Depois de um dia preenchido de a a z, chego aqui e hesito: ou passo as fotografias para o computador e mostro por onde andei ou me deixo estar aqui meio estendida, o computador no colo, a ler as últimas. Como a preguiça nestes dias impera, opto por não me mexer do sofá até porque a máquina fotográfica está a carregar ali muito longe, para aí a uns dois ou três metros, e isso, neste momento, para mim é como ir aos himalaias. Ponho-me, então, a ver se os marcianos deram as caras ou se as sereias saíram do fundo do mar, a cavalo em neptunos cabeludos, ou qualquer coisa que valha a pena. Claro está que, alienada como a esta hora gosto de me sentir, fecho os olhos ao que se passa na Síria, em Calais ou em todos os lugares onde o inferno se abateu sobre a terra.
Bem. Como sempre acontece, por cá, a oeste, nada de novo (até porque aquilo de o ex-José Manuel Barroso ser, de há muito, farinha do saco da Goldman Sachs não é novo, please... ) e, portanto, parto para além-fronteiras.
Estava pois eu, aqui remansamente a ver o The Guardian de alto a baixo, parando aqui e ali, até que, mesmo cá em baixo, dou com uma coisa em que nunca tinha reparado. Provavelmente sempre lá esteve, às tantas é daquelas coisas como eu ficar espantada com alguém que nos cumprimenta na rua e a quem o meu marido retribui com naturalidade e, perante a minha admiração, me informa que mora no prédio e, se eu pergunto se é gente nova, encolhe os ombros e diz que cá vive há anos.
Portanto, vejo as fotografias de duas mulheres com a legenda Search for Women e a de dois homens e Search for Men. Pensei, na minha santa parvoíce, que era coisa de famílias que procuram alguém que se perdeu no mundo, amigos que querem descobrir amigos tresmalhados, coisa assim. Achei uma ideia engraçada.
Tenho uma prima que era muito bonita (e ainda deve ser). Só a vi até ser adolescente. Uma vez, anos depois, visitou os meus pais numa altura em que eu já estava casada, não a vi. Vinha o pai dela que é primo direito do meu, a nova mulher, francesa, e ela, que é filha da primeira mulher dele que era também muito bonita, que eu conheci e que morreu nova, causando um desgosto brutal nele e levando-o a largar o país e ir para Paris (a minha avó tinha uma fotografia deles na festa de noivado e essa primeira mulher era belíssima). Vinha com eles já outra menina, filha da nova mulher. A minha mãe contou-me que essa primeira filha, dois ou três anos mais nova que eu, estava linda e que já estava naturalizada francesa, que falava português mas com sotaque francesíssimo. Perdi-lhes o rasto. Nem me lembro do nome dela.
Um outro primo do meu pai, irmão do que foi para Paris, foi, quando era quase adolescente, para o Canadá. Por lá ficou.
Quando vejo fotografias desses primos fico sempre admirada pois são mesmos bonitos, parecem modelos, e têm um ar estranhamente moderno. É como uma fotografia que tenho numa moldura com os meus pais: o meu pai com ar moderníssimo, a minha mãe com um vestido claro, rodado, de verão, cinto largo na cinturinha de vespa, saltos altos, o seu cabelo muito louro pelos ombros, ambos de óculos muito escuros, ambos de boné claro com uma pála grande, ambos com ar moderníssimo. Um casal elegante que parece saído da capa da Vogue.
E do lado do meu pai há montes de primos (quase todos homens) e todos com pinta, modernos.
Aquelas fotografias são um espanto, grandes grupos de irmãos, primos, namoradas e mulheres (porque se iam casando e as namoradas passando a mulheres). Iam passear, faziam pic-nics. O meu pai fazia fotografias com a sua kodac, fotografias a preto e branco, claro, que hoje se podem ver ainda com boa qualidade.
Como é tudo gente que parece que não liga patavina a raízes, apenas mantenho contacto regular com um pequeno grupo. Dos outros não faço ideia de nada. Do lado da minha mãe a mesma coisa mas não eram famílias tão grandes e tresmalharam-se em novos, tenho ideia de que manteve contacto mais estreito apenas com umas quatro ou cinco primas, e aí todas mulheres.
