Hoje é daqueles dias em que estou aqui só por vício. Vício ou devoção. O meu filho diz que é uma doença: o sentir que tenho obrigação de não decepcionar os meus leitores. Não sei. Talvez seja apenas o gosto pela escrita. Não faço mesmo ideia. O que sei é que estou mesmo cansada. No trabalho, só pepinos, autênticos berbicachos, e que, ainda por cima, supostamente, têm que ser descascados até ao fim da semana. Ora o fim da semana é esta quarta-feira. Ou seja, vai ser um dia lindo. A menos que todos, solidariamente, nos juntemos e mandemos os pepinos de volta para a horta. Tenho esperança que seja isso que vai acontecer. Aliás, não vejo alternativa.
Ora conjugar maçadas, trapalhadas no trabalho e saídas tarde com compras de natal (ainda esta terça-feira, à hora de almoço, andei a correr a despachar os últimos presentes e, depois, séculos no trânsito, um choque numa das vias mais movimentadas da capital) e com preparativos em casa é do caraças. Do caraças, mesmo.
Para entrada para levarmos para casa do meu filho no dia de natal, juntamente com umas tiropitas que vou ver se consigo fazer, o meu marido lembrou-se de um petisco que comemos, no outro dia, num restaurante. Portanto, esta terça-feira, depois de chegar a casa tarde e de termos ido fazer uma caminhada rápida, ainda fomos ao supermercado. Galo. Aquilo que queríamos não havia. Trouxemos já os acompanhamentos para o bacalhau e mais umas tretas mas ficámos a pensar onde arranjaríamos o tal ingrediente. Chegámos a casa às nove e tal e sem termos jantado. Resolvemos, então, ir jantar no centro comercial e ir lá ao super. Assim fizemos e, felizmente, lá arranjámos o que queríamos. Portanto, de compras acho que finalmente está tudo.
Mas a verdade é que, agora que me consegui sentar aqui, já passa da meia-noite.
Para o jantar da véspera vou fazer bacalhau com todos e, de entrada, alheira à Brás. E tenho bolo-rei, bolo-rainha e pão-de-ló. E os convidados vão trazer um prato de carne, que me palpita que vai ser supimpa, e arroz doce.
E agora, como não estou com cabeça para conversas profundas, vou contar-vos uma coisa. Os meus filhos gostam de bacalhau cozido com todos. Mas, ao passo que a minha filha nestas coisas é mais moderada, o meu filho tem aquela pancada da mística das coisas. E, por causa da dita mística, torna-se fundamentalista.
Ou seja, acha que bacalhau, especialmente na véspera de natal, tem que ter couves portuguesas. Ora eu não gosto de fazer dessas big couves. Por isso, tinha combinado com o meu marido fazer o bacalhau com batata normal, batata doce, cenoura, feijão-verde, grão e ovo cozido. Ponho tudo em travessas grandes e cada um que se sirva do que quiser. Ao ouvir os meus planos, o meu marido foi logo avisando: 'o puto vai querer couve'. Respondi que azarinho, haveria muito por onde escolher. Couves é que não -- e nem tem a ver com o gostar ou não de couves. A chatice é que são grandes, a lavar as folhazonas molha-se tudo, acaba o chão molhado, e é preciso um panelão enorme só para as couves. O meu marido insistiu: 'é melhor não dizeres nada, senão ele vai insistir, não vai descansar enquanto não fizeres couves'.
Estávamos nós nisto quando me toca o telemóvel. Era ele. Ora ele liga sempre mais tarde. Vi logo que havia coisa. 'Então, filho?'
'Olha lá: deram-me um cabaz e no cabaz vem uma couve portuguesa. Não queres aproveitar para o bacalhau?'. Só me apeteceu dizer um palavrão, the f word.
Disse-lhe que não, que não estava a pensar pôr couves. 'Não? Então porquê?'. Lá expliquei que ia pôr outras coisas, que não estava para a trabalheira de molhar tudo, o chão ao pé do lava-louça, que demora muito tempo porque gosto de lavar folha a folha, que um panelão vai todo só para as couves. Não se deu por vencido: 'Se não a quiseres vai para o lixo'. Chantagem. Sabe que odeio desperdiçar o que quer que seja. Disse-lhe que a usasse ele. Que não, que não ia usar. E ali estivemos. Por fim, já se vitimizava: 'Estou a oferecer uma couve e não aceitas?'. Pronto, desisti. Como sempre, fui vencida pelo cansaço. Agora temos que lá ir buscar a santa da couve.
