E, portanto, meus caros Sócrates-addicted, vejam se seguem o meu raciocínio:
Se o Sócrates paga ao Carlos Santos Silva para o Carlos Santos Silva pagar ao Rui Mão de Ferro, para o Mão de Ferro pagar ao António Peixoto, para o António Peixoto se fazer passar por Miguel Abrantes para o Miguel Abrantes dizer bem do Sócrates e se, afinal, o Miguel Abrantes sou eu e, ao mesmo tempo, se eu sou o próprio Sócrates, então o Sócrates anda a pagar a si próprio para se fazer passar por uma molhada de gente.
E, portanto, o que é que se conclui disto?
Nem eu própria/o sei. Terei eu alma vagabunda? Terei vocação para me desmultiplicar em cinquenta personagens? Sou o/a mil-rostos? Sou alguém? Sou ninguém?
O que sei é que sou aquele que aparece disfarçado de outro homem, que aparece na capa de livros que outros a quem pago para parecer que são outros e não eu, que aparece disfarçado de mulher, de uma mulher que gosta de mar e poesia e escreve pela noite dentro, ou que aparece como mil outros, em universidades parisienses, em prisões alentejanas, em almoços com amigos, a conspirar contra cavacos e limas, a vestir-se com bons fatos, a frequentar bons restaurantes, a decorar apartamentos, a namorar, e, em tempos, nas horas livres, a ser primeiro-ministro. Eu.
A mim próprio me surpreendo. Escutem. Escutem que este é um raro momento confessional. Apareço em mil sítios, em blogues, em livros, em escutas, em encontros, em provas de vinhos, tenho mil mulheres a quem pago para elas me defendenderem mas elas sou eu, tenho mil amigos que fingem que sou eu para disfarçar que sou eu. E o dinheiro -- milhares para um, milhares para outros, milhões, muitos milhões -- circula em loop de uns para outros e todos sou eu e as mil mãos que tocam no dinheiro são todas minhas. Minhas.
E para quê, tudo isso? - perguntarão vocês.
Respondo. Tudo isto -- confesso -- para baralhar o Rosy e o Alex e para causar orgasmos em série à Cabrita e delíquios epifânicos ao Dâmaso.
Ah, é tão bom ser tantos e todos os muitos eus perseguirem o sono dos investigadores que andam em círculo, quais baratas tontas, à procura de indícios e eu por todo o lado a deixar pistas, por todo o lado a deixar espelhos e eles, pobres investigadores e juízes, sem nunca saberem se estão a ver a realidade ou o reflexo, a sua vida já transformada num delírio, numa desatinada alucinação.
Ah... o que me divirto com os que se viciaram em mim.
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Ah... o que me divirto com os que se viciaram em mim.
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E, para que vejam como vos quero bem, meus caros Viciados-em-Mim, aqui vos deixo uma musiquinha boa para dançarem enquanto andam à caça de fantasmas.
Boa?
Boa?
Vamos lá, então, a esticar as pernocas, seus marotos.
Beijinhos e abraços deste/a vosso/a que se assina
José Miguel António Rui Um Abrantes Jeito de Mão Peixoto Sócrates Ferro Manso
José Miguel António Rui Um Abrantes Jeito de Mão Peixoto Sócrates Ferro Manso
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5 comentários:
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O Miguel Abrantes é um excelente enólogo.
Caro Anónimo, boa noite,
Certo. Não sabia mas já passei a saber e já acrescentei essa faceta no texto.
E a ver se provo um desses vinhos, deve ser bom.
Gracias!
Continue que bem preciso de que me destruam angustias e dúvidas. Muita gente, penso eu terá a mesma necessidade. Não há dia de descanso para as cabritas e os dãmasos desta vida.
Olá UJM!
Excelente e hilariante texto!!
Já rapinei para a minha página dp FB e "A Estátua de Sal" já fez o mesmo"
Um abraço.
Este texto é a caricatura de uma elite que depois de ser confrontada com as suas mordomias perdeu a pouca dignidade que tinha e elegeu o melhor primeiro ministro como alvo das suas frustrações. Triste gente. O Sócrates ainda vai desmascarar esta gente.
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