terça-feira, janeiro 12, 2016

David Bowie, a gentle soul -- e alguns daqueles e daquelas que ele amou*


Há pessoas que têm um tal magnetismo que parece que atraem todos à sua volta. Tive um colega que era desse género: era impossível não se gostar dele. Era polémico, provocador, ousado, surpreendente, destemido, alegre, folgazão, emotivo, inteligente. Não me lembro do número de apaixonadas por ele que lhe conheci. Apaixonavam-se de tal maneira que corriam todos os riscos para estarem com ele. E a todas eles correspondia. Acho que nem tinha que fingir que gostava delas tanto como elas gostavam dele já que nem isso elas lhe exigiam. 

Ainda me lembro dele, tão bem, já atrasado para a reunião, ao fundo do longo corredor de mármore, vendo-me a chamá-lo, rindo e a fazer um daqueles saltos em que se bate com os pés um no outro, no ar, de lado. E eu a rir, à espera dele à porta, para lhe dizer: 'Havia de ter graça que caísse redondo...'

Por mais do que uma vez, fizemos parte da mesma equipa daqueles jogos de gestão. Competia-nos aos dois fazer as contas finais, os acertos de última hora e, depois, a estalar pelas ruas de Lisboa, irmos entregar a jogada à Católica. Alinhávamos um com o outro, muitas vezes contra os mais conservadores do grupo. Nunca senti qualquer coisa demais por ele e muitas vezes dizia que devia ser a única mulher que ele conhecia que não lhe caía os braços. Penso que terá sido porque, desde logo, estabelecemos uma relação de amizade fraternal. Mas todo ele espalhava magia e amor. Quando saíu da empresa, director conceituado em rotura com a administração, juntou mais de cem pessoas num emotivo jantar de despedida. Dali seguiu como director para outra grande empresa onde, igualmente, se tornou querido e respeitado.

Por uma daquelas rasteiras do destino, pouco depois adoeceu com um cancro. Ninguém queria acreditar em tal. Uma pessoa assim não podia ser prematuramente tocada pela morte. Foi operado, fazia quimioterapia. Depois das sessões ia trabalhar. Nunca deixou de trabalhar e comparecia sorridente como se tivesse a vida pela frente. As pessoas convenceram-se que ia vencer a luta pois nunca se deixou abater, e parecia bem.

A última vez que o vi, pouco antes de morrer, estava ele ao volante numa via em sentido contrário àquela em que eu ia. Apitou, abriu a janela, eu abri a minha, falámos, disse que estava bem, perguntou por mim, se eu também estava bem, riu, fez-me adeus, todo sorridente.

Quando chegou a notícia, ninguém conseguia acreditar.

Na igreja onde esteve, naquela dos Jerónimos, juntou-se uma multidão. Todas as suas namoradas e amantes choravam, infelizes como viúvas. Junto do caixão, a mulher, que ele amava genuinamente, quase desfalecia de desgosto. Muito triste, tudo.

Lembro-me muitas vezes dele, tão precocemente saído da vida preenchida e prazenteira que levava.

Esta segunda-feira, quando soube da morte de David Bowie, foi desse meu amigo que me lembrei. David Bowie ainda em Dezembro tinha comparecido, sorridente, numa festa. E lançou um cd na sexta feira, Black Star, e, quem não sabia do mal que o consumia, não desconfiou de nada. Mesmo vendo as imagens macabras, ninguém percebeu que se estava a despedir, a entrar já no mundo dos mortos: parecia mais uma das suas inusitadas e perturbantes encenações. Na segunda canção, ouve-se uma respiração, talvez a sua, como se fosse um último sopro, como se quisesse que para sempre se possa ouvir a sua respiração.


Não vou, eu, falar das suas representações ou interpretações. Gostava de Bowie mas não a ponto de me lembrar dele se tivesse que referir algumas músicas da minha vida ou algumas cenas de filmes que me tivessem marcado.

