Fogo que isto não está fácil. Retomei a rotina diária há pouco mais de uma semana e, chegada aqui à noite, dou por mim perdida de sono, como se já estivesse a precisar de férias e, ao fim de pouco tempo de reclinanço neste sofá de perdição, estou a adormecer num sono descansado como se estivesse a sestar.
E assim foi que, tal como ontem -- mal escrevi o post anterior, o dos belos assentos, e, antes que me deitasse a circular pelos outros blogues, a saber o que há de novo ou a responder aos comentários -- já estava caída no poço da santa inconsciência.
Acordei agora e, ainda mal acordada, volto a optar pela facilidade.
No entanto, não me rendo às primeiras: escolho uma música alegre a ver se, contagiada pela energia sensual dos cubanos, consigo salsar e rumbar em vez de borregar.
Muito bem. Vamos lá. A ver se consigo que as minhas mãos consigam andar por si e se, sem a ajuda da cabeça, conseguem acordar as palavras.
No entanto, não me rendo às primeiras: escolho uma música alegre a ver se, contagiada pela energia sensual dos cubanos, consigo salsar e rumbar em vez de borregar.
Muito bem. Vamos lá. A ver se consigo que as minhas mãos consigam andar por si e se, sem a ajuda da cabeça, conseguem acordar as palavras.
Depois de semanas sem comprar livros e desmotivada até de fazê-lo tão militantemente ignara fui nas férias, eis que no fim de semana e esta terça-feira tive umas recaídas -- e logo daquelas que provam que curada nunca estive nem tão pouco tentada a está-lo.
No domingo, de fugida entre veraneios e turismos acidentais, com o tempo à rédea curta, dei um salto a Setúbal. A vontade de me despedir da Culsete era grande e a pena de não trazer uma das últimas provas da sua existência teve que ser apaziguada. Tenho aqui ao pé de mim o que lá comprei e tinha vontade de vos mostrar. Em especial dois dos livros são de me benzer e chorar por mais. Mas, para isso, deveria fotografá-los e, para tanto, não encontro energia.
E esta terça-feira, com o dia transbordante como é a marca de água destes dias de semana, dei por mim, à hora de almoço, a mandar às malvas toda a urgência e a adentrar-me por ente os arremedos de literatura da estantaria, procurando, como cão que fareja restos de vida por entre os destroços, livros que me saltassem para os braços. E houve três que o fizeram num súbido coup de foudre. Tenho-os também aqui e, há pouco (antes de escrever sobre os tais bancos que fazem a diferença), estive gulosamente a namorá-los, mãos ansiosas por desfolhá-los folha a folha. Também mereciam uma vinda ao palco. Fotografia, nome e autoria, uma qualquer pequena amostra dos interiores. Em vez de estar a escrever isto, devia estar a ir buscar a máquina, a escolher-lhes um décor, uma iluminação, e que fizessem um cheese para vos aparecerem bonitos. Mas não consigo. Pesa-me o sono. Três semanas de dolce fare niente dão nisto, parece que a boa vida, à noite, faz questão de me lembrar que a coisa, para ser bem feita, era eu vir almoçar a casa, dormir a sesta, e, então, voltar ao batente para, à noitinha, aqui estar, fresca e esperta como uma alface escrevinhadeira.
Pode ser que amanhã consiga disciplinar-me e impedir-me de adormecer quando batem as onze badaladas. Agora passa da meia-noite e, seguisse eu a recomendação conjugal, seguiria daqui para o leito em vez de me pôr a escrever sobre o que devia fazer e não faço. Mas a indisciplina corre-me nas veias e, por isso, aqui estou.
É que parece que chego sempre fim do dia com cinquenta mil assuntos sobre os quais me apetecia trocar uma prosinha com vós-outros. Há também ali em baixo comentários que me estão a chamar (e o virginal, então, estava mesmo a pedir um riso a duo) mas, com mil perdões que vos peço, vou fazer-lhes orelhas moucas pois não quero fazer perigar a possibilidade de me manter acordada até vos dizer ao que venho: o nosso Arturinho está a bombar cada vez com maior pujança e graça e isso tem que ser dito e festejado.
Com o que encontra -- chaparia, tubos e tralha -- o nosso Artur inventa ternura e dá à luz uma bicharada que nos olha com olhos quase de gente. Não é a primeira vez que o fantástico Bordalo II vem de visita a Um Jeito Manso nem será a última. O seu talento vai em crescendo e eu, que sou fervorosa devota da arte de rua, orgulho-me que seja meu conterrâneo um menino com tanta arte dentro do corpo.
Diz dele próprio o puto Bordalo (que já se internacionalizou pelo que se apresenta na língua de sua majestade de aquém e de além mares):
I was born in Lisbon, 1987. I belong to a generation that is extremely consumerist, materialist and greedy. With the production of things at its highest, the production of "waste" and unused objects is also at its highest. "Waste" is quoted because of its abstract definition: "one man's trash is another man's treasure". I create, recreate, assemble and develop ideas with end-of-life material and try to relate it to sustainability, ecological and social awareness.
O que mostro neste post é uma amostra da série Big trash animals. As palavras são ainda dele:
Trash Animals is a series of artworks that aims to draw attention to a current problem that is likely to be forgotten, become trivial or a necessary evil. The problem involves waste production, materials that are not reused, pollution and its effect on the planet.
The idea is to depict nature itself, in this case animals, out of materials that are responsible for its destruction.
These works are built with end-of-life materials: the majority found in wastelands, abandoned factories or randomly and some are obtained from companies that are going through a recycling process. (...)
Grande Bordalo!
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E, agora, queiram descer até ao post seguinte para irem repousar a vossa beleza em bancos, cadeiras ou balouços onde o rejuvenescimento é garantido.
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2 comentários:
Antes de ir rejuvenescer - e porque a juventude é mais deslumbrada e se deslembra - deixe-me dizer-lhe já que é uma sortuda em ter sono e dormir. Se tem um post a meio e lhe dá sono, não hesite, durma (o post que se lixe). Talvez a coisa de que tenha maior desejo seja isso: dormir sem que o corpo me acorde daí a poucas horas armado em despertador impertinente. Podendo, rifava-o.
São salerosas as danças cubanas.
Esqueci-me de dar parabéns ao Bordalo II. Desejando que aproveite lixos inodoros. Que os animais são uma ternura com olhos de postal ilustrado.
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