Nestas coisas, volta e meia ponho-me do lado do problema. O meu marido é mais pragmático: arranjou logo uma solução. Diz que damos banho à couve, na banheira. Desatei-me a rir. Diz que é a maneira lógica de lavar uma couve. Põe-se num alguidar e, folha a folha, dá-se-lhe uma valente chuveirada, que assim não se molha a cozinha nem me molho eu. Depois de me fartar de rir com a perspectiva de dar banho à couve na casa-de-banho já me parece uma boa ideia.
Andava no supermercado e, pensando nisto, só me dava vontade de rir. E lembrava-me de uma outra maluquice que o meu filho contou e de que aqui já falei. Tem um grupo de amigos do Técnico com quem mantém uma sólida amizade. De vez em quando encontram-se para jogar futebol, para jantarem, para conversarem, para se divertirem. Uma das vezes foram jantar a casa de um deles, o que foi o melhor aluno e que ficou investigador, um jovem sobredotado -- e que, talvez por isso, é meio despistado. Parece que para um grupo de uns quantos galifões tinha apenas dois frangos assados. Perante a óbvia escassez de morfos, o dono de casa resolveu, então, rapidamente o assunto: descongelou um sacalhão de febras, todas pegadas umas às outras. Pelos vistos não tinha micro-ondas pelo que não foi de modas: pôs água quente na banheira e pôs as febras de molho. O meu filho, ao contar isto, fartava-se de rir, diz que nem queria acreditar mas que 'o gajo fez aquilo com toda a naturalidade' Quando amoleceram, cozinharam-nas. Sobraram umas quantas cruas (ou meio cozidas). Não foi outra vez de modas: voltou a congelar as que já tinham andado a tomar banho na banheira. 'O gajo é completamente maluco', contava o meu filho. Diz isto mas com afecto, gosta imenso do colega que é tão inteligente e tão fora do comum nas ideias que tem.
Mas, pelos vistos, as febras não lhes fizeram mal apesar daquele tratamento prévio no spa (e isto já não querendo questionar o estado de limpeza da banheira).
E, portanto, pensando bem, se as febras tomaram banho de imersão, é capaz de não ser nada de mais que uma couve tome banho de chuveiro (desde que não use de gel de banho, claro).
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E agora o momento musical do dia: que entrem os cânticos natalícios.
E agora o momento musical do dia: que entrem os cânticos natalícios.
Christmas in Heaven - Monty Python's The Meaning of Life
Miley Cyrus & Bill Murray - Let It Snow (A Very Murray Christmas)
Cin City Burlesque - Christmas in Heaven
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E, thanks God, finalmente, este Natal já não vai ser assim:
Embora, ainda que (felizmente!) por pouco tempo, tenhamos que aturar esta lástima que por aí anda a dizer coisas do além:
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E, por hoje, é isto. Vou descansar que já nem sei bem o que digo, já estou mais a dormir do que acordada e daqui a nada tenho que estar a pé. Olhem, vou mas é sonhar com a big couve a frequentar a minha banheira, quiçá até a tomar um revigorante banho de espuma antes de se atirar de cabeça ao belo do bacalhau.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quarta-feira muito feliz.
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6 comentários:
oh UJM, é tão simples tratar da couve sem molhar tudo. Faça como eu: separo as folhas, corto-as a meio e lavo-as. Até na pia as lava.
E, caso gostem de roupa velha:
Se sobrar batata, bacalhau e couve, corta tudo em bocadinhos, coloca num tacho, rega com bastante azeite, junta uns alhos picadinhos e guarda. No dia seguinte coloca o tacho ao lume e vai mexendo enquanto fervilha. É tão bom!
L (de Lurdes :-) )
Olá, UJM
Já me fartei de rir à custa da couve...
Feliz Natal e um Bom Ano Novo, cheio de Paz, Saúde, Alegria,...
Conceição Teixeira
Por aqui já se tratou da couve :)
Votos de um Feliz Natal, com muita paz, felicidade e Amor!
Beijinhos
Umas Boas Festas!
Beijinho
Salvou-me o dia. Bela cena. Acho bem..temos que ser práticos.(mesmo à pessoal do Técnico)
Bom Natal
Fez-me rir o episódio da couve :)
Feliz Natal!
Gábi
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