terça-feira, maio 10, 2016

O invisível. Outras dimensões.




Parece que só quando estamos atentos é que vemos algumas coisas. Quando, no século passado, visitei a Expo de Sevilha com uns amigos, eu andava fascinada, tanta arquitectura fantástica, tantos pavilhões cheios de novidades, tanta tecnologia nova, tantas gentes com outros costumes. Olhava à volta e queria descobrir esses admiráveis mundos novos. Em contrapartida, a minha amiga dizia coisas como 'ali devem vender não sei o quê porque estou a ver pessoas virem com sacos de não sei quê e vêm todos daquela direcção'. E eu ficava perplexa porque, de facto, era verdade e eu não tinha, pura e simplesmente, visto.

Acontece-me a toda a hora. Volta e meia vamos na rua e há pessoas que nos cumprimentam muito bem e a quem o meu marido corresponde da mesma forma. Pergunto quem é e ele diz que moram no nosso prédio. Já não se admira pois sabe que é o tipo de coisa à qual não presto grande atenção.

Por isso, sei bem o que é não ver aquilo de que não ando à procura.

Tenho muito para mim que o mundo deve estar cheio de coisas curiosas a que não prestamos atenção porque não as reconhecemos como 'coisas' ou porque os nossos olhos não estão calibrados para as percepcionar.


Movia-me bem nas topologias, esse território insano em que a mente navega por entre espaços ilimitados e multidimensionais. Tinha a sensação de que não percebia nada daquilo mas deixava-me ir, como que embarcando inconscientemente naqueles mistérios. 

A sensação de não perceber matérias e de não me importar, pensando que é da aceitação sem reservas -- e sem querer antes descodificar com códigos familiares que podem não ser aplicados -- é algo familiar em mim. Claro que, desta forma, acabo por não ser capaz de me pronunciar como uma especialista sobre o que quer que seja, porque, ao deixar que a minha maneira de ser flua por entre ou por sobre as coisas, contrario o que seria o natural: embrenhar-me em algumas delas.

O mundo multidimensional que, à nossa luz, é mais imaginário que outra coisa é, para mim, um mundo fantástico onde a nossa existência ganharia um colorido inimaginável, uma vivência caleidoscópica. Provavelmente entraríamos em combustão perante uma estética tão desbragada mas imagino-o como um paraíso feérico, uma maravilhosa e superlativa expo habitada por toda a espécie de vida.

Independentemente disso, o mundo povoado por coisas invisíveis é para mim o mundo de verdade. Não sei dizer mais do que isto e sinto-me feliz assim, quase como se soubesse que isso é o que faz sentido já que o mundo que habito está cheio de coisas transparentes, indecifráveis, inexplicáveis, silenciosas.

Quantas vezes a beleza apenas é assimilável em toda a sua verdadeira extensão (se é que isso existe) quando vistas as coisas de ângulos que antes não tínhamos experimentado. Vejam-se as fotografias que aqui tenho, feitas com um drone.

Transcrevo:
Danilo Dungo uses drones to take stunning pictures of Japanese cherry blossoms. Every spring, he goes to the Inokashira Park to admire the blossoms, and while regular photography capture the park’s beauty, the drones reveal something else altogether.
When seen from a great height, the lake Inokashira Park lake appears to be entirely covered in blossoms! Resembling pollen in a river stream, the blossoms turn the lake a surreal pink, a view unseen by most before the drone age. Be sure to check out Dungo’s other photographs at the National Geographic link below!


Os vídeos abaixo explicam um pouco isso: o invisível que nos rodeia, as multidimensões. Talvez seja mera abstração. Talvez sejamos nós que ainda não estamos sintonizados para as percebermos. Talvez. Não faço ideia.

Exploring other dimensions - Alex Rosenthal and George Zaidan


Imagine a two-dimensional world -- you, your friends, everything is 2D. In his 1884 novella, Edwin Abbott invented this world and called it Flatland. Alex Rosenthal and George Zaidan take the premise of Flatland one dimension further, imploring us to consider how we would see dimensions different from our own and why the exploration just may be worth it. 
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What's invisible? More than you think - John Lloyd


Gravity. The stars in day. Thoughts. The human genome. Time. Atoms. 
So much of what really matters in the world is impossible to see.

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Claro que, antes e depois de tudo, tal como a música, está a poesia.

Mesmo que não na língua original, de novo:

Here I love you de Pablo Neruda (lido por Tom O'Bedlam)



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E aceitem ainda, por favor, o meu convite e desçam até à escrita à mão que nos desnuda.

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