Tenho uma prima que era muito bonita (e ainda deve ser). Só a vi até ser adolescente. Uma vez, anos depois, visitou os meus pais numa altura em que eu já estava casada, não a vi. Vinha o pai dela que é primo direito do meu, a nova mulher, francesa, e ela, que é filha da primeira mulher dele que era também muito bonita, que eu conheci e que morreu nova, causando um desgosto brutal nele e levando-o a largar o país e ir para Paris (a minha avó tinha uma fotografia deles na festa de noivado e essa primeira mulher era belíssima). Vinha com eles já outra menina, filha da nova mulher. A minha mãe contou-me que essa primeira filha, dois ou três anos mais nova que eu, estava linda e que já estava naturalizada francesa, que falava português mas com sotaque francesíssimo. Perdi-lhes o rasto. Nem me lembro do nome dela.
Um outro primo do meu pai, irmão do que foi para Paris, foi, quando era quase adolescente, para o Canadá. Por lá ficou.
Quando vejo fotografias desses primos fico sempre admirada pois são mesmos bonitos, parecem modelos, e têm um ar estranhamente moderno. É como uma fotografia que tenho numa moldura com os meus pais: o meu pai com ar moderníssimo, a minha mãe com um vestido claro, rodado, de verão, cinto largo na cinturinha de vespa, saltos altos, o seu cabelo muito louro pelos ombros, ambos de óculos muito escuros, ambos de boné claro com uma pála grande, ambos com ar moderníssimo. Um casal elegante que parece saído da capa da Vogue.
E do lado do meu pai há montes de primos (quase todos homens) e todos com pinta, modernos.
Aquelas fotografias são um espanto, grandes grupos de irmãos, primos, namoradas e mulheres (porque se iam casando e as namoradas passando a mulheres). Iam passear, faziam pic-nics. O meu pai fazia fotografias com a sua kodac, fotografias a preto e branco, claro, que hoje se podem ver ainda com boa qualidade.
Como é tudo gente que parece que não liga patavina a raízes, apenas mantenho contacto regular com um pequeno grupo. Dos outros não faço ideia de nada. Do lado da minha mãe a mesma coisa mas não eram famílias tão grandes e tresmalharam-se em novos, tenho ideia de que manteve contacto mais estreito apenas com umas quatro ou cinco primas, e aí todas mulheres.
Por isso, pensei que um grande meio de comunicação como o The Guardian fazia bem em arranjar um espaço para as pessoas se procurarem pelo mundo.
Entrei para ver como funciona.
Pois. Engano. Nada disso. É para outra coisa: é para quem quer arranjar uma 'alma gémea'.
Mas que não se pense que bato em retirada logo às primeiras. Não senhor. Resolvi fazer a minha pesquisa.
Mulher procura homem. Ao escolher o intervalo de idades do homem, curiosamente dei comigo a escrever uma idade uma meia dúzia de anos a menos que a minha e depois lá dei uma tolerância: até mais dois que eu. Depois disse que os queria em Portugal e, vá lá, uma tolerância de umas milhas. Azar. Só me apareceu um e com nome e cara de inglês. Diz que vive em Lagos. Não sei o que se seguiria. Se calhar tinha que me filiar naquilo para poder aceder ao mail do senhor e mandar-lhe um Hi, my name is UJM and... patati-patata. Não sei. Parei ali.
Mulher procura homem. Ao escolher o intervalo de idades do homem, curiosamente dei comigo a escrever uma idade uma meia dúzia de anos a menos que a minha e depois lá dei uma tolerância: até mais dois que eu. Depois disse que os queria em Portugal e, vá lá, uma tolerância de umas milhas. Azar. Só me apareceu um e com nome e cara de inglês. Diz que vive em Lagos. Não sei o que se seguiria. Se calhar tinha que me filiar naquilo para poder aceder ao mail do senhor e mandar-lhe um Hi, my name is UJM and... patati-patata. Não sei. Parei ali.
