quarta-feira, junho 01, 2016

Paixão



Depois de ter feito o post sobre os casais, pus-me aqui a ver alguns vídeos. O YouTube recomendava-me conferências ou vídeos educativos do TED. De vez em quando um ou outro interessam-me mas, de forma geral, é muito 'a fórmula para' ('para o sucesso', 'para a felicidade', 'para estar bem com a vida', etc) e isso, para ser honesta, maça-me. Não gosto de verdades absolutas nem de gente muito convencida. Da mesma forma, chateiam-me as pessoas que não gostam de nada e que embirram com tudo e com todos. Ninguém pode saber muito de tudo ou sequer muito seja do que for. Ou, se sabe mesmo muito de uma única coisa, é uma pessoa doente, obsessiva, que se fechou para o mundo entregando-se a um único interesse. Isto acho eu.

Por isso, se há coisa de que me orgulhe é de saber pouco e de me lembrar a toda a hora que sou uma ignorante. E uma curiosa. Mas, se sou curiosa e me apaixono pelo que vislumbro, não é pelo prazer de averbar descobertas ou conhecimento mas, sim, pelo prazer de espreitar o vasto mundo que desconheço e saber que jamais poderei abarcar sequer uma pequena parcela do que há para compreender. A imensidão, se me assusta um pouco, atrai-me e desafia-me.


O prazer que sinto vem, sobretudo, em espreitar o desconhecido tentando manter-me intocada, para que o conhecimento não me amorteça, para que queira sempre procurar mais e para nunca ficar desencantada ao comprovar que  afinal, não sei é nada.

E nesta contradição reside, penso eu, a razão da paixão que ponho em tudo a que me dedico. Não consigo ser moderada em relação àquilo que verdadeiramente me interessa.

E se falo hoje nisto é porque as estatísicas do UJM me dizem que estou prestes a atingir um número redondo no número de visitas. Pasmo com esse número. Não me sinto vaidosa (a Pipoca mais Doce ou o Daily Cristina devem conseguir mais visitas num dia do que o UJM num mês - senão mais, nem faço ideia) nem acho que haja algum segredo para conseguir manter um número médio de visitas que a mim me parece surpreendente dadas as minhas baixas expectativas. Falo nisto porque manter este blog veio a revelar-se, para mim, uma paixão. Mais do que um prazer: uma paixão.

Escrever aqui tem os condimentos certos para puxar por mim, para me agarrar, para me tirar o chão. Aprendo, ao escrever aqui. Aproxima-me de pessoas que escrevem bem e que pensam de maneira diferente ou estranhamente parecida com a minha.

E, como todas as minhas paixões, é imoderada. Escrevo demais, textos demasiado longos, demasiados textos. E encho-os de músicas, de fotografias, de pinturas, de bailados. É tudo muito e muito intenso. Reconheço isso e bem gostava de me moderar. Imagino que esta minha imoderação afaste muitos leitores. Eu própria, se abro um blogue e vejo um texto que vai corrido por ali abaixo, um lençol monótono, que vai imparável e sem fim, muitas vezes abrevio a leitura. Mas vá lá eu evitar fazer o mesmo...? Vá lá eu conseguir refrear-me...? Vá lá eu controlar esta minha paixão...?

Não. Não consigo. De resto, nem tento. As paixões não se querem controladas.


E assim, tudo o que faço por prazer, é o que vêem: uma avalancha, uma torrente, uma vontade de viver com intensidade, um gozo.

Estive a ver uma conferência do Ted sobre a paixão, onde o orador exemplificava que grandes sucessos na história dos negócios e de outros empreendimentos, tiveram por base a paixão. Podia, até, colocar aqui esse vídeo mas não ponho. Estas coisas não são doutrina. Cada um é como é e não há 'fórmulas para'. Há sorte, há empatia, há uma qualquer coisa que é indefinível, há entrega, há prazer, há vontade de continuar a fazer, há o estar atento ao que aqueles para quem escrevemos gostam de receber - mas nada disto é reprodutível ou mimetizável.

Se o meu objectivo aqui fosse ter muitas visitas e bater records, inspirava-me nas pipocas e pipocos que, com esse e outros nomes, seguem, by the book, as regras para ter muito sucesso nisto dos blogs. Ora, não apenas não leios esses books, como me estou nas tintas para as regras e quero lá eu saber de rankings. Quero é ter prazer ao fazer isto, quero é aprender, quero é descobrir coisas e pessoas. Quero também é que vocês, aí desse lado, gostem de estar comigo, sintam um pouco da paixão que toma conta de mim quando aqui estou, se surpreendam e queiram continuar a ser surpreendidos tal como eu.

Quando tiver atingido esse tal número redondo, vos direi mais qualquer coisa, não sei o quê, nunca gosto de premeditar. Talvez vos agradeça e mais nada. Até porque, de facto, ao fim deste tempo, se eu tivesse que resumir tudo o que tenho vivido aqui no Um Jeito Manso seria a isto: paixão e agradecimento.

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As fotografias são de Tim Walker

Lá em cima, era o Concerto para Piano Nº 21 de Mozart

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E aceitem, por favor, o meu convite e desçam até aos casais que se vê mesmo que são casais

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