segunda-feira, novembro 16, 2015

Imaginemos que o mundo não é um lugar perigoso. E tentemos que o não seja - apesar de o ser cada vez mais.


Enquanto escrevo, vejo na televisão que Ismael Omar Mostefai -- francês, de 29 anos, um dos terroristas que perpetrou, a eito e com a maior das calmas, uma carnificina, filho de pai argelino e mãe portuguesa, com quatro irmãos, empregado numa padaria -- era uma pessoa recatada, alegre, com mulher e filha, e que ninguém alguma vez desconfiou de algum indício de alguma coisa de estranho. 


Há uns 4 ou 5 anos, sem que se tenha, então, percebido porquê, supostamente terá optado por radicalizar a sua atitude perante a vida. Terá estado na Síria há um ou dois anos.

E é tudo isto que inquieta: a frieza que, nestes casos, se abate sobre algumas pessoas (que até então todos julgavam ser pessoas afáveis e amistosas) tornando-as despegadas da vida, com vontade de destruir e sem medo de ser, no acto, destruídas. Porque acontece isto? A infância ou a adolescência passadas num meio pobre, talvez a experiência de algum racismo, poderão explicar que o coração se feche desta maneira?

Ou não é isto? É outra coisa? Revolta, desejo de vingança? São pessoas facilmente manipuláveis? Estão a ser instrumentalizadas por outros mais fanáticos que eles?

Agora uma coisa é certa e é importante que nos fixemos nisto: Ismael não era um refugiado sírio -- era um francês enquadrado na sociedade. 

Muito difícil,pois, deve ser controlar estas situações, evitar as mortandades que um qualquer jovem possa entender levar a cabo. Mas, apesar do medo*, a única resposta possível é a união contra o terror, é a firmeza na defesa da democracia e da liberdade. E da inclusão.

Imaginemos que o mundo é um lugar onde é bom viver. E façamos por isso, façamo-lo com todas as nossas forças, sem reacções imediatistas, sem futilidades, sem emoções estéreis e efémeras.
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David Martello estava a ver o jogo França-Alemanha no pub Konstanz na Alemanha quando soube dos atentados. Resolveu, de imediato, fazer qualquer coisa com algum simbolismo. Conseguiu transporte para o seu piano, cerca de 650 km, e fez os últimos metros puxando-o com uma bicicleta até à rua Richard Lenoir, a dez metros do Bataclan, o teatro que na noite de sexta-feira foi palco de um dos mais sangrentos ataques terroristas em Paris. De seguida, sentou-se e começou a tocar Imagine de John Lennon. Quem por ali andava, acercou-se e ficou a ouvi-lo.



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Como forma de homenagear as vítimas dos atentados de Novembro, sexta feira 13, a orquestra do Metropolitan Opera de New York, dirigida por Placido Domingo, inesperadamente, tocou neste sábado "La Marseillaise".



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Por todo o lado, as capas de jornais e revistas mostram ou o pânico ou a vontade de lhe reagir.



Do mesmo modo, as ruas enchem-se de orações e solidariedade.






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E, por todo o mundo, os principais monumentos ou edifícios emblemáticos reflectiram as luzes francesas. Em Portugal também, claro.

Teatro Rivoli no Porto

Torre de Belém em Lisboa
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Sobre o medo que nos tolhe perante alertas de ameaças terroristas, já aqui o contei.

Por razões inadiáveis estive por duas vezes em Paris em alturas de ameaças de ataques terroristas.

Sei bem o medo que sentia quando tinha que estar em lugares que pensava poderem ser alvos preferenciais ou a inquietação que sentia quando via grupos de polícias, movimentações estranhas.

Estava também em Barcelona num dia em que houve um ataque bombista, com as ruas atravessadas por carros de polícia, com a população ansiosa, com informação difusa sobre por onde se podia circular. Imagino o que será viver debaixo do medo todos os dias e não apenas quando se está na condição de turista, mesmo que turista acidental.

Mas bem pior, muito, muito pior, será viver debaixo de constantes ataques de morteiros, de mísseis, com as casas destruídas, com as ruas desfeitas, com a família desfeita. Sem tecto, sem raízes, sem esperança num amanhã de paz.

Portanto, nunca confundamos as causas com os efeitos, os culpados com as vítimas. E saibamos ser firmes todos os dias: não apenas nos dias de grande comoção colectiva.

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Raid aérien français sur Raqqah en Syrie



Ce soir à 19H50 et 20H25 (heure française), une dizaine d’aéronefs français de la force Chammal ont frappé et détruit, lors d’un raid, un centre de commandement et un camp d’entraînement de Daech situés à Raqqah en Syrie.


[Chaîne officielle de l'état-major des armées]


Acabo, entretanto, de ouvir que França atacou, neste domingo, alvos do ISIS na Síria.
130 pessoas terão já morrido. Quid pro quo?
Hollande avisou: a França está em guerra.

Dez caças franceses lançaram esta noite 20 bombas sobre Raqqa, no Norte da Síria, que o Estado Islâmico tornou na sua capital, anunciou o Ministério da Defesa de Paris, no que está a ser visto como uma resposta aos atentados de sexta-feira na capital francesa, que o Presidente François Hollande tinha classificado como “um acto de guerra, cometido por um exército terrorista.”
E eu não sei se, com esta ofensiva, o mundo fica mais ou menos perigoso. Mas tomara que menos.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana, a começar já por esta segunda-feira.

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2 comentários:

Rosa Pinto disse...

Bom post. E é isso mesmo ...não confundir. ..nada justifica... A vida nesse cenário de guerra...de stresse constante. ..traumas e descontrole emocional...terrível. ..não consigo imagina.

Mar Arável disse...

Até um dia os inocentes abrirem os olhos

em vida