Depois fiquei a pensar que ainda bem que há isto porque para pessoas a viverem em lugarejos, vilas ou aldeias onde todos se conhecem, onde não há ninguém disponível para um novo relacionamento ou onde a censura social assentaria olhares de reprovação ou de mesquinha cusquice se vissem uma mulher a sair e a flirtar com um um homem, isto abre uma oportunidade para descobrir pontes entre pessoas que se desconhecem. E, quem sabe?, se não virão um dia a ser grandes amigos ou apaixonados...
Resumindo: se calhar fiz uma pesquisa demasiado restritiva e, por isso, só 'pesquei' um bife. Mas, a quem se sinta solitário e queira ver se tem mais sorte que eu, ali em cima ficam os links. Ousem. A solidão é uma coisa terrível.
E depois... quem sabe...?
Resumindo: se calhar fiz uma pesquisa demasiado restritiva e, por isso, só 'pesquei' um bife. Mas, a quem se sinta solitário e queira ver se tem mais sorte que eu, ali em cima ficam os links. Ousem. A solidão é uma coisa terrível.
E depois... quem sabe...?
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Volto aqui depois de ter andado a ver mails atrasados ao som de músicas várias. E agora, em vez de, disciplinadamente, me pôr a responder um a um, resolvo partilhar convosco a voz quente de Leonard Cohen dizendo o seu A thousand kisses deep para, a seguir, ir cair nos braços de morfeu que o dia foi longo e o corpo me pede descanso.
Ouçam, por favor. Ouçam.
Ouçam, por favor. Ouçam.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.
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6 comentários:
A sua é uma família à USA; melhor, à filme dos USA: toda a gente bonita.
Leonard Cohen faz bem em declamar. Tem boa voz e já não canta, só murmura. Mas com muito acerto.
Essa música de Leonard Cohen é belíssima! Apetece dançá-la com quem se quer muito!
P.Rufino
PS: Há pouco deu-me, depois do jantar, de ir ver o que Diabo estaria a dar nesta nossa extraordinária TV. Lá a apanhei o rapaz Marques Mendes, com os pés em suspenso na cadeira, menos cabelo, mais branco - o tempo é democrático e não poupa ninguém, mesmo os políticos - sempre agitado, com aquela atitude de garoto que tudo sabe, a expôr-nos as suas importantíssimas “percepções” do quadro político que temos. Perante uma Clara de Sousa já recomposta das suas aventuras “de caravana” através a Costa Alentejana. Mendes, que diz o que lhe vai na alma - e o que lhe não vai - lá explicou, ou melhor, criticou, com aquele pesar de quem prefere os ricos aos pobres, que o dito imposto, abordado por Mariana Mortágua e que muita – triste e patética – crítica teve, que, “vejam lá, aquilo só vai render uns 60 e poucos milhões de euros aos cofres do Estado”, como quem diz, “assim sendo, para quê incomodar os tais ricos, coitados, “no que seria, afinal de contas, uma medida inútil, desnecessária”. Mas, o que me “divertiu”, foi quando ele começou a agitar-se na cadeira, pernitas a tremer (por recear pelos tais ricos, com quem é solidário – ele e o seu influente Escritório de Advogados, “Abreu Advogados”, ligado aos grandes interesses económicos e tráfico de influências) a dizer que “isto iria fazer com que o investimento, sobretudo o estrangeiro, baixasse e nos abandonasse, etc e coisa” (“você está a ver oh Clara?”)!! E ainda há quem, tolamente, acredite em semelhante argumento! Infelizmente há! No fundo, este tipo de argumento é mais ou menos isto: “não vale a pena taxar os ricos, que é uma medida impopular, que são pouquinhos, coitados, e em vez disso toca de atacar a classe média e baixa, pobres incluídos se possível, pois há-os cada vez mais (graças à políticas do governo da dupla tratante de Passos/Portas), a fim de estancarmos o tal Deficit. Desprezo quem assim pensa. Uma política fiscal deve ser justa e mais progressiva, em função dos rendimentos de cada um. Quem mais recebe, mais deve ser obrigado a pagar! Ponto! Não me queixo do que pago de IRS, queixo-me dos