7.
De madrugada, depois da escuridão que tudo iluminou (mesmo o que nunca pensámos chegar a ver), toma-nos o medo de regressar ao conforto, ao aborrecimento, ao vazio assustador. A noite tem de ser prolongada para o dia não nos devorar a alma: "A noite dissolve os corpos, o dia dissolve a alma." Gosto muito de longos dias nocturnos.
9.
A arte será sempre a fricção entre o mundo interior e o mundo exterior. A capacidade de transformar esse conflito numa forma possível é o trabalho dos artista e dos poetas. Mas esse trabalho tem de ser feito segundo os valores mais antigos e eternos: "bravura, nobreza e entrega". Que ninguém se iluda, os covardes não têm acesso à Beleza.
13.
O Mundo dentro de uma gota de água. Uma casa, um jardim, uma montanha ao longe, tudo no interior de uma gota de água. Uma floresta dentro de uma catedral reconstruída até ao infinito. Escondo-me de mim próprio, procuro a beleza e a sabedoria.
35.
As árvores grandes e fortes têm raízes grandes e profundas; as árvores pequenas e fracas têm raízes pequenas e superficiais.
40.
A arte tem de ser uma declaração de amor. Tem de possuir, de cada vez que a visitamos, a emoção e o deslumbramento do primeiro olhar: a revelação, a emoção, a expectativa, a comunhão e a transformação, infinitamente.
44.
Neste mundo de banalização e consumo de imagens, quem acredita ainda no poder redentor da arte e da palavra? Não importa em que lugar a arte é apresentada: se houver uma pessoa, uma só pessoa, que seja tocada, que se emocione, uma única, a arte será salva.
46.
Um grande poeta, meu amigo, disse-me que as buganvílias não têm cheiro. Mas nós sabemos que tudo tem cheiro, até o vidro, os navios de espelhos e as flores-de-lis tatuadas no coração das donzelas. As buganvílias, quando fenecem e se apagam lentamente, libertam, no exacto momento em que a sua luz se extingue, um suave odor a rapariga adormecida na madrugada. Os poetas sabem o mundo todo, mas nem sempre têm razão.
11.
Tentar ser um homem puro e íntegro
Rui Chafes - Prémio Pessoa 2015 |
37.
Não existe nenhum prémio, nenhuma recompensa.
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"Tem 49 anos, nasceu em Lisboa e formou-se em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, em 1989. Estudou ainda na Kunstakademie, em Dusseldorf, Alemanha, e é um dos artistas portugueses contemporâneos com mais destaque internacional. Mas, para Rui Chafes, o seu currículo é bem mais simples de resumir: "Sou um mero artesão dessas vozes superiores que me dizem para fazer formas que não entendo", disse numa entrevista recente ao Expresso."
Rui Chafes já aqui esteve antes no Um Jeito Manso, 'entre o Céu e a Terra'. Os excertos numerados que acima transcrevi bem como o que se segue provêm todos do seu livro com esse nome.
Daqui envio os meus parabéns a Rui Chafes de cuja obra gosto mais do que muito.
E, para festejar o honroso Prémio Pessoa que lhe foi atribuído, que se junte a nós Lhasa de Sela:
Daqui envio os meus parabéns a Rui Chafes de cuja obra gosto mais do que muito.
E, para festejar o honroso Prémio Pessoa que lhe foi atribuído, que se junte a nós Lhasa de Sela:
O silêncio estático e apático que nos interroga através das imensas cortinas de água que toldam os nossos olhos; um sorriso que não é dirigido a ninguém. Passamos da escuridão à luz e da luz à escuridão. De cada vez, ficamos apavorados, com medo de abandonar o mundo que já conhecemos, de acabar, de chegar ao fim. Mas tudo é apenas uma passagem para outro universo, para um novo estado, um novo mundo, como nos explicou a longínqua voz de Lhasa de Sela.
El Pajaro - Lhasa de Sela
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[Esta minha sexta-feira foi um dia pesado. Mal dormida, a noite quase em branco, viagem a começar ainda de noite, boa na ida, na conversa, depois reunião longa, a seguir almoço alargado, quase de Natal, depois cerimónia com colaboradores com maior antiguidade de serviço, e, de novo, carro. Viagem para baixo ainda mais animada, conversa diversa com companhias novas, assuntos novos, a curiosidade da descoberta de outros mundos. Depois, já em Lisboa e já de noite, compras. Antes de entrar no shopping, uma espreitadela à galeria lateral do UJM e, num blog, talvez no Da Literatura, já não sei, a notícia do Prémio Pessoa para Rui Chafes. A seguir às compras, coisa até ligeira mas eu já à beira da exaustão, um frappé de manga e ananás no Mcdonalds e uma daquelas tartes de maçã quente (que nem me soube a plástico nem nada, de tal forma estava a precisar de recarregar baterias). Depois viagem até casa, com telefonemas à família pelo caminho, a saber se estava tudo bem. Finalmente, cá chegada, sapatos altos retirados, brincos, anéis, colares, tudo tirado, roupa trocada, um mergulho no sofá e um sono retemperador. Meia hora, se tanto, mas deu para refrescar a cabeça. Só depois, já tarde, jantar. E só depois computador, o blog, isto.
Não li jornais nem ouvi rádio. Estive a ver o Expresso da Meia-Noite enquanto escrevia mas foi conversa oca, balofa: não houve uma ideia que eu tenha retido. Continuo sem saber bem a quantas ando nem que voltas anda a dar o mundo longe do meu olhar.
Agora, voltei a ler os blogs aqui ao lado. Afinidades electivas. um sorriso que se me abre quando leio algumas palavras, a vontade que o meu sorriso chegasse até alguns desses 'amigos ou ilustres desconhecidos' cujas mãos escrevem palavras limpas, luminosas. Outras vezes sinto-me solidária. Outras, surpreendo-me. São companhias boas. Tivesse eu mais tempo e tantas vezes iria deixar palavrinhas de agradecimento junto de alguns.
Mas não dá. E agora, dado que o dia foi dose e que o sábado também promete, acho razoável deitar-me pouco depois da meia-noite. Por isso, por hoje, por aqui me fico]
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Lá em cima Catrin Finch & Seckou Keita interpretam Llongau Térou-bi
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.
Com beleza e afecto.
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3 comentários:
gostei muito da retrospectiva do chafes que vi na gulbenkian.
e é bom que o prémio tenha pela primeira vez premiado um escultor.
Bom dia. Bom post (como é habitual).
Um grande escultor. Muito bem entregue o Prémio Pessoa. Confesso que receava que quando (de novo) chegasse a vez de um artista plástico a eleita fosse a artista dos galos de Barcelos!
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Para quem tem bom gosto e aprecia o "despique" musical entre harpa, a de de Catrin Finch, e kora. o de Seckou Keita, e andada distraído/a informa-se que os dois tocarão no Grande Auditório da FCG dia 17 Fevereiro 2016*. Eu já comprei bilhetes!
http://www.musica.gulbenkian.pt/cgi-bin/wnp_db_dynamic_record.pl?dn=db_musica_season_2015_2016_en&sn=musicas_do_mundo&orn=93
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