sábado, setembro 12, 2015

Os dias do abandono


Para A.





Separei tranquilamente a roupa branca dos tecidos de cor e pus a máquina em funcionamento. Queria ter a certeza chã dos dias normais, embora soubesse bem demais que persistia no meu corpo um movimento frenético noutro sentido, um relâmpago, como se tivesse entrevisto no fundo de uma cova um horrível insecto venenoso e todas as partes de mim própria continuassem tomadas ainda de um impulso de recuo, agitando os braços, escouceando. Tenho de reaprender - disse para comigo - o passo tranquilo dos que pensam saber para onde estão a ir e porquê.

(...)


Tomei um duche, arranjei-me cuidadosamente, pus um vestido que me ficava bem e fui tocar à porta de Carrano.




Senti-me observada pelo óculo, demoradamente: imaginei que ele estivesse a tentar acalmar as pulsações do coração, que quisesse apagar do rosto a emoção que a minha visita inesperada lhe causava. 

Existir é isto, pensei, um sobressalto de alegria, uma pontada de dor, um prazer intenso, veias que fremem sob a pele, e não há outra verdade que se possa contar.



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Os excertos (não sequenciais) pertencem a Os Dias do Abandono do livro Crónicas do Mal de Amor de Elena Ferrante.

Fotografei os troncos de árvores aqui, in heaven

Joana Gama interpreta Für Alina de Arvo Pärt

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E permitam que vos convide a seguir até ao post abaixo onde, num outro comprimento de onda, sugiro que a nossa Presidenta, a Srª Dona Cavaca, siga os passos da Madama Sarkozy, a versátil Carla Bruni. E a seguir ainda tenho a Cate Blanchett em Sì
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.

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