Quem és tu, de novo?
Quando o dia me convoca e eu, impaciente, corro até ao ocidente, e quando o azul me penetra nos poros, me lava o olhar, me corre no sangue e no ar que respiro, é contigo que vou, contigo, sempre contigo. E quando o que vejo me deslumbra e eu, entre serras e mares, me entrego ao encantamento da beleza que me envolve, és tu que estás comigo, sempre comigo.
E quando, com o olhar, eu percorro a cor e a frescura das águas e o rebentamento dos mares, e vejo que o azul se transforma em verde e espuma e movimento, e sinto a feroz atracção do abismo, és tu que me chamas, me olhas, me embalas. Por isso diz-me: quem és tu? Diz-me, de novo.
Quando cá em cima, a vertigem tremendo-me na pele, sinto o frio dos ventos sobre as águas bravias, eu recolho-me a mim e, de olhos fechados, aspirando a limpa maresia, não estou só, não estou, nunca estou: sinto-te comigo, sempre comigo, sempre em mim. E digo-te, mesmo quando não se ouve, quando ninguém ouve: olha, olha, vês o mesmo que eu, sentes o mesmo que eu, queres-me tanto como eu a ti?
E quando vejo uma casa branca com riscas verdes e janelas cor de laranja e sorrio porque deve ser muito bom viver numa casa tão alegre, pousada em verde e pairando sobre o mar e o céu misturados, és tu que vês o meu olhar e o meu sorriso e sorris porque gostas do meu olhar e do meu sorriso e é como se entrássemos os dois naquela casa branca envolta em verde e azul e é como se fossemos os dois até à janela, o teu braço sobre os meus ombros e eu encostando o meu corpo ao teu. E eu, rendida, pergunto-me: quem és tu? Diz-me. Diz-me de novo.
E quase te ouço dizer: eu sou aquele que te quer princesa, a minha princesa, a minha rainha, a minha mulher, que quer inventar um palácio colorido para a ele te levar pela mão, eu sou aquele que desenha serras e florestas e castelos e pinta céus para se reflectirem no teu olhar de menina, porque tu és mais bela, de toda a mais bela.
E eu, ouvindo-te, não sei quem és tu, quem és tu que assim me falas, quem és tu que assim, tão desmedidamente me amas, quem és tu que não sais do meu coração. Não sei. Diz-me se és de verdade. Diz-me. Por favor, diz-me.
Quando o sol desliza na areia, se faz seda dourada, e vem, de mansinho, afagar a minha pele e eu sinto o calor suave da sua carícia, são as tuas palavras que deslizam em mim e é o teu sorriso posto em mim que me abraça. E então sinto o teu calor terno, o toque gentil do teu afecto e és tu, sempre tu, sempre tu, presença em mim, és tu que eu sinto a percorrer a minha pele que a ti se oferece. Vives dentro do meu corpo. Por isso, porque te dou tanto de mim, diz-me: na imensidão destes horizontes, quem és tu? Diz-me, diz-me de novo: quem és tu?
E quando o sol se põe e deita sobre o mar e os casais abraçados se fundem na paisagem, e quando uma gaivota vem de longe para pousar nas escarpas, contra um mar que se faz branco e um céu que se estilhaça em azul e magenta, és tu ainda que vens, és tu que tomas a minha mão e me fazes sentir desejada, mulher, tua. É a tua a mão que vem, tão terna, tão doce, pousar no meu coração.
E eu fecho os olhos e penso: quem és tu? Diz-me. Diz-me de novo.
E quando a lua se desenha em transparência branca no céu e as luzes da cidade se acendem e a intimidade das casas se sente nas ruas, és tu, ainda tu, que me envolves em brandura, que desces comigo até onde as brumas da noite são afago e desejo, és tu que, comigo, me levas pelos caminhos do sonho, pelas ruas floridas que são labirinto, jardim proibido, ninho de amor, és tu, sempre tu, que me abres a porta, que me levas pela mão, que me transportas ao colo, que me deitas, que me tomas nos braços, que dizes que eu sou a mais bela.
Por isso, diz-me. Quem és tu? Diz-me: quem és tu, de novo?
(Mas diz-me baixinho, ao ouvido, em segredo, diz-me apenas com um beijo, diz-me para que ninguém ouça. Sobretudo para que nem eu ouça. Nem suspeite, sequer).
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(Fotografias feitas por mim este sábado em lugares de deslumbramento --
entre Cascais, a Boca do Inferno, Guincho, Cabo da Roca, Azóia, Colares, Azenhas do Mar)
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.
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entre Cascais, a Boca do Inferno, Guincho, Cabo da Roca, Azóia, Colares, Azenhas do Mar)
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.
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8 comentários:
Conheço bem esse percurso, esse de onde se passa pela tal “casa branca com riscas verdes e janelas cor de laranja”, ali perto das Azenhas do Mar. Em tempos havia ali perto um restaurante agradável onde se comia um bom peixinho. E essa imagem da praia do Guincho é muito bonita. Dali vê-se (embora mal) as pequenas localidades da Biscaia e da Figueira do Guincho. É uma bela praia, sobretudo nos dias bonitos de Inverno. Gosto de passear por lá, pela praia, embora nunca na época balnear. De fins de Outubro até meados de Abril; depois começa a ser complicado, com gente a mais. O Guincho é mais romântico no Inverno. Ficar ali sentado, ou a passear, é repousante e faz-nos bem ao coração. Pode crer! As primeiras fotos podiam ser da Biscaia. Ainda hoje, com este sol, por lá andámos, “cavalgando” em cima das rochas, durante a manhã. Dois casais passaram por nós, um vinha do Cabo da Roca e iam ainda dali até à praia do Abano, uma bela caminhada! Que já fizemos. Cansativo talvez, mas a vista que dali se desfruta, magnífica, recompensa bem o sacrifício. Uma beleza!