governos que colocam os tais ricos na mesma fasquia que a minha, quando deveriam estar muito, mas muito acima, nos tais 65%, se existisse um política fiscal que assim os taxasse, e que ainda por cima conseguem fugir para paraísos fiscais. Outro dia, UJM, num Post, falava disto, dizendo que eles podiam sempre fugir a essas responsabilidades fiscais. Garanto-lhe que, se houvesse vontade política e coragem para o fazer, esse tipo de coisas tinha solução. A ALE, por exemplo, tem uma boa solução para evitar esse tipo de atitudes. Assim como a Suécia e outros. Há muita forma de apanhar quem foge ao Fisco. Pode crer. Só cá é que os safados do Capital conseguem fugir, com o consentimento de quem nos vais governando, ontem e hoje. Daí que, essa teoria de que os tais ricos podem sempre fugir às suas responsabilidades fiscais é contestável. A questão é que as leis fiscais são redigidas com “buracos”, ou “omissões” que permitem isso. Uma política fiscal justa deve ser dirigida sobretudo para o IRS e menos nos impostos indirectos, como o IVA. A Suíça, por exemplo, tem uma taxa de IVA de 8% genericamente falando (com algumas excepções como o álcool, tabaco, etc), com vista a estimular o consumo, mas sobretudo porque acha e bem que um imposto indirecto como o IVA, excessivamente elevado, é socialmente injusto, porque há que possa pagar, no nosso caso, 23% sobre um produto sem pestanejar, mas já custa muito a quem recebe uma reforma de miséria de 200 e poucos euros.
Olá bea,
Sabe aquilo de 'quem o feio ama bonito lhe parece'? Na volta ainda é isso que acontece...
Mas eu acho que é mais outra coisa: dos que acho bonitos, eu digo que são bonitos; dos outros não digo nada e, portanto, sobra para quem me lê que parece que acho que é tudo uma estampa. Mas é que não gosto de assinalar o que acho menos bom. Por exemplo, tenho um primo que de frente até é bonitinho mas, de lado, chama a atenção o tamanho do nariz. Ele é muito alto e magro, quase dois metros. Ora eu, se falar dele, o que direi é que é alto e magro como um junco (e não falarei no nariz). Percebe?
Uma semana boa para si, bea!
Oh, JM! Parece uma amiga minha muito optimista cuja máxima é: em cada coisa, à parte o que está mal, está tudo bem.
Esconjuremos a má sorte. Vai ser uma Boa Semana (à parte o que esteja mal ou menos bem, é toda boa). E ainda que hipoteticamente o não venha a ser, é verdade que, no nosso desejo, agora mesmo,é uma boa semana.
Olá P. Rufino,
Acho que a forma como Mariana Mortágua lançou a discussão contaminou o rigor do debate. A direita caíu-lhe em cima a pés juntos, os comentadores baralharam a coisa e pare do eleitorado PS e PCP ficou incomodado com a forma canhestra como ela desperdiçou uma oportunidade de se conter.
O problema que existe hoje não tem a ver com o bendito património que já é taxado pela medida grossa (e parte dele pertence a fundos e não a 'ricos'). O problema é a instabilidade fiscal, o problema é a forma irresponsável como se cola um governo (que tem pretendido passar a ideia de amigo do investimento) a um governo que não se ensaia nada para quase fazer justiça popular.
E mais: o problema é que o problema não está, nem de perto nem de longe aí. É que os 'ricos' que vivem de rendimentos e que pagam menos do que devem não vão pagar mais por se aumentarem as taxas (é que eles, em regra, têm esquemas - 'legais' - para optimizarem a sua 'questão' fiscal) e vão continuar alegremente a ter o seu património em nome de empresas cujas sedes, quantas vezes?, não estão em Portugal.
Por isso, o que a Mariana Mortágua fez foi 'espantar' a passarada e lançar a confusão.
Ou seja, P. Rufino, sorry..., mas nem sempre podemos estar de acordo. Assim até tem mais graça...
E uma boa semana para si!
Oá bea,
Vai ver que sim. Bué de coisas boas e umas coisitas mais chatas mas que não passam de amendoins.
And have a big smile :)
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