quarta-feira, junho 15, 2016

Um cubo no deserto, um cavalo e uma tempestade


Depois do passarinho versus texugo (já os meus filhos me diziam que eu não era uma mãe como as outras... será que os meus netos também acham isso... que não sou uma avó como as outras...? na cabeça deles, o que acharão eles desta mulher meio atípica...? eu acho que gostam mas será que eles me vêem como uma certa complacência...?).

Enfim. Nada a fazer. Há coisas que não mudam. Até porque não estou certa de que, se fosse capaz de contrariar a minha natureza, não me veria a mim própria transformada numa desajeitada texuga sem asas.

Adiante.


Estou perdida de sono. Ou seja, se em condições normais já pouco se aproveita, em dias assim então é que é mesmo para esquecer.


Dormi mal a noite passada. Depois tive um dia cheio como um ovo e eu preciso de ter os meus momentos de mind wandering. Nessas alturas a minha mente vagueia, voa dali para fora, lembra coisas boas, tenho sempre lembranças tão boas, parece que nunca me lembro do que poderia aborrecer-me. E penso no que li, no que disse, e acho que até sorrio. À hora de almoço, a correr, a correr, assuntos para tratar e, ainda assim, um salto à livraria. Pensava que o tinha mas não. Agora já tenho. Já escrevi algumas histórias sobre eles. É aquela coisa do imaginário. Na verdade não devem ter nada de mais mas uma pessoa imagina-os solitários, românticos, na verdade frágeis, atacando apenas por instinto. Os olhos brilhando na noite. 

A verdade é que saí bem cedo e cheguei a casa já bem tarde. Não me tem apetecido falar da actualidade, de atentados, de gente doida, de armas à solta, de loucura que se tolera até que se sabe que há muito se sabia. A mente acomoda-se nos padrões, não é? Mente, mentezinha, preguiçosa, preguiçosinha. Os meninos são rebeldes, dizem que matam e esfolam e toda a gente já viu muito daquilo, nada de mais, todos assim, nos jogos de guerra, nos filmes, nas séries, todos, todos o mesmo. E depois os meninos saem por aí a jurar vingança. Não gostam da cultura ocidental, não gostam destes burgueses, desde urbanos gordos, maricas, tudo uma raça a abater, dar cabo deles, que não sobre um - nada de mais, limpeza, acabar com todos. E um dia as televisões cobertas por um banho de sangue, as redes sociais a bombar, E já nem se sabe de que é que se está a falar. Não interessa. A atenção é curta. Somos todos isto e aquilo mas por pouco tempo.

Por isso não me apetece falar em nada destes assuntos malignos. Nem disso nem do filho da Júlia Pinheiro. Vi os jornais agora num breve relance. Ah mundinho mais pequenino, gentinha mais sem assunto. O que vira viral é isto.


Não consigo, tenho sono, apetece-me falar de coisas boas, montes e vales, planícies que parecem mares ondulando ao vento, palavras boas como grandes gotas de água pousadas na face, gotas suaves como beijos ternos e bons, sorrisos, rios, músicas. Poesia, palavras que enlaçam. Disso eu gosto de falar mesmo mal sabendo o que digo.

Escultura de Nazar Bilyk

Recebo por mail vídeos que me trazem notícias e músicas, ensinamentos e risos. Melhor não seria se, ao abrir a porta de casa, encontrasse um vaso de flores, uma jarra de rosas, uma tacinha de marmelada brilhante, um pratinho de arroz doce com o meu nome escrito em canela, um rolinho de papel com um poema para mim, uma carta perfumada, um saquinho com pão quente e cheiroso.

Mas mal me tenho acordada e, portanto, antes que adormeça aqui ao computador vou já, já, ao assunto.

Eu sei que os testes bla-bla-bla, eu sei, mas quero lá eu saber dos bla-bla-bla, se até gosto do saborzinho bom a coisa conhecida. Testes para todos os gostos e, eu sei, tudo sem sustentação.
E daí? Como se o que fosse bom tivesse que ser denso, pesado, desengraçado, sustentado com suspensórios de tio velho. 
Há tempos deixei aqui no UJM o teste da casa e comigo bateu certo, com os meus colegas que fizeram bateu certo. Mesmo os cépticos se renderam. Se eu não estivesse a dormir ia à procura do link. Assim, não dá.


Mas hoje mais um do mesmo género. Por cansada e de olhos fechados que esteja, papo-os logo. Tenho este meu lado crédulo. Acho que há-de um dia descobrir-se que tudo está relacionado com tudo e que, se  nos pomos todos naquilo que somos (digo assim, 'pomos' porque me refiro a muitos, aos normais, aos que são sinceros no que fazem), então o resultado há-de, fatalmente, mostrar aquilo que somos. Crystal clear -- e o La Palice teria muito a aprender comigo e com o putativo papa ofélias.

Bem. Talvez alguns já conheçam. Esses podem passar à frente. Os outros não, está bem? A situação é a que vou dizer a seguir. Anotem as vossas respostas que amanhã descodifico. Ok?

Imagine que vai a caminhar no deserto. Sinta a cena. Dunas douradas, um sol quente. Imagine agora que, para sua surpresa, vê um cubo.

Imagine o cubo. É feito de quê? E a que distância está do chão? 

E agora uma escada. Está onde, em relação ao cubo? É feita de quê? 

Visualize agora um cavalo. Está perto do cubo, perto da escada. O que tem ele em cima? Arreios, sela? E o que faz o cavalo?

Olhe. Agora flores. Imagine que há flores neste cenário. Quantas há? A que distância estão elas do cubo?

Bem, mas imprevistos acontecem. Eis que vem aí uma tempestade. No cenário, onde está a tempestade em relação ao cubo, à escada, às flores e ao cavalo? Pensando nela, fica assustado/a?


Guardem o papelinho com as vossas respostas. Amanhã terão uma surpresa quando vos explicar o significado disso.

[Já estou mesmo a ouvir os meus leitores mauzões a praguejarem: aldrabice, aldrabice, aldrabice. Seja. No meio de tanta aldrabice que por aí há, mais uma, menos uma que mal faz? É que esta é das inócuas, das que até sabem bem.]

Depois conto-vos também quais as minhas respostas. Combinado?

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As magníficas fotografias de paisagens silenciosas como humanos rodeados de um profundo deserto são de Carl Warner.

Lá em cima a música é interpretada por Ballaké Sissoko & Vincent Segal que mão amiga me fez chegar e que eu tenho estado a ouvir de gosto, de gosto, gosto.

_____

Queiram, então, descer até ao mundo dos txuguinhos.

...

2 comentários:

Anónimo disse...

Também acho piada a estes testes mas rezo sempre para falharem. Acho que quando for possível explicar a nossa mente com um teste mais ou menos complicado, então não nos restará muito mais a fazer neste mundo.

Dizendo isto, aqui vão as minhas respostas:
De cristal. Pousado no chão.
Em pé encostada ao cubo. Metal.
Perto da escada. Nada em cima. Não faz nada.
Uma flor. Em cima do cubo.
Tempestade atrás de tudo. Não fico.

Bjs Rita

Anónimo disse...

de água
1,5 mts do chão
ao lado
alumínio
nada
bebe
1 rosa
junto ao cubo
ao fundo
sim

Jpferra