domingo, fevereiro 14, 2016

A autora de Um Jeito Manso comemora o Dia dos Namorados com a Deliciosa de Rabelais
[2º capítulo]


(Este post deve ser lido depois do post que se encontra mais abaixo, a seguir a este)




- Sabe? -- disse-lhe, pegando-lhe nas mãos muito macias e perfumadas. -- Já há muito tempo que desejava estar consigo.

- Sim! Porquê?

- Porque a acho muito formosa e elegante.

- Sou tão magrinha.

- Oh, mas é muito bem feita!

- Sim, não sou desastrada de todo.

- Diga antes que é muito sedutora.

- Não esteja a troçar comigo.

- Falo sério. -- E enlaçando-lhe a cintura com o braço esquerdo procurei com a mão direita colher-lhe os seios.

- Naturalmente não gosta, são tão pequeninos.


- Mas são deliciosos, dois verdadeiros encantos, dois frutos de Vénus como raros tenho encontrado assim. Certamente não amamentou a sua filha.

- Não, faltou-me o leite.

- Todo?...

- Seu mau... O da amamentação. O outro sobra-me.

- Deixe-me cobrir de beijos essas jóias deliciosas.

Ela desabotoou a robe.

Realmente eu não exagerara.


Cleópatra tinha uns seios pequeninos mas encantadores, rijos, macios, tersos, direitos, que pareciam querer saltar para a cara da gente, seios verdadeiramente esculturais, como se fossem talhados em mármore, terminando nuns deliciosos bicos muito tesos e rosados, que desafiavam todos os apetites.

Entre os lábios tomei esses gráceis encantos e suguei-os com a mais artística e suave subtileza.

Ela apertara-me o busto e respirando forte murmurava:

- Ai, amor, que prazer sinto.

Então a minha mão, passando por de sob as suas roupas e por entre as mais macias e aveludadas coxas que é dado fantasiar e que ela entreabria, procurou aquele cálix do amor que sempre transborda quando a sua possuidora é de sensível temperamento...

- Ai, filho -- exclamou ela, -- vem comigo que eu não posso mais...

Cobri-lhe de beijos os lábios ardentes e vermelhos, e segui-a à sua alcova, muito elegante e confortável.

- Põe-te à vontade -- disse ela, despindo a robe e ficando com uma curta camisinha de seda cor-de-rosa com rendas pretas.

Era uma falsa magra, porque as suas pernas muito direitas e esculpidas tinham um torneado e uma grossura bastante notáveis para o seu todo franzino e débil.


- És linda! - exclamei eu, já como Adão antes do pecado, e arranquei-lhe a camisa, frágil estorvo à representação da cena que íamos representar.

(...)
____

Este post e o anteriorq (o que está a seguir a este) são excertos não contínuos da história Deliciosa da autoria de Rabelais (pseudónimo de Alfredo Gallis) in Aventuras Galantes. Não transcrevi algumas passagens no interior dos excertos por serem mais explícitas do que é expectável num blog de uma avozinha. Claro que a história não acaba onde eu terminei e, em abono da verdade, até devo dizer que começa a partir daqui -- razão porque, a bem da moral e dos bons costumes, me detive.

Transcrevo apenas o final e cada um que dê largas ao seu poder de dedução ou à imaginação (até porque, se Dia 14 é o Dia dos Namorados, é preciso não esquecer que o amor -- e o que vem por acréscimo -- é sobretudo una cosa mentale). Claro que também poderão adquirir o gostoso livrinho.

Então, acaba assim a história da Deliciosa:

Demais... tinha um cardeal na sua árvore genealógica, como depois me contou ao café.

Era, pois, fatal aquele desenlace...

____

5 comentários:

Rosa Pinto disse...



Bom. Mais uma leitura a fazer...

Lindo dia para o namoro. Bom dia de São Valentim!!!

Anónimo disse...

"O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala...parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
a)Fernando Pessoa"

P.Rufino

Anónimo disse...

E, continuando a falar de Amor, conta-se que o lendário Rei de Chipre, Pigmalião se apaixonou (perdidamente) por uma estátua de mulher e a Deusa Afrodite deu-lhe vida e Pigmalião veio assim a casar com aquela mulher idealizada.
Na Antiguidade Grega, (para além daquela que ficou mais famosa e que aqui menciona, Phryne, ou Friné) vêem-me à memória os amores de Periclites pela bela Aspásia, para além das duas Lais, de Thais e Sinope (“Hetaeras” de reconhecida beleza e intelectualidade, que encantaram muito coração masculino).
E o amor que Marie Boursin, o seu verdadeiro nome, embora conhecida por Marthe de Melingny, sentiu por Pierre Bonnard, de quem se tornou amante, foi sua musa e modelo preferido, retratada em vários quadros do artista e que de tão apaixonada, lhe perdoou as outras ligações amorosas que Bonnard veio a manter.
Quanto a Ninon L’Enclos, chegou a receber, ao que consta, o então pequeno Voltaire (com apenas 13 anos) lá por casa, embora sem qualquer ligação amorosa ou sexual.
Mas, o Amor pode ter feitiços, que o diga a tradição hebraica que fez de Lilite um(a) demónio malvado(a), a incarnação de sexualidade ruinosa. O Talmude diz que Lilite foi criada por Deus, por Adão andar cansado de copular com animais. Contudo, ela, Lilite,, recusou submeter-se sexualmente a Adão (ou mesmo, segundo consta, ficando na posição debaixo dele) e quando ele a tentou forçar, ela amaldiçoou-o e fugiu. Lilite foi instalar-se no Mar Vermelho e ali veio a manter relações sexuais com todo o tipo de demónios, dando à luz centenas de descendentes cada dia. Os mensageiros de Deus (os Anjos) não conseguiram demovê-la a regressar (o que afinal nos demonstra que o Velho Criador não é tão Poderoso como nos fizeram crer), pois ela recusou-se e Deus, desta forma, viu-se obrigado a criar Eva (por conseguinte, Eva foi uma segunda escolha). Embora a história de Lilite tenha sido excluída da Bíblia e da sua Mitologia, sobreviveu no folclore judaico e até no subsequente cristão. As filhas de Lilite vieram a ser igualmente demónios(as) maus (más) que seduziam os homens durante o sono da noite, provocando-lhes ejaculações. Conta-se que as filhas de Lilite eram tão extraordinariamente belas e peritas na arte do Amor, que um homem, uma vez seduzido por elas (presume-se enquanto dormia, ejaculando) nunca mais voltaria a encontrar satisfação (amorosa) numa mulher. A personagem Lilite veio posteriormente a ser retratada pelo pré-rafaelista Dante Gabriel Rossetti, em 1868, que se inspirou na sua amante Fanny Cornforth, como modelo, embora mais tarde tenha substituído a face por outra dos seus modelos, a de Alexa Wilding, 4 anos depois.
Ainda sobre o Amor, há um livro bastante divertido sobre o Amor no tempo dos Libertinos, de Patrick Wald Lasowski, que merece leitura. Não retirei de lá alguns episódios para não me alongar, mas vale a pena a sua leitura.
P.Rufino

Rosa Pinto disse...

Lindo poema. Gosto destas histórias que P.Rufino nos relata.

Um Jeito Manso disse...

P. Rufino,

É sempre com prazer que leio as histórias que aqui nos deixa. Aprendo e fico sempre com vontade de aprender mais. E estão sempre escritas de uma forma que vamos pelo texto sempre com vontade de que não acabe pois o tema é inesgotável.

E o poema também muito bom e a propósito.

Muito obrigada, P. Rufino!