, cá em casa, qualquer problema com isso. E já vivi sozinho no estrangeiro e não me importou - absolutamente nada. E gostei bastante. Sou capaz de me distrair em qualquer país do Mundo, estando só. Companhia arranja-se, se necessário for, conversando com este e aquele, ou com quem se conhece nesses encontros/reuniões, ou com quem se conhece ocasionalmente, ou, simplesmente, está-se só. Vivi uma vez 7 meses em Roma e adorei. Viajava quase sempre ao fim de semana, por Itália fora. Minha mulher que tinha a sua profissão, juntou-se a mim na Páscoa e no Verão. Nessas ocasiões, quando me sucedeu, acabava, por vezes, por convidar uma certa malta para vir jantar a minha casa e eu cozinhava com especial prazer para essa gente. Gosto de companhia, mas, estar só, por vezes, é muito bom. É um dos (grandes) prazeres que poucos conhecem. Não há compromissos para isto e aquilo, horas para comer, o que fazer, etc. Decide-se a vida em função do que nos apetece. Ponto. As relações a dois são na maioria das vezes demasiado exigentes e obrigam a demasiados compromissos. Daí que é preciso descomprimir. As pessoas hoje, com esta coisa de terem de estar todos juntos e sempre juntos, acabam por não saber o que é o prazer de estar só. Nem que seja durante um almoço, um jantar, passear numa praia, no campo (outro dia, repeti esse prazer ao vaguear no sopé da Serra da Estrela por umas 4 horas e picos). Até mesmo por exemplo ir beber um copo num bar, indo ver a vista de Lisboa, do Porto, nas margens do Mondego em Coimbra, no Douro, ou por aqui, perto do Guincho. Já o tenho feito, tantas vezes e sempre só. O que não quer dizer que dispenso a companhia de muitos anos. Mas, tenho de ter espaço para mim. Caso contrário é uma relação votada ao fracasso. Sempre juntos, é algo que, de tão absorvente, me afastaria para sempre. Sou de opinião de que um casal precisa de espaço. De não termos que sair sempre juntos (a título de quê?). E assim, a relação flui. Não há choques. E, no final, estamos, como é natural, muito mais tempo juntos do que separados, mas sempre com respeito pela privacidade do outro, sempre que esse outro a quer. Julgo que esta liberdade, sem perguntas, numa base de confiança, pode ser uma boa receita para uma relação duradoura. Por mim, nunca a mudarei. Nem quem partilha a vida comigo. Até mesmo nos contactos telefónicos. Só os faço, quer aos meus filhos, ou meus pais, umas duas vezes por semana. Têm direito à sua privacidade. Nunca compreenderia que alguém me telefonasse todos os dias. Para quê? Para lhe dizer o tinha dito no dia anterior? Lá está, cá na família, quer minha, quer de minha mulher e meus filhos, deixamos sempre uma certa distância, para respeitar o tal espaço pessoal de cada um/a de nós. Mas, claro, cada um é como cada um/a. Respeite-se as diferenças. Tenha uma bela semana, UJM!
P.Rufino

Pôr do Sol disse...


Não sei o que aconteceu, mas perdi o comentario que tinha feito às suas fotos das redes amontoadas.

Existe algo naquelas fotografias que me fascina. Gosto mesmo. Os tons dos fios, a luz que passa por eles, todo o seu emaranhado. É a realidade a suplantar a imaginação do artista que se dispusesse a pintá-la. Iria ter um trabalhão, mas eu estou a ver daqui uma parede onde ficaria muito bem.

Parabens e um beijinho.