Vou antes falar de alguns dos seus múltiplos amores porque, quem muito ama, leva da vida o que de melhor a vida tem. E tenho para mim que, ao partir, quem muito amou partirá de consciência tranquila, como se tivesse cumprido a sua missão na terra: não rejeitar o muito que a vida proporciona nem virar as costas aos amores que a vida coloca dentro do nosso coração.

Não vou falar de todos aqueles que foram por ele cativados, acho que nem seria possível: vou falar apenas alguns. Por exemplo, não vou aqui referir casos conhecidos como Marianne Faithfull, Nina Simone, Elizabeth Taylor, Tina Turner. Apenas alguns, os que se seguem.


Angie



Em 1963, David Bowie encontra Angie que dorme com a mesma pessoa que ele.

Apaixonam-se um pelo outro e começam uma relação aberta. Consta que na sua casa decorriam as melhores orgias da cidade.

Tony Zanetta, antigo assistente de Bowie e que também dormia com ele contou algumas das peripécias que lá se passavam. Angie e David acabaram por se casar.



Amanda Lear


Amanda Lear e David Bowie viveram uma história de amor que durou um ano e meio nos anos 70.

Amanda Lear contou que era uma relação muito imaginativa e que mudou a sua vida.





Mick Jagger




Em 1973, Angie descobriu Mick Jagger nu na cama do seu marido.

Não se sabe o que se passou já que estavam bêbados para conseguirem explicar.

Mas, na época, o relacionamento estreito e as fotografias que revelavam intimidade deram que falar. E o seu caso nunca foi desmentido.




Iggy Pop




Em 1976, David luta contra a cocaína. Foram tempos loucos, de muitos excessos.

Parte para se instalar em Berlim com Iggy Pop, a sua última paixão, deixando para trás Angie, a mulher








Susan Sarandon



Em 1983 Bowie começa uma relação com Susan Sarandon.

Dela ele diz que é 'pura dinamite'.

A tórrida aventura durou três anos. 



Oona O'Neill


A viúva de Charlie Chaplin, bem mais velha que ele, Oona O'Neill, foi outra das ex de David Bowie. 


Iman


Quando encontra Iman em 1992, David Bowie tem um coup de foudre. Definitivo.

David sentia-se feliz por ter tido a oportunidade de a encontrar e manteve-se fiel a ela até ao fim.

Dois dias antes da morte do marido, no dia em que ele fazia anos, Iman divulgou o seguinte post: Por vezes não sabemos o verdadeiro valor de um momento senão quando ele se torna uma memória.

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Parte dos textos que acompanham as fotografias vêm de Madame Le Figaro em traduções resumidas e livres.

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Já agora incluo o excerto da entrevista que Iman concedeu em Dezembro de 2010 à Harper's BAZAAR e no qual fala do seu bem amado David.



SD: Do you and David ever fight? [Iman has been married to rock god David Bowie for 18 years.]
Iman: David doesn't fight. He is English, so he just stays quiet. I'm the screamer. Then he always makes me laugh. It's like cabaret. I keep him entertained too. I still fancy him —totally! — after all these years.
SD: Which Bowie song do you adore?
Iman: So many! "Heroes" especially. "Suffragette City" always gets me dancing with my little girl, Lexi [age 10].
SD: Who takes more time to get ready?
Iman: David takes five minutes. Me? I don't do anything by myself. I have a whole crew to get me ready every day.
SD: Who do you idolize?

Iman: My father. He taught me how to be a parent and gave me a positive connection with men because he is a gentleman. And that is what attracted me to David. He is a gentle soul.

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* No título deste post referi-me àqueles ou aquelas que David Bowie amou. Não sei se amor será a palavra indicada em todos os casos. Talvez em alguns, fosse desejo, noutros talvez atracção e folia, noutros talvez um enlevo ou devoção. Não sei. Estive para escrever 'aqueles ou aquelas que ele cativou' ou 'seduziu' -- talvez fosse mais apropriado. Mas não sei, nisto de sentimentos não é fácil a gente dar-lhes nome.

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E agora, se me permitem o convite, desçam, por favor, até ao canhão da Nazaré, num dia em que o mar até não estava tão grande como nos seus mais selvagens dias.

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