segunda-feira, dezembro 19, 2016

Questionário de Proust à moda de Um Jeito Manso
-- Versão curta, apenas nove perguntas, e respostas tão minimalistas que dispensam palavras
[Ao som de Bach]


1. Porquê o mar? É a sua força? A pureza íntegra dos elementos? As cores? Os azuis? A elegância indómita de tudo? A música forte da batida das águas? O perfume da maresia? O voo das gaivotas? 




2. E, do mar, qual o preferido: o lençol de seda ou o turbilhão? A planura ou o sobressalto? A areia mansa ou as rochas fortes e serenas?


3. E, dos habitantes das praias, quais os mais fotografados, os mais admirados, os mais livres, os mais tranquilos?


4. E, sem ser as gaivotas, o que mais atrai o olhar que se apura por detrás da objectiva? A coragem de quem consegue a força e o equilíbrio para cavalgar a bravura das ondas? A felicidade de quem se sente envolto em água, movimento e luz, longe de tudo o que é tão atormentantemente insignificante e mau?


5. E só os surfistas? Ou também os que parecem caminhar sobre as águas, vencendo montes e vales, vencendo perigosos precipícios, e umas vezes parecendo deslizar, outras quase parecendo estar a abrir sulcos no mar como quem trabalha a terra ? 


6. E, a fotografar, o que mais atrai: a silhueta contra uma paisagem, contra a luz, o gesto distraído, ou a pose encenada, o sorriso perfeito?


7. E tudo o que possa mostrar quão diferentes são as pessoas entre si... não? Isso não atrai? E perceber como, tão diferentes numas coisas e tão iguais noutras, isso não?



8. E observar como os casais caminham unidos para melhor enfrentarem a vastidão da beleza? Sim ou não?


9. Não é tudo sempre igual? Que motivos despertam sempre tanto interesse que a vontade de fotografar seja permanente? Acaso o desenho das ondas é variável? Acaso as gradações de azul são flutuantes? Acaso o voo das gaivotas ou a intensidade da luz muda a cada instante? Ou é apenas o prazer de registar o efémero, o infinito, o intangível?


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Fotografias feitas este domingo na Costa de Caparica.

Lá em cima, Kyung-Wha Chung no violino e Kevin Kenner no piano interpretam, de J.S.Bach, Air on the G String.

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O questionário ao qual Proust respondeu quando tinha 13 anos e um outro, parecido, quando tinha 20, podem ser vistos aqui bem como as suas respostas. Nesse mesmo site pode dar as suas e enviá-las para que fiquem disponíveis para quem as quiser consultar.


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Permitam, ainda, que vos recomende o post seguinte onde se mostra como é possível que alguém controle tudo o que outra pessoa, à distância e sem o saber, faz. Através do telemóvel. Não será no admirável mundo novo mas, de facto, no assustador mundo novo em que vivemos.


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1 comentário:

bea disse...

Jamais me ocorre fazer perguntas ao mar. Em primeiro lugar não me responderia; em segundo, prefiro curti-lo nas calmas e sem filosofias. Ele é o cheiro, as cores, o som, a contínua repetição de si mesmo. E mais coisas. Chegam.