Entretanto, a vida não era fácil. O Inverno decorria tão frio como o anterior e a comida era ainda mais escassa. Mais uma vez, todas as rações foram reduzidas, excepto as dos cães e porcos. Uma igualdade demasiado rígida nas rações, explicou Squealer, seria contrária aos princípios do Animalismo. De qualquer modo, não teve dificuldade em provar aos outros animais que, na realidade, não havia falta de comida, apesar das aparências. Na verdade, agora fora considerado necessário fazer um reajustamento nas rações (Squealer falava sempre em 'reajustamento', nunca em 'redução'), mas, em comparação com o tempo de Jones, o progresso era enorme.
Lendo-lhe números, em voz rápida e esganiçada, provou com pormenores que tinham mais aveia, mais feno, mais nabos do que no tempo de Jones, que trabalhavam menos horas, que a água que bebiam era de melhor qualidade, que viviam mais tempo, que a mortalidade infantil era menor, que tinham mais palha nos estábulos e sofriam menos com as pulgas. Os animais acreditavam em tudo. Em boa verdade, Jones e tudo o que ele representava quase desaparecera das suas memórias. Sabiam que a vida agora era dura e triste, que muitas vezes tinham fome e frio e que, quando não estavam a dormir, estavam sempre a trabalhar. (...)
De algum modo, parecia que a quinta enriquecera sem que os animais se tornassem mais ricos - exceptuando, claro, os porcos e os cães. (...)
Um dia (...) os animais tinham terminado o trabalho e regressavam aos edifícios da quinta, quando se ouviu, vindo do pátio, o terrível relincho de um cavalo. Era a voz de Clover. Relinchou de novo e todos os animais desataram a correr, precipitando-se para o pátio. Viram, então, o que Clover tinha visto.
Era um porco andando sobre as patas traseiras. Sim, era Squealer. (...)
Fez-se um silêncio de morte. Espantados, aterrorizados, todos muito juntos, os animais observavam o longo cortejo de porcos marchando vagarosamente pelo pátio. Era como se o mundo se tivesse virado de pernas para o ar. Depois, passou o primeiro choque e, apesar de tudo - apesar do terror dos cães e do hábito, desenvolvido ao longo dos anos, de nunca se queixarem, nunca criticarem, acontecesse o que acontecesse - poderiam ter pronunciado algumas palavras de protesto.
Mas, precisamente nesse momento, como que a um sinal, todos os carneiros desataram a balir altíssimo:
- Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor!
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O texto que leram é composto por excertos de 'O triunfo dos porcos' ('Animal Farm' no original) de George Orwell, publicado em 1945 e reportando-se a circunstâncias que não as que se verificam no Portugal de hoje. Contudo, vá lá saber eu porquê, ocorreu-me trazê-lo aqui, neste início de campanha eleitoral.
Algumas das imagens foram pescadas na net sem que eu saiba a sua proveniência original enquanto outras provêm do saudoso We Have Kaos in the Garden.
Algumas das imagens foram pescadas na net sem que eu saiba a sua proveniência original enquanto outras provêm do saudoso We Have Kaos in the Garden.
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Muito gostaria de vos convidar a descerem até ao post seguinte onde partilho um vídeo interessante e que bem poderia merecer a atenção de todos nós. Fala das razões da impensável crise europeia com os refugiados a invadirem as cidades, dos desmedidos riscos que corremos (ou não), dos deveres que sentimos (ou não).
E hoje gostaria também que me visitassem no meu outro blog, o Ginjal e Lisboa, onde canto a abundância da minha impiedade, levada pela mão de Catarina Mendes de Almeida ao som de Dvořák.
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E hoje gostaria também que me visitassem no meu outro blog, o Ginjal e Lisboa, onde canto a abundância da minha impiedade, levada pela mão de Catarina Mendes de Almeida ao som de Dvořák.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça-feira.
Be happy.
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6 comentários:
Se as sondagens corresponderem minimamente à verdade,
só uma pergunta me ocorre: que povo é este?
Vou levar a imagem em que Passos Coelho está a falar...aos porcos?!!!
Bj.
Irene Alves
As sondagens de tão fracas cientificamente não podem espelhar o sentimento de um povo...o que eu digo é que nas ruas vê-se uma coligação sem ninguém, fechada em espaços pequenos...
Ainda mantém a previsão dos resultados eleitorais???
Muito bem visto, com uma excelente montagem de texto e imagens. Aliás, como é seu timbre, transparece em todos os seus textos uma lucidez e uma visão que parece ir faltando aos nossos compatriotas ou, pelo menos, a todos aqueles que mostram uma percentagem de 40 % a favor do Pafalhão nº 1, o mentiroso compulsivo, o manipulador exímio, este homem banal, vulgar e incompetente que só veio acentuar a nossa desgraça, enxovalhando os valores que demoraram 40 anos a construir e solidificar.
Bem haja
António Melo
Li, já há muitos anos, o livro de George Orwell, Animal Farm. Extraordinário! Subscrevo as palavras de António Melo. E, tal como a Leitora Irene Alves, se o PaF ganhar é caso para nos perguntarmos que raio de eleitorado é este. Tenho, todavia, a exemplo de muitos outros, alguma dúvidas sobre estas sondagens e animam-me os enganos do que que se passou, por exemplo, antes, no Reino Unido, quando diziam que os Trabalhista e Conservadores estavam juntos e depois foi o que se viu e do mesmo modo com o sucedido na Grécia, este fim de semana, cujo empate era afinal um erro total. É preciso não esquecer que a comunicação social hoje está nas mãos da Direita, desde pasquins como o Sol, CM, até ao Expresso, Observador (media on-line), Sábdo, etc. E depois, as pessoas reagem aos telefonemas de sondagens com algum receio e acabam por responder aquilo que não sentem. Pode ser que esteja enganado, mas, sinceramente, custa-me a acreditar que o povo vote na coligação para lhes dar uma vitória. Mas, quem sabe! A falta de informação, o desinteresse político, ou desconhecimento, da generalidade das pessoas é muito evidente. Ainda hoje, quando resolvi vir de comboio uma vez mais, em vez de carro, pude ouvir dois jovens, rapariga e rapaz, a queixarem-se dos salários de miséria que recebiam, ambos licenciados, a terem de fazer horas extraordinárias que não lhes pagam e a aceitarem tudo aquilo com resignação, sem sequer questionarem essa situação injusta. Ao lado deles seguiam duas outras jovens, amigas, que nunca trocaram palavra alguma, ocupando todo o tempo a "teclarem" nos respectivos telemóveis. E assim, esta malta acaba por ser presa fácil da canalha que nos desgovernou 4 anos e se prepara para a destruição final, se lhes derem mais outros 4!
P.Rufino
Saberá o que anda a fazer este Coelho? Agora até se enganou naquela do reembolso. Que o povo não se engane no dia 4.
A Todos,
Agradeço as vossas palavras.
Mas agora em particular ao Nuno,
Respondo-lhe no post que acabei de escrever. Mas, caso não queira ir lá ler: sim, mantenho as minhas previsões. É cá um feeling meu. Não antecipo nenhuma vergonha nacional nem motivos para me fechar na despensa, às escuras, a curtir um desgosto de todo o tamanho. Acho que no dia 4 à noite vou respirar de alívio e atirar foguetes para a janela.
Um abraço a todos!
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