*Um vizinho nosso, americano, com uns quarenta e muitos, ou cinquenta, divertido, todo ele dedicado ao jogging, tem uma namorada portuguesa, uns dez anos mais nova, bonita, e outro dia, um Sábado a meio da manhã, devem ter-se zangado, ela zarpou de casa dele, batendo com a porta e, metendo-se no seu Smart, deixou-o. Não é que ele, pouco depois, ainda ela arrancava no Smart, aparece na rua, quase nu, apenas com a toalha de banho, curiosamente curta, descalço e desata atrás dela, chamando-a! Não adiantou aquela prova de particular afecto, pois ela marchou dali para fora, com um aceno de mão pelo vidro. O tipo não faz mais nada, voltou para trás e foi ter ao carro dele e ala que se faz tarde! Foi atrás dela, naquele traje. Vi-mo-lo regressar já com alguma roupa no corpo, ao fim da tarde. Vinha com um sorriso na cara. Continuam juntos. Ainda bem. Uma mulher cujo companheiro sai do duche apenas com a toalha de banho a cobrir-lhe as “partes” e corre rua fora, em público, a pedir-lhe para ela voltar e depois se mete quase nu no carro no seu alcance, naquela figura - não pode deixar de gostar de um tipo assim, quer-me parecer! As declarações de amor não devem obedecer a um determinado padrão. Se um tipo gosta de uma mulher, deve prová-lo, sobretudo nos tais momentos difíceis. Foi o que o individuo fez. A meu ver bem, embora bizarro, mas divertido, convenhamos!
P.Rufino
Olha a minha terrinha. Então foi a Sintra? Sim senhora.
Um passeio muito bonito, um dia lindo, a serra verde, verde. E fotografei umas casas quase em ruínas, bonitas. Gosto de fotografar a decadência. Dantes pensava que era bonito mas triste porque estavam a caminho de deixar de existir, agora acho que as ruínas são um símbolo de resistência, acho ainda mais bonitas.
Mas o mar e a serra e aquela luz fabulosa... E estava uma lua transparente no céu. À noite já estava branca e a temperatura ficou amena. Um dia muito bom - e sim, pelos vistos andei pela sua terra, Pedro.
Só lhe faltou um saltinho ao meu Magoito, ali tão próximo, que hoje também estava com um ar de primavera.
O calor do sol convidava-nos a que o sentíssemos trespassar os mais ou menos agasalhos que tivéssemos vestido.
Como diz um amigo meu - um dia de rosas!
Beijinhos
Olá Teté,
Pois foi, não chegámos lá. Os dias ainda estão curtos e ainda tinha que ir a casa dos meus pais. E eu perco-me, maravilhada, com tudo, ponho a fotografar e o tempo passa. Mas um dia destes vou até lá. Quero também andar mais mesmo pelo meio da serra, e ter tempo para me sentar nas esplanadas ao sol que hoje nem deu tempo para isso. E a ver se, para a próxima, saímos de casa mais cedo porque há tanto lugar bonito que não quero andar a olhar para o relógio.
Beijinhos, Teté!
Olá P. Rufino,
Andei por lá, sim, a cavalgar as rochas e até pensei que poderia muito bem dar consigo.
Lugares mesmo bonitos. Temos lugares destes em Portugal, tão extraordinários, e poucos portugueses se vêem a passear por lá. Em contrapartida, magotes de chineses (ou japoneses? talvez japoneses. Autocarros de excursões deles, tudo a auto-fotografar-se e a espreitar para as fotografias tiradas, dá ideia que, verdadeiramente, não usufruem a beleza fantástica dos lugares. O Cabo da Roca estava apinhado, nunca pensei). Mas na Boca do Inferno já vi muitos portugueses. E que arranjado que aquilo está, não ia lá há séculos, agora quase não reconhecia.
E as Azenhas lindas, lindas. Estava um dia mesmo bonito, foi um dia mesmo em cheio.
E tirei umas fotografias a pensar no que escreveu. Agora é que já é tarde e já não dá mas a ver se amanhã as escolho e faço um post com elas.
Que sorte a sua, morar num lugar privilegiado desses!
A casa de branco e verde das Azenhas do Mar é autoria do arquitecto Raul Lino.
Os nossos agradecimentos,deste casal reformado, pela bela reportagem.
O seu blog continua a ser leitura obrigatória.
Obrigado!
Olá Beatriz e António,
Muito obrigada pela informação e pelas vossas gentis informações. Fico contente que gostem e espero não desiludir (embora, já saibam, especialmente quando estou mais cansada, costuma dar-me para a palermice).
Um abraço aos dois e desejo-vos dias muito felizes.
PS: A ver se mais logo mostro fotografias de casas bonitas que, por estas bandas, abundam.
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