Já anteriormente aqui falei do tema. Falei também de Hygge, o tão bem guardado segredo. No entanto, quando falo nisto, até a mim me parece que falo já a medo. Parece que é conversa de mulherzinha fútil, coisa de quem não tem mais do que borboletas brancas a sair-lhe da cabeça - quando é sabido que as borboletas brancas saem é dos dedos.
Ou seja, sei que é tema banal, que não há livreco de auto-ajuda que o não aborde. E eu que fujo de best-sellers a sete pés e, se forem de auto-ajuda, até ligo o turbo... (A questão é que me maçam, me cansam, me enjoam os lugares comuns e esses livros são, regra geral, um enunciado acéfalo de banalidades). E, no entanto, aqui não há como fugir: a felicidade é mesmo um lugar comum.
Penso que a felicidade é o que toda a gente deseja alcançar e, no entanto, não é como fazer contas que isso a gente já sabe que tem que primeiro aprender a tabuada. Imensa gente prega a forma de a alcançar, seja através da religião, da meditação, da alimentação, do exercício físico, de tratamentos faciais, da frequência assídua nas redes sociais, de olhar o céu azul ou fazer festinhas a gatinhos fofos. Sei lá. Estou para aqui a inventar mas é mais ou menos assim.
E, no entanto, soubéssemos nós como se alcança essa coisa da felicidade e estávamos a toda a hora de sorriso estampado no rosto, num estado zen, e, quais bonsais flutuantes, estaríamos num permanente estado de pura levitação anímica. Tão bom que seria.
Mas a verdade é que, na vida, há mil opções a fazer a cada instante, mil acontecimentos fortuitos que nos podem ir levando para caminhos por onde não passa a felicidade.
Conheço pessoas que teriam tudo para terem uma vida feliz e, no entanto, têm uma vida desgraçada. Dá ideia que a cada bifurcação que encontram, optam pelo lado errado. Parece que o lado bom da vida lhes passa estupidamente ao lado. Podem ser pequenas coisas mas dá ideia que as falham todas. É difícil ajudar pessoas assim pois parece que lhes está na massa do sangue darem passos errados. Não é que não queiram. Mas parece que quase têm medo de acertar e, então, arranjam maneira de falhar. Ou, então, parece que se habituam a uma vida de ausência de estímulos, a viverem num permanente cumprimento de rotinas destituídas de verdadeiro prazer. Parece que acabam por passar bem sem a felicidade. Não é deliberado, talvez nem se dêem conta. Quando vejo pessoas assim, lembro-me do Stoner.
Conheço pessoas que teriam tudo para terem uma vida feliz e, no entanto, têm uma vida desgraçada. Dá ideia que a cada bifurcação que encontram, optam pelo lado errado. Parece que o lado bom da vida lhes passa estupidamente ao lado. Podem ser pequenas coisas mas dá ideia que as falham todas. É difícil ajudar pessoas assim pois parece que lhes está na massa do sangue darem passos errados. Não é que não queiram. Mas parece que quase têm medo de acertar e, então, arranjam maneira de falhar. Ou, então, parece que se habituam a uma vida de ausência de estímulos, a viverem num permanente cumprimento de rotinas destituídas de verdadeiro prazer. Parece que acabam por passar bem sem a felicidade. Não é deliberado, talvez nem se dêem conta. Quando vejo pessoas assim, lembro-me do Stoner.
Há ainda outra casta: as pessoas que não atinam com nada e que, vá lá saber-se porquê, se acham superiores às outras, como se fosse por superioridade intelectual ou moral que encontram motivos para angústias, coisa que não está ao alcance da compreensão dos menos dotados. Então depreciam a felicidade dos outros, quase se esforçando por quererem fazê-los sentir seres inferiores. Pessoas assim são tóxicas. São pessoas que vivem angustiadas mas que, pior que isso, parece que as nuvens negras que carregam alastram à vida de quem se lhes chega perto. De fugir.
Sobre as razões, acho eu que não vale a pena invocar problemas, desgraças, fatalidades para justificar o estado permanente de ausência de felicidade. Claro que há pessoas a quem tudo parece acontecer e que, naturalmente, se vão abaixo. Mas a verdade é que por períodos maus toda a gente passa, problemas toda a gente os tem. Só que há que ter vontade de os ultrapassar ou, então, saber procurar ajuda. Saber e querer - não esquecer a vontade de ser feliz.
Em contrapartida, conheço outras que têm aquilo que se poderia chamar de vidinha, nada que pareça ser especialmente motivador. E, no entanto, vejo-as sempre animadas, equilibradas, felizes da vida. Uma pessoa vê-as radiosas e interroga-se: o que é que lhes traz tanta felicidade, que não se divisa? Não sabemos, é lá coisa delas. Mas, seja o que for, funciona, fá-las felizes. E isso é bom.
Olhem eu. Se eu fosse enumerar a quantidade de chatices que tenho tido nos últimos meses nem acreditariam. Dumas tenho falado aqui, de outras nem pouco mais ou menos. E, no entanto, com maior ou menor dificuldade, ponho-as para trás das costas e para a frente é que é caminho. E, se me puser a fazer uma retrospectiva, em primeiro lugar lembro-me das coisas boas e parece que as coisas más foram incidentes passageiros ou coisas que há que aceitar como elas são, sem dramas.
Tenho para mim, e isto sou eu a falar numa perspectiva racional, que se conseguir manter o discernimento e relativizar os problemas e, pelo contrário, enaltecer as coisas boas, tudo se torna bem mais suportável. Só que, em mim, esta atitude perante a vida não é pensada: sou mesmo assim, naturalmente, sem ter que me esforçar. Por isso, sempre atribuí sobretudo à minha genética esta minha maneira de ser.
Contudo, um estudo da Universidade de Harvard veio agora revelar o resultado de um estudo longo, extensivo no tempo, cuidadoso na análise. Não percebo é porque é que apenas incidiu sobre uma amostra masculina mas lá devem ter as suas razões: seguiram o quotidiano de 724 homens ao longo de 75 anos. Tiveram o cuidado de diversificar a amostra de forma a cobrir pobres e ricos, letrados e iletrados, de umas zonas e de outras diametralmente opostas. As pessoas fizeram análises ao sangue, os seus cérebros foram vasculhados e a alguns, ao morrerem, até autópsias fizeram. Os seus hábitos foram acompanhados ao longo da vida, falaram com pais e filhos, amigos e vizinhos. Nada escapou a este estudo.
O estudo revelou que um mau casamento é péssimo, que pode ser preferível o divórcio. Revelou que viver fechado em casa, sem amigos, é horrível: mata. Revelou que ter (boa) companhia é um suporte afectivo que traz segurança e motivação, felicidade, saúde e longevidade.
Não são resultados que me surpreendam: se eu tentar perceber a razão do meu estado de alma habitual sou levada a crer que o saber que não estarei sozinha num momento em que precise de suporte me traz muita serenidade, que o saber que tenho com quem partilhar preocupações, medos ou alegrias me traz conforto, que o saber que sou amada, estimada, respeitada me tranquiliza, que saber que tenho pessoas a quem amo me aquece o coração. E isto tudo junto faz-me sentir, a maior parte do tempo, feliz.
A quem se entenda bem com o francês, deixo aqui o link para a Madame le Figaro onde poderão ler coisas como esta:
E a conclusão foi não tem nada a ver com isso, nada. Mais: a chave da felicidade também não reside nem na riqueza nem no sucesso, mas na qualidade das companhias. Não viver sozinho ou mal acompanhado é a chave da felicidade, da saúde e da boa memória.
O estudo revelou que um mau casamento é péssimo, que pode ser preferível o divórcio. Revelou que viver fechado em casa, sem amigos, é horrível: mata. Revelou que ter (boa) companhia é um suporte afectivo que traz segurança e motivação, felicidade, saúde e longevidade.
Não são resultados que me surpreendam: se eu tentar perceber a razão do meu estado de alma habitual sou levada a crer que o saber que não estarei sozinha num momento em que precise de suporte me traz muita serenidade, que o saber que tenho com quem partilhar preocupações, medos ou alegrias me traz conforto, que o saber que sou amada, estimada, respeitada me tranquiliza, que saber que tenho pessoas a quem amo me aquece o coração. E isto tudo junto faz-me sentir, a maior parte do tempo, feliz.
Falando de felicidade, até ficava mal não colocar aqui uns gatinhos, não...? |
A quem se entenda bem com o francês, deixo aqui o link para a Madame le Figaro onde poderão ler coisas como esta:
Trois quarts de siècle se sont écoulés depuis le début de l’étude. Le premier constat est manichéen : les relations humaines sont excellentes pour le bien-être tandis que la solitude tue. L’expérience montre que les individus les plus connectés à leur famille, à leurs amis et à leur cercle social sont non seulement plus heureux mais aussi en meilleure santé. À l’inverse, les personnes isolées sont moins heureuses et leur état de santé décline en milieu de vie tout comme leurs capacités cognitives. Les personnes seules mourraient aussi plus jeunes.
De qualquer forma, deixo-vos com Robert Waldinger que aqui divulga as conclusões do estudo. O vídeo encontra-se legendado.
O que torna uma vida boa? Lições do mais longo estudo sobre felicidade.
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E agora, caso queiram atingir um patamar superior no que à boa disposição diz respeito, queiram descer até ao post seguinte, e ver o que a simpática Blanche DeBris tem para nos mostrar neste dia dedicado à reflexão sobre o que nos trouxe até aqui, até a esta pobreza franciscana de candidatos.
Se eu não fosse cá de coisas, votava era em branco. Mas como sou toda de nova horas e sentido cívico e o escambau vou mesmo votar.
E pronto, hora de ver uma bela farrinha (e quem não gostar de ver rabiosques masculinos azarinho, concentre-se nos femininos ou espreite com atenção que é capaz de ver outras coisas)
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1 comentário:
enquanto existir pessoas talentosas e a partilhar esse talento, a felicidade está ao dobrar da esquina, Hello - Adele (Reggae Cover) - https://www.youtube.com/watch?v=OmnDEUD9NyI&feature=youtu.be
Bob